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‘Magic Mike’ comprova: chegou a vez do homem-objeto

Muitos homens, hoje, assumem roupas e comportamentos que antes eram restritos a mulheres e gays, como o ‘desejo de ser desejado’

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 ago 2015, 22h07

O longa Magic Mike XXL, em cartaz desde a semana passada, não é apenas a continuação de Magic Mike, o filme de Steven Soderbergh que surpreendeu crítica e público em 2012 ao mostrar um grupo de bonitões seminus rebolando para seduzir mulheres. Ele também capta uma transformação no comportamento masculino: para muitos homens heterossexuais, a fronteira entre parecer hétero e parecer gay se tornou mais tênue. O principal motor desse comportamento, nas palavras do britânico Mark Simpson, criador do termo metrossexual, é o “desejo de ser desejado”. Sim, senhor: chegou a vez do homem objeto, disposto a se cuidar e se expor para angariar elogios. De mulheres e de outros homens.

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A imprensa americana até já cunhou um termo para a nova fase que vive a masculinidade: “stromo”, uma fusão entre straight (hétero) e homo (gay). A palavra é citada dez vezes em uma matéria da revista The Hollywood Reporter sobre os atores hollywoodianos que não fazem mais questão de parecer viris – e, pelo contrário, chegam a gostar de ser confundidos com gays. São muitos, e podem ser vistos na capa de revistas gays (como já fez Keanu Reeves, que, aliás, pode estar namorando uma atriz transgênero), especulando com que outro ator sairiam se gostassem de homens (Daniel Radcliffe escolheu o bonitão Ryan Gosling) e até em desfiles de Parada Gay (como fez o ex-stripper Channing Tatum, em Los Angeles, para promover o novo Magic Mike nos Estados Unidos).

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O caso mais recente dessa abertura de atores heterossexuais para comportamentos antes atribuídos somente a mulheres e gays se deu na última terça-feira, quando foi ao ar o vídeo da bem-humorada campanha em que Kevin Bacon pede mais nudez masculina no cinema. “Nós queremos ficar pelados”, diz Bacon no comercial, capciosamente intitulado de “Free the Bacon” (“Libere o Bacon”, em tradução direta). “Há mulheres nuas demais. Não é justo com os homens.” O caso é exemplar do “desejo de ser desejado” de que fala Mark Simon, para quem a mudança atual é um passo adiante na detectada por ele em 1994, ano em que cunhou a expressão “metrossexual” para designar o homem que não tem pudores de se depilar ou usar cremes para cuidar da pele.

“Os jovens hoje tomam a metrossexualidade por algo normal”, diz Simpson. “Além disso, eles vivem em uma era de grande exposição, em que todos tiram selfie e buscam curtidas no Instagram e no Facebook.” Para ele, a mudança na postura dos atores de Hollywood é uma dupla estratégia de marketing: eles se mostram politicamente corretos, mas também atraentes para todo tipo de público. “Na verdade, eles se apresentam como se fossem bissexualmente disponíveis. Parecer gay torna um ator mais interessante, mais quente.”

No Brasil, um exemplo comprovado de ator que se beneficiou de uma imagem gay é o de Marcello Mello Jr., o Ivan de Babilônia. Desde que a novela das nove foi ao ar, na Globo, o ator viu seu número de seguidores crescer 50% no Instagram, segundo dados da empresa especializada Spark Inc. – e isso apesar de toda a controvérsia sobre o beijo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. “Outro caso interessante foi o da campanha de Dia dos Namorados do Boticário, que mostrou casais gays no comercial e recebeu o apoio espontâneo de diversas personalidades nas redes sociais”, diz Rafael Coca, sócio-diretor da Spark Inc., que tem entre seus sócios o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Procurado, o Boticário não quis passar dados sobre o reflexo de sua campanha em vendas ou nas redes sociais.

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Ainda sobre campanhas, a ação de Kevin Bacon também deve ser situada dentro da discussão sobre o lugar da mulher dentro da indústria do cinema, que ganhou novo fôlego desde que a atriz Patricia Arquette aproveitou seu discurso de vencedora do Oscar de coadjuvante por Boyhood, neste ano, para insuflar um debate que é antigo, mas andava quase adormecido. Avanço feminino e liberação masculina são duas partes de uma mesma peça. “Quando falamos de gênero, falamos sempre de categorias em construção. Nos últimos anos, vêm surgindo novas formas de gênero. Toda a história da conquista dos direitos LGBT e das mulheres, em especial desde a década de 1970, está modificando a sociedade. Valores levam a direitos, mas direitos também levam a valores”, diz a professora Carla Regina Diéguez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Nesse sentido, a saída dos transgêneros do armário – representados por celebridades como Caitlyn Jenner, nos Estados Unidos, e Thammy Miranda, no Brasil – é um combustível e tanto para a mudança. O que significa para um homem usar uma gola em “V” quando há outros adotando vestidos e mudando de sexo?

Não à toa, a camiseta de gola em “V” é apenas uma das muitas peças que migraram de guarda-roupa. “Roupas mais justas e mais curtas, que deixam o corpo mais em evidência, e peças mais coloridas, que fogem do tradicional até mesmo no caso dos ternos, têm ganhado espaço entre os héteros”, diz Andressa Nóbrega, professora do curso de Design de Moda da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). “Acho que o homem está mais livre, ele está conseguindo usar uma roupa que vá expressar mais como ele se sente.”

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Há também interesses econômicos nessa mudança, conta Andressa. A aproximação, no figurino, de homens e mulheres, é um facilitador financeiro para grifes e lojas, que podem atender a um público mais amplo com a mesma modelagem. “É fácil ver isso nas calças, que estão ficando mais justas para os dois”, exemplifica a professora. “Muitas lojas hoje trabalham com peças unissex.” Se depender da economia, ainda mais da brasileira, os homens tendem a ser cada vez mais material boys.

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