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‘Mad Max’ é alegoria do presente, em que poucos controlam muito, diz diretor

O site de VEJA conversou com o cineasta George Miller e os atores Tom Hardy e Charlize Theron, estrelas do ótimo ‘Mad Max: Estrada da Fúria’, que teria sido uma abertura muito mais impressionante para o Festival de Cannes do que ‘La Tête Haute’, com Catherine Deneuve

Por Mariane Morisawa, de Cannes
15 Maio 2015, 11h07

Nas mãos de um cineasta menos hábil, duas horas de uma grande perseguição de carros no deserto poderia ser um tédio só – tem cena de ação com metade do tempo em blockbusters como Vingadores: Era de Ultron, de Joss Whedon, e O Homem de Aço, de Zack Snyder, que provoca nada mais do que bocejos. Mas George Miller não é um diretor qualquer. Aos 70 anos, o australiano coloca gente com metade de sua idade no chinelo com Mad Max: Estrada da Fúria, retomada do personagem criado em 1979 e imortalizado por Mel Gibson em três produções. O longa-metragem, que estreia agora no Brasil, é o filme imprescindível da temporada, um blockbuster que desafia todas as convenções dos blockbusters. A produção é exibida fora de competição no 68º Festival de Cannes – a sessão de gala aconteceu na noite desta quinta, com a presença do diretor e de seus atores principais, Tom Hardy, Charlize Theron e Nicholas Hoult. É uma pena a oportunidade perdida. Mad Max: Estrada da Fúria teria sido uma abertura muito mais impressionante do que La Tête Haute, de Emmanuelle Bercot.

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O próprio George Miller define a história como uma possível leitura do presente – algo que pode ser considerado, portanto, necessário. “É uma história atemporal. É como se o futuro fosse uma volta à Idade Média, mas também dá para ser uma alegoria da atualidade, em que poucos controlam todos os recursos”, disse Miller. Foram 30 anos entre o último Mad Max (Além da Cúpula do Trovão) e Estrada da Fúria. “O mundo se transformou muito. O cinema, também. Hoje nós fazemos uma leitura dinâmica dos filmes. ‘Mad Max 2 – A Caçada Continua’ teve 1.200 tomadas. Aqui temos 2.700”, disse George Miller, em mesa redonda perto de Cannes, quando definiu a nova aventura como uma “revisita”. Em suas duas horas de duração, não há espaço para respiros. Mas são tantos os detalhes naquele mundo, com cenas de ação tão inventivas, que não há momentos de tédio ou cansaço. Foi um bocado diferente a experiência dos atores durante os sete meses de filmagem no deserto na Namíbia. O filme originalmente seria rodado na Austrália, mas o deserto ficou cheio de flores, pelicanos e sapos depois da primeira chuva em 15 anos, bem longe do cenário ideal para um filme pós-apocalíptico, o que adiou a rodagem por 18 meses. “Foi difícil de fazer. Tedioso, incessante. Estávamos mergulhados naquele universo. Não dava para escapar”, contou Charlize Theron.

Filmes de ação candidatos a blockbuster costumam demorar muitos meses para serem rodados, mas no caso de Mad Max: Estrada da Fúria havia uma razão a mais: George Miller queria usar o mínimo de efeitos de computação gráfica. Quando um carro capota no filme, é porque ele capotou de verdade no deserto. Quando Max está pendurado de ponta-cabeça do lado de fora do caminhão, é porque Tom Hardy esteve mesmo suspenso por dois cabos. A vantagem é que hoje, ao contrário da década de 1970, dá para apagar os cabos – na época de Mel Gibson, não era possível fazer esse tipo de cena. “Sempre fui fascinado pela tecnologia. Esperamos quase sete anos quando tivemos o roteiro do primeiro Babe – O Porquinho Atrapalhado para obter a tecnologia necessária para fazer os animais falarem. Mas as ferramentas precisam ser adequadas à história”, afirmou Miller. “Em um filme em plena luz do dia, não dá para enganar com muitos efeitos digitais.” Tom Hardy confessa que só conseguiu entender a visão do cineasta depois de ver o filme, de tantos elementos que havia nas gravações. “Nossa experiência no deserto foi muito diferente do que vi na tela”, disse o ator inglês. “George queria fazer tudo da maneira antiga. Eram mais de 90 dublês e 50 carros. Teve um cara que perdeu todos os dentes. Mas todos estão andando, está tudo bem.”

Outra subversão do novo longa é que Max não é exatamente o protagonista da história. “Os homens são minoria. George queria criar a maior heroína dos filmes de ação da história. Ele quer virar do avesso cada convenção dos blockbusters. Tem 70 anos e é mais contemporâneo do que gente com metade de sua idade”, disse Hardy. Mas, ao contrário de algumas heroínas duronas do cinema, Furiosa jamais deixa de ser uma mulher. “Furiosa é tão boa no que faz que as pessoas esquecem o fato de ela ser uma mulher”, afirmou Theron. A origem da personagem não está no filme, o que não deixa de ser outra subversão da convenção das refilmagens e “revisitas” atuais. Ela foi raptada quando criança para ser uma das parideiras de Immortan Joe, mas é estéril e por isso foi descartada. “Uma mulher descartada por não ser uma mulher quase se torna mais mulher. No fim, é uma celebração da feminilidade”, acrescentou Theron, que sugeriu raspar a cabeça para viver a personagem. Nem assim ela ficou masculinizada. “É uma questão de postura. Uma amiga minha acabou de passar por uma ameaça de câncer, precisou fazer quimioterapia, perdeu todo o seu cabelo e ficou mais feminina do que nunca.” Até as mulheres de Immortan Joe, supostamente suas vítimas, têm dimensões e personalidades diferentes. Não precisa muito para considerar o filme feminista, um alento em tempos em que Hollywood é acusada de machismo.

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‘Il Racconto dei Racconti’, de Matteo Garrone

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Depois de estourar com Gomorrah e Reality, o diretor italiano volta-se para os contos de fadas, adaptando histórias de Giambattista Basile (1566-1632), que reuniu algumas das primeiras versões de Rapunzel e Cinderela. No elenco, Salma Hayek, Vincent Cassel e John C. Reilly. É o primeiro filme do cineasta falado inglês.

The Lobster
The Lobster (VEJA)

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‘Irrational Man’, de Woody Allen

Emma Stone faz seu segundo trabalho em sequência com o veterano diretor nova-iorquino, com quem já rodou Magia ao Luar (2014). Ela é a estudante por quem um professor de filosofia em crise existencial (Joaquin Phoenix) se apaixona, encontrando propósito na vida. O longa-metragem foi rodado na pitoresca Newport, no Estado de Rhode Island. 

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‘Mia Madre’, de Nanni Moretti

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O italiano Nanni Moretti gosta de usar elementos autobiográficos. Em Mia Madre, usa a experiência de perder sua mãe durante as filmagens de Habemus Papam (2011) como a inspiração para a cineasta Margherita (Margherita Buy), que tenta levar adiante seu longa de fundo político enquanto cuida da mãe e lida com um astro complicado (vivido por John Turturro).  

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‘Carol’, de Todd Haynes

Baseado em um romance de Patricia Highsmith, mostra a história da jovem Therese (Rooney Mara) que se apaixona por Carol, uma mulher casada e mais velha (Cate Blanchett), na Nova York dos anos 1950. Kyle Chandler (Bloodline) interpreta o marido de Carol. Entre Eu Não Estou Lá (2007) e Carol, Todd Haynes fez a minissérie Mildred Pierce

Sicario
Sicario (VEJA)

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‘Youth’, de Paolo Sorrentino

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Em seu segundo filme falado em inglês – o primeiro foi Aqui É o Meu Lugar, com Sean Penn –, o italiano Paolo Sorrentino mostra dois velhos amigos, o compositor e maestro Fred (Michael Caine) e o cineasta Mick (Harvey Keitel), em férias num hotel nos Alpes. Paul Dano, Jane Fonda e Rachel Weisz também estão no elenco. 

Love
Love (VEJA)

Macbeth
Macbeth (VEJA)

Na trama, Max Rockatansky, agora interpretado por Tom Hardy, continua sua luta pela sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico, assombrado pelos fantasmas das pessoas que não conseguiu salvar – sua família, inclusive. Capturado pelo senhor da guerra Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne, o mesmo ator que fez Toecutter no primeiro Mad Max), acaba amarrado à frente de um carro e lançado em uma perseguição a Imperator Furiosa (Charlize Theron), uma guerreira, ás da mecânica e do volante que raptou as cinco mulheres de Joe, encarregadas de gerar filhos humanos inteiramente saudáveis. Joe manda seus meninos da guerra, como Nux (Nicholas Hoult), que não temem se sacrificar para ter seu lugar no paraíso, atrás de Furiosa.

Em Mad Max: Estrada da Fúria, as mulheres também escapam de seu inevitável papel em filmes do tipo, o de vértice de triângulos amorosos ou namorada e pretendente dos verdadeiros heróis – até a Viúva Negra, afinal, caiu nessa. “Se você está contando uma história em que os desafios são tão grandes, há uma série de regras, mas os cineastas se esquecem disso às vezes”, disse Charlize Theron. “Você não pode dizer que eles não podem parar para descansar senão morrem e aí fazer os personagens pararem na estrada para fazer sexo.” Max e Furiosa são dois guerreiros em pé de igualdade que, com o tempo, desenvolvem uma relação de respeito.

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Assim como o passado de Furiosa nunca fica explícito, o filme também não se preocupa muito em explicar aquele mundo nem Max. É como se “Estrada da Fúria” começasse no meio, com a ação em quinta marcha. Os diálogos são esparsos. Não há grandes justificativas psicológicas para o comportamento dos personagens. Nada disso faz falta. São duas horas de ação ininterrupta, mas isso não significa que são duas horas de ação descabeçada, sem profundidade. George Miller construiu um mundo cheio de detalhes, em que os paralelos com o presente são inevitáveis, com guerras por combustível e água e garotos dispostos a morrer para conquistar um lugar num paraíso cheio de virgens. Tom Hardy contou que teve altas conversas com o diretor sobre filosofia e história. “George queria fazer um filme de ação cheio de camadas sobre o qual meditou por uns 30 anos. Ele pensou em cada detalhe.

Com as críticas quase unanimemente positivas, falta a aprovação vinda da bilheteria – inclusive para considerar a possibilidade de fazer outros. Mas George Miller já conseguiu um elogio importante: o de seu amigo Mel Gibson, que apareceu de surpresa na pré-estreia do filme, em Los Angeles. “Ele se divertiu, me dava cutucões, risadas. Amou. Significou muito para mim, porque é um grande cineasta e amigo. Ele é um bom homem, lutando contra seus demônios”, disse Miller.

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