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Licença para matar

Claire Foy mais uma vez brilha, agora com uma encarnação à moda de James Bond da hacker Lisbeth Salander em 'Millennium — A Garota na Teia de Aranha'

Por Isabela Boscov Atualizado em 9 nov 2018, 07h00 - Publicado em 9 nov 2018, 07h00

Até pintada para a guerra Lisbeth Salander está. Impassível, e com os olhos manchados de tinta branca, ela suspende o agressor pelos pés, espera a mulher agredida fugir e avisa: sempre vai saber onde ele está e o que fez; melhor, então, não fazer de novo. Não se trata de bravata. Em Millennium — A Garota na Teia de Aranha (The Girl in the Spider’s Web, Estados Unidos/Inglaterra/Alemanha/Suécia/Canadá, 2018), já em cartaz no país, a hacker Lisbeth não apenas é capaz de descobrir o paradeiro de qualquer um, em qualquer momento, como antecipa os movimentos dos adversários. Desloca-se de maneira quase miraculosa e esconde-se, também, com a mesma facilidade com que expõe os outros.Tem sempre à mão a arma, o veículo e o equipamento de que precisa. Lis­beth, em suma, virou James Bond, algo que desde os créditos de abertura o diretor uruguaio Fede Alvarez deixa bem claro. Na prática, assim, a inglesa Claire Foy, a estupenda Elizabeth II da série The Crown, acaba de passar a perna nos produtores de 007, que ainda não se decidiram por um sucessor para Daniel Craig: à parte coroarem Idris Elba como o primeiro Bond negro, não lhes resta nenhum lance tão provocador quanto este, o de uma mulher que se dá licença para matar.

Claire é a terceira atriz, depois da sueca Noomi Rapace e da americana Rooney Mara, a assumir a criação do escritor sueco Stieg Larsson (1954-2004), e é a melhor delas. Vítima de abusos tenebrosos que determinaram seu feitio antissocial, Lisbeth põe a inteligência, a aptidão tecnológica e os próprios traumas a serviço de uma missão — punir homens que maltratam mulheres. É uma personagem sombria, sempre. Com Noomi, tinha algo de estridente; com Rooney, um tanto de opaca. Com Claire, por contraste, adquire até um certo senso de humor, ainda que bastante enviesado.

A atriz inglesa também joga melhor em equipe, valorizando o trabalho de Stephen Merchant como o criador de um artefato de potencial apocalíptico, o de Sverrir Gudnason (de Borg vs. McEnroe) como o jornalista Mikael Blomkvist e o de Sylvia Hoeks como — melhor não dizer. Apesar de ter entre seus autores Steven Knight, o criador da série Peaky Blinders, o roteiro resulta em geral tão esquemático quanto o intento de propor uma versão feminina de Bond. Mas Claire, com seu talento fenomenal para exprimir a um só tempo grande força e mágoas em carne viva, alia-se ao dinâmico e inesperadamente sensível Alvarez para reapresentar Lisbeth como alguém que desperta, no espectador, o desejo de criar um vínculo com ela. Não há nada de que essa moça não seja capaz, mesmo.

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608

 

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