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Kleber Mendonça Filho pede exoneração da Fundaj

Cineasta de ‘Aquarius’ afirmou que não conseguiria conciliar seu trabalho na instituição com suas atividades no cinema

Por Da redação
7 out 2016, 21h36

O cineasta Kleber Mendonça Filho pediu exoneração do cargo de coordenador de cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) após dezoito anos de trabalho na instituição. Em sua carta de exoneração, enviada ao presidente do órgão, Luiz Otávio Cavalcanti, o diretor de Aquarius e O Som ao Redor afirma que não conseguiria conciliar seu trabalho na Fundaj com suas atividades no cinema.

“A decisão, que vinha sendo pensada já há quase dois anos, vem num momento particular da minha carreira como cineasta, carreira esta que sempre correu paralelamente às minhas funções nesta instituição, começando com meus filmes de curta-metragem e chegando às minhas três produções em longa-metragem. Neste ano de 2016, com novos projetos de realização em cinema no Brasil e no exterior materializando-se, vejo que equilibrar minha função fixa e diária na instituição com minhas produções torna-se finalmente inviável”, disse Mendonça Filho na carta, divulgada na íntegra no site da Fundaj.

Cavalcanti respondeu a carta no site oficial da instituição e agradeceu ao cineasta pelo trabalho feito na Fundaj. “Respeito a decisão do cineasta Kleber Mendonça Filho, de entregar o cargo por considerar este um ato pessoal. O mesmo respeito com que trato a decisão de Kleber Mendonça, de permanecer no cargo durante os cinco meses da atual gestão . Agradeço ao cineasta pelo trabalho realizado na instituição e na promoção do Cinema da Fundação e desejo sucesso nessa nova etapa profissional”, disse.

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Confira abaixo, na íntegra, a carta de exoneração de Kleber Mendonça Filho:

Caro Luiz Otávio

Venho, com esta carta, pedir meu desligamento da Fundação Joaquim Nabuco, onde desempenhei, com enorme prazer, e ao longo de 18 produtivos anos, a coordenadoria do Cinema da Fundação.

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A decisão, que vinha sendo pensada já há quase dois anos, vem num momento muito particular da minha carreira como cineasta, carreira esta que sempre correu paralelamente às minhas funções nesta instituição, começando com meus filmes de curta-metragem e chegando às minhas três produções em longa metragem.

Nesse ano de 2016, com novos projetos de realização em cinema no Brasil e no exterior materializando-se, vejo que equilibrar minha função fixa e diária na instituição com minhas produções torna-se finalmente inviável. Curiosamente, foi em 1992, na Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, que eu mostrei publicamente pela primeira vez um filme meu, na época feito em vídeo.

Nesses 18 anos, também desempenhei o papel de crítico de cinema do Jornal do Commercio e escrevi para a Folha de S. Paulo. Toda essa atividade no campo do cinema e da cultura, de alguma forma, somava no sentido de dirigir de um setor que sempre teve como missão abrir espaço para o audiovisual numa instituição tão forte e respeitada como a Fundação Joaquim Nabuco.

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Eu conheci a Fundação Joaquim Nabuco na infância, através da minha mãe, Joselice Jucá, que foi diretora do Cehibra e do Departamento de História. Em 1998, três anos após sua morte prematura, vim, como repórter de cultura do Jornal do Commercio, entrevistar a então Diretora do então Instituto de Cultura, Silvana Meireles, sobre o que, na época, era uma aquisição recente de equipamentos de som e projeção 35mm para o auditório José Carlos Cavalcanti Borges.

A minha pauta jornalística naquele dia: “Qual a política de programação a partir desses novos equipamentos a serem usados pela instituição?” Silvana respondeu, em parte, indagando se eu teria o interesse de assumir o Cinema pensando numa política de programação e formação de público. Eu disse que sim, eu tinha 29 anos.

Muito me alegra ver que, depois de 18 anos, o Cinema da Fundação tornou-se um órgão catalisador de diálogo, de cultura e que ele é visto e já estudado como grande incentivador para toda uma movimentação em torno do cinema em Pernambuco, produção esta que é hoje discutida em todo o Brasil e também no exterior a partir de uma comunidade criativa que é algo de impressionante.

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Nossas salas são referência, técnica e conceitualmente, com preços muito abaixo dos praticados pelos cinemas comerciais, muito embora para que tudo isso exista, um esforço às vezes grande demais seja necessário no dia a dia de uma instituição pública. É um trabalho árduo de equipe.

Preciso também deixar aqui registrada a minha gratidão pelo diálogo direto e inteligente com Dr. Luiz Otávio como presidente da Fundação Joaquim Nabuco num ano tão confuso politicamente para o nosso Brasil, pela sua demonstração de respeito pelo trabalho que desenvolvi aqui, pela sua tentativa de acomodar uma situação incomum de ter um servidor público que faz filmes brasileiros com carreiras internacionais, e por ver que um filme pernambucano e brasileiro que viaja o mundo é motivo de orgulho para a nossa cultura, e nunca de vergonha. Também me chamou a atenção a clara admiração que Dr. Luiz tem pela Fundação Joaquim Nabuco, a história dessa instituição e seu papel na sociedade em todas as áreas nas quais ela atua, inclusive a cultura.

Também deixo aqui registrado o excelente diálogo que tive com Valéria Costa e Silva como diretora de cultura e minha chefe. Sempre no sentido de encontrar soluções construtivas para essa instituição. Em Valéria só consigo enxergar entusiasmo pela oportunidade de poder acrescentar algo à Fundação Joaquim Nabuco.

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Por fim, deixo aqui meu agradecimento à equipe do cinema, de Vera Cavalcanti a João, Rosy, Paula, Selme, a Aidige, Sandra e Romero (in memorian). A Silvana Meireles e Isabela Cribari, que me trouxeram e me mantiveram aqui. E a Luiz Joaquim, que foi, desde 2001, excelente parceiro de trabalho, combinação rara que poderia ter dado muito errado (dois cinéfilos escolhendo filmes…), mas que deu muito certo, numa mescla de personalidades distintas unidas por um interesse nato por filmes e pela cultura.

Obrigado, Kleber.

 

 

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