Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Kimmel promete riso no Oscar: ‘Se ficar pesado, perde propósito’

Humorista, apresentador da festa pela segunda vez, tem o desafio de entreter sem ignorar questões que pulsam, como o movimento #MeToo, sobre assédio

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 4 mar 2018, 19h24 - Publicado em 4 mar 2018, 07h37

Jimmy Kimmel era o apresentador do Oscar quando a premiação teve o maior erro da sua história, no ano passado: o anúncio de La La Land – Cantando Estações, de Damien Chazelle, como o vencedor na categoria melhor filme principal, quando na verdade a estatueta de melhor filme era de Moonlight – Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins. Nem por isso Kimmel deixou de ser convidado para a 90ª edição da festa, a maior do cinema e do mundo do entretenimento. Pelo contrário: desde o biênio 1997 e 1998, com Billy Crystal , um mesmo apresentador não celebra a cerimônia por dois anos seguidos. Kimmel não se fez de rogado e vem anunciando com direito a cutucadas sobre a falha de 2017 nas chamadas de televisão.

Ele não é o único a retornar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood parece ter entendido que o melhor modo de lidar com um erro é aprender com ele — e rir dele. A instituição colocou em prática medidas para evitar uma nova falha nos mesmos moldes, e Warren Beatty e Faye Dunaway, apresentadores que injustamente culpados pela trapalhada com os envelopes, retornam para entregar o maior troféu da noite.

Erro superado, há outros focos de tensão, porém, na entrega do Oscar deste ano. O maior deles é a onda de denúncias de assédio e abuso sexual detonada pela queda do superprodutor Harvey Weinstein, o homem com maior número de agradecimentos na história da premiação. Os movimentos #MeToo e #TimesUp serão abordados tanto no monólogo de abertura quanto num segmento próprio, segundo os produtores Michael De Luca e Jennifer Todd.

O grupo Time’s Up, inclusive, tem oferecido consultoria sobre como lidar com o assunto. Não poderia ser diferente, quando a própria academia se viu forçada a criar um código de conduta depois de expulsar Weinstein de suas cadeiras. A questão ressoaria entre os convidados do Dolby Theatre mesmo se Kimmel silenciasse sobre ela. Christopher Plummer, afinal, está indicado a ator coadjuvante depois de substituir o acusado Kevin Spacey em Todo o Dinheiro do Mundo, de Ridley Scott.

Continua após a publicidade

Uma coisa boa de Donald Trump, se é que tem alguma coisa boa nele, é que, se faço uma piada com ele, todo o mundo entende

Além disso, o público não vai ver Casey Affleck, vencedor do Oscar de ator em 2017 por Manchester à Beira-Mar, entregar a estatueta de atriz este ano, escalação automática que seguia uma tradição quebrada em meio às denúncias de má conduta sexual. Affleck, que entrou em acordo em dois casos de assédio em 2010, se retirou da cerimônia. E James Franco, suspeito de conduta imprópria, ficou de fora da disputa por O Artista do Desastre. Mas Gary Oldman, acusado pela ex-mulher de violência doméstica, é o favorito por sua interpretação de Winston Churchill em O Destino de uma Nação – para deixar claro, a queixa foi retirada, e Oldman ganhou guarda exclusiva dos dois filhos.

Outro convidado da cerimônia, Ryan Seacrest, foi inocentado por uma investigação interna do canal E! e segue negando as acusações de assédio que continuam a aparecer. Se astros e estrelas vão falar com ele no tapete vermelho é uma das incógnitas da festa deste ano, que promete levantar outras questões. Ao lado do combate ao assédio, celebridades devem desfilar pelo tapete vermelho uma campanha a favor do controle de armas, à luz do recente ataque na escola na Flórida e do desastroso posicionamento do presidente Donald Trump a favor de que os americanos — até mesmo os professores — andem armados.

A seguir, trechos da conversa de Jimmy Kimmel com VEJA:

 

Como você pretende lidar com a questão dos escândalos de assédio e abuso sexual em Hollywood? Seth Meyers foi como uma espécie de teste durante sua apresentação do Globo de Ouro? Eu acho que o Seth fez uma piada especificamente para mim durante o Globo de Ouro, dizendo que seu monólogo de abertura era como mandar um cachorro ao espaço para ver se ele voltava vivo. Então agradeço a ele por esse teste. Nunca se sabe o que vai estar na pauta no dia da cerimônia, mas com certeza isso vai fazer parte.

 

Você tem sido um ativista da questão do sistema de saúde nos Estados Unidos devido aos problemas com seu filho Billy (o bebê nasceu com uma doença congênita no coração). Acha que isso vai entrar na sua pauta do Oscar? Não pretendo usar o Oscar como plataforma de defesa de um sistema de saúde melhor, apesar de ser um assunto importante para mim. Porque no fim das contas o show não sou eu, estou ali para entreter pessoas que estão vivendo a grande noite de suas vidas. Se ficar muito pesado, perde o propósito. Mas eu, pessoalmente, sempre estarei focado em temas do sistema de saúde.

Quantas mulheres há no seu grupo de roteiristas? Uma delas é minha mulher Molly McNearney, que é a roteirista principal. Fora isso, há quatro mulheres e sete homens, além de mim. Espero que esteja relativamente equilibrado.

Matt Damon é uma piada recorrente em seu programa e foi também no Oscar do ano passado. Ele acabou falando algumas besteiras recentemente em relação ao movimento #MeToo. Acha que é o momento certo de fazer piada com Damon? Matt Damon nasceu para ser zoado, na minha opinião. Veremos! Se eu puder zoar, eu vou.

Continua após a publicidade

Gosto da ideia de ter surpresas. Muita gente considera essas cerimônias chatas porque tudo parece planejado. Claro que é um risco, mas vai ter algo na linha, sim

Espera que algo como aquela confusão dos envelopes do ano passado aconteça novamente? Não acho que vá acontecer de novo. Se bem que, se ocorresse, eu ia rir por dentro. Mas acredito que, se acontecer novamente, todo mundo tem de ser demitido, concorda?

Mas como abordar isso? O problema é que um milhão de piadas já foi feito sobre aquela confusão. Então, vai ser difícil bolar uma maneira nova de brincar com o assunto. Vamos combinar que 99% daquela cerimônia foi boa, não foi um desastre no nível Titanic. E sejamos honestos: trata-se apenas de um bando de celebridades entregando prêmios umas às outras.

Como se prepara para o Oscar? Assisto a todos os filmes, mesmo àqueles que acabam não indicados. Porque eles podem render alguma piada. A desvantagem é que percebi no ano passado que muitas das piadas não foram compreendidas porque nem todos tinham visto os filmes em que votaram. Não quero ficar fazendo piadas no vácuo. Uma coisa boa de Donald Trump, se é que tem alguma coisa boa nele, é que, se faço uma piada com ele, todo o mundo entende. Por isso é bom quando filmes populares são indicados.

Continua após a publicidade

Você fecha o roteiro muito antes? Não. Vou praticando algumas coisas que estão no roteiro, mas o noticiário acaba determinando o que fica e o que sai. Então, fecho em cima da hora.

Um dos pontos altos do ano passado foi a entrada dos turistas no auditório do Dolby Theatre. Pretende fazer algo assim de novo? Claro que não dá para fazer a mesma coisa, mas gosto da ideia de ter surpresas. Muita gente considera essas cerimônias chatas porque tudo parece planejado. Claro que é um risco, pode dar tudo errado, e para falar a verdade muita gente não gostou dessa parte. Mas vai ter algo na linha, sim.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.