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Kanye West, a história do ‘gênio atormentado’ que quer ser presidente

Diagnosticado com transtorno bipolar, o cantor bilionário acumula prêmios na mesma medida que envolve-se em polêmicas

Por Amanda Capuano Atualizado em 24 jul 2020, 15h43 - Publicado em 24 jul 2020, 12h28

“Eu odeio ser bipolar, é incrível”. A frase propositalmente contraditória estampa a capa do álbum Ye, lançado em 2018 por Kanye West, e diz muito sobre a vida de altos e baixos de seu autor. Aos 43 anos, West acumula desentendimentos na indústria musical. A personalidade explosiva vai além de uma simples malcriação. Em 2016, o cantor foi diagnosticado com transtorno bipolar. Na ocasião, chegou a ser hospitalizado depois de cancelar toda uma turnê e abandonar um show no início em meio a um surto. Agora, enquanto compete pela Presidência dos Estados Unidos, a situação da saúde mental do rapper voltou aos holofotes, .

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Após um estranho comício no domingo, 19, em que gritou que “quase” matou a filha em uma fala anti-aborto, West foi ao Twitter no que pareceu ser um episódio de crise mental, o que preocupou os fãs. Na sequência de postagens, o rapper insinuou que sua esposa, a socialite Kim Kardashian, queria interná-lo e que a sogra estava tentando mantê-lo longe dos filhos. Não demorou para que seu nome inflamasse o tribunal virtual, desde os que se preocupam, com razão, com o músico até memes e piadas de seus críticos.

Pouco depois de reforçar sua decisão de concorrer ao posto de presidente, West concedeu uma longa entrevista à revista Forbes. Nela, ele atribuiu sua candidatura a sinais divinos e alegou que vacinas contra o coronavírus seriam usadas para implantar chips que impedissem a população de passar pelos portões do paraíso no pós-morte. As declarações de teor delirante não eram inéditas. Em entrevista ao apresentador David Letterman, em 2019, West descreveu suas crises como uma grande paranoia. “Todo mundo é um ator. Tudo é uma conspiração. Você sente que o governo está colocando chips na sua cabeça. Você sente que está sendo gravado. Você sente que todo mundo quer te matar”, disse no episódio do programa O Próximo Convidado Dispensa Apresentação, disponível na Netflix.

Entre risos e pranto: Kanye West faz primeiro comício como candidato à Presidência dos Estados Unidos (Lauren Petracca Ipetracca/AP/VEJA)

Não ajuda o fato de West desprezar a dimensão de seu transtorno. No ano passado, Kim Kardashian declarou que o marido recusava-se a tomar medicações pois isso alteraria a sua personalidade e criatividade. Kim, aliás, é vítima de acusações constantes de que negligenciaria a saúde mental do marido, mas é preciso reconhecer a dificuldade de ajudar um homem adulto que recusa tratamento. “Quem convive com isso sabe como é complicado e doloroso. Kanye é uma pessoa brilhante, mas difícil, que, além das pressões de ser um artista e um homem negro, viveu a dolorosa morte de sua mãe, e ainda tem de lidar com a pressão e o isolamento que é intensificado pelo seu transtorno bipolar”, declarou ela em um raro comunicado feito no início da semana.

O próprio West, que descreve a doença como uma espécie de “superpoder” na música Yikes, chegou a dizer que os medicamentos interferiam no processo de criação, e se as pessoas admiram a “loucura” das músicas deveriam entender que ela só poderia vir de alguém “louco”. Não à toa, sua fama no rap é de um “gênio atormentado”, e a genialidade vem a um custo alto.

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Kim Kardashian e Kanye West no editorial da Vogue
Kim Kardashian e Kanye West no editorial da Vogue (Vogue/Divulgação)

Se as crises são, com razão, creditadas à bipolaridade, o mesmo não se pode dizer de suas opiniões impopulares: de modo que West não deve ser totalmente isentado do que diz. Antes de lançar-se na corrida presidencial e chocar com o fundamentalismo religioso, o rapper desagradou o movimento negro ao dizer em uma entrevista ao site TMZ, em 2018, que a escravidão foi uma escolha. No primeiro comício pela presidência, ele alfinetou a famosa abolicionista e ex-escrava Harriet Tubman, sugerindo que ela não foi de fato a heroína que a população negra americana vem exaltando recentemente.

O cantor também não é dos mais queridos entre os fãs da música pop, já que envolveu-se em um extensa troca de farpas com Taylor Swift desde que interrompeu o discurso da cantora no VMA de 2009 para dizer que Beyoncé deveria ter levado o prêmio. Mas nem a própria Beyoncé escapou dos rompantes de West, que acusou-a de trocar apresentações por prêmios.

West supreende Taylor durante premiação
West surpreende Taylor durante premiação: grosseria pública (AFP/VEJA)

Filho de uma professora universitária e de um fotojornalista e ex-pantera negra, Kanye Omari West teve um infância financeiramente confortável. Seu primeiro nome vêm do Suaíli, dialeto africano no qual Kanye significa “o único”. Nasceu em Atlanta, em junho 1977, mas mudou-se para Chicago aos 3 anos, depois que os pais se separaram. Aos 10, chegou a morar na China com a mãe, onde aprendeu Mandarim. Mas foi no cenário musical de Chicago que West deu os primeiros passos como produtor, aos 19 anos. Já aos 23, ganhou notoriedade ao produzir o The Blue Print, álbum do rapper Jay Z, creditado como a obra que revitalizou sua carreira.

Daí em diante, passou a investir em si mesmo. Em 2003, sofreu um acidente de carro que quase ceifou sua vida. A experiência inspirou a canção Through the Wire, primeiro single de seu álbum de estreia, intitulado The College Dropout — que recebeu esse nome pois Kanye largou a faculdade para mergulhar de vez na carreira musical. Estreou em segundo lugar na Billboard, com mais de 440.000 cópias vendidas na semana de lançamento e mais de 4 milhões em todo o mundo. Desde então, todos os álbuns que se seguiram, foram nove no total, chegaram em primeiro lugar no ranking da popular parada americana. O feito é tão notável que apenas Eminem está à frente de West, com 10 discos no topo do ranking, mas Kanye pode alcançá-lo ainda esta semana, com o álbum Donda – que ele prometeu lançar nesta sexta-feira, 24, e foi nomeado em homenagem a mãe do artista, falecida em 2007 vítima de complicações de uma lipoaspiração.

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Além do recorde, West também é dono de 21 estatuetas do Grammy, e já vendeu mais de 20 milhões de álbuns em todo o mundo. Seu disco My Beautiful Dark Twisted Fantasy, lançado em 2010, foi eleito pela Pitchfork como o segundo melhor da década, atrás apenas do aclamado Blonde do também rapper Frank Ocean.

Colegas, pero no mucho: Apoiador de Trump, Kanye West agora disputa com ele o cargo de Presidente dos Estados unidos (Drew Angerer/.)

Nos últimos anos, West têm explorado uma espécie de rap “gospel” descolado que o levou a figurar pela primeira vez nas paradas de músicas religiosas com o álbum Jesus is King mas a espiritualidade sempre foi um elemento indissociável de sua arte, repleta de referências bíblicas e sociais. Por isso, as menções a Deus e sinais divinos em sua corrida presidencial não são surpresa, embora a fervorosidade seja recente e assuste.

Longe da música, Kanye construiu ainda um império como estilista com a linha de tênis Yeezy. Em 2020, o rapper conquistou o cobiçado título de bilionário atribuído pela revista Forbes. Segundo a publicação, a marca está avaliada em cerca de 1,3 bilhão de dólares, o que coloca West como um dos gigantes do ramo, atrás apenas de Michael Jordan.

Diante dos números, é difícil negar o tamanho de Kanye West como artista, embora o rapper seja constantemente ofuscado por seus demônios. Se há uma linha tênue entre a imagem pública de um músico e a sua vida longe dos holofotes, a barreira que separa o rapper multipremiado do homem atormentado pela bipolaridade parece afinar-se a cada dia, e preocupa o fato de seus surtos públicos servirem como uma espécie de entretenimento nas redes. Talvez por isso, o pedido de empatia de Kim Kardashian esta semana seja tão simbólico. Sem dúvida, há muito o que se criticar em Kanye West, mas não há carta branca para debochar de transtornos mentais.

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