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‘Jogos Vorazes’, o irmão mais velho de ‘Harry Potter’

Como a série infantojuvenil ‘Jogos Vorazes’ se tornou um fenômeno de leitura ao mesclar elementos de ficção científica e estética de reality show a questões sociais e ambientais, e desembarca agora no cinema com uma produção de 78 milhões de dólares, além de três sequências engatilhadas

Por Carol Nogueira
10 mar 2012, 08h24

Imagine um reality show em que, em vez de passar o dia na piscina se bronzeando, os participantes lutam pela própria sobrevivência. E a audiência não é atraída pelos corpos sarados, suas discussões e affaires, mas pela obrigação de assistir ao programa como forma de punição – e medida pedagógica – pelo mau comportamento de uma parte da população. Mais: imagine um mundo assolado pelo que parece efeito do aquecimento global, em que metade da América do Norte está submersa e muitos morrem de fome. São esses os cruéis elementos que compõem a história de Jogos Vorazes, série de livros que virou um grande sucesso entre adolescentes e estreia nos cinemas no próximo dia 23, com uma produção de 78 milhões de dólares e outras três a caminho. E com a expectativa de fazer, em bilheteria, o mesmo estouro que as fofas Harry Potter e Crepúsculo.

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O primeiro livro da saga, escrita pela americana Suzanne Collins, chegou às livrarias americanas em 2008. Não demorou até que se tornasse um fenômeno mundial, exatamente como Harry Potter (cuja franquia cinematográfica acabou no ano passado) e Crepúsculo (que termina neste ano). Juntos, os três livros já lançados da série, que ainda pode ter outros, venderam mais de 30 milhões de cópias mundo afora – 80.000 delas no Brasil, onde desembarcaram a partir de maio de 2010. E devem vender ainda mais com a chegada da saga à sala escura: segundo a revista americana The Hollywood Reporter, o lançamento do primeiro trailer do filme, em novembro, fez mais 7,5 milhões de cópias dos livros voarem das prateleiras. Os números ainda não encostam nos de Harry Potter (450 milhões de cópias no mundo, 3,6 milhões no Brasil) e Crepúsculo (115 milhões no mundo e 5,7 milhões aqui). Mas as estatísticas tendem a mudar assim que o longa entrar em cartaz.

A seu favor, Jogos Vorazes têm uma história alucinante e incomum, além de atual, que combina elementos de ficção científica e da perene mitologia grega à estética do reality show e questões ambientais. No mundo pós-apocalíptico, a América do Norte – ou o que restou dela – deu origem a um novo país, Panem, dividido em 13 distritos e uma capital. Quando o 13º distrito se rebela, o governo decide destruí-lo e desenvolve uma estratégia para evitar que ele sirva de modelo aos outros. O plano, brutal, é criar um sangrento reality show em que 24 participantes, duas crianças – um menino e uma menina – de cada distrito, se enfrentam em batalhas mortais. Ganha o último sobrevivente. No livro, a personagem principal é Katniss Everdeen, de 16 anos, que se voluntaria a participar dos jogos após sua irmã, Prim, de 12, ser escolhida. No filme, a protagonista é vivida pela jovem e ótima Jennifer Lawrence, 21, indicada ao Oscar de melhor atriz em 2011 por sua atuação em Inverno da Alma.

Katniss sabe que será difícil sair com vida. Não apenas porque um só sobrevive, mas porque, em 72 anos, somente um morador do Distrito 12, onde ela mora, venceu. No miserável Distrito 12, morrer de fome é comum, e este, aliás, teria sido o destino de Katniss em uma noite fria narrada logo no início da saga, se ela não tivesse sido salva pelo filho do padeiro, que lhe deu um pedaço de pão contra a vontade da mãe. O garotinho é Peeta Mellark (Josh Hutcherson), com quem ela agora terá de lutar até a morte, embora seja eternamente grata a ele – um tipo de dilema moral bastante comum no livro. Essa certeza da mortalidade gera frases duras, como “Entre morrer de fome ou com uma bala na cabeça, a bala é bem mais rápida”, que, somadas à complexidade ética da história, deixaram sobressaltados alguns críticos de literatura, para quem Jogos Vorazes é coisa de gente grande. Será?

O estudante Brunno Maceno, de 17 anos, fã de 'Jogos Vorazes'
O estudante Brunno Maceno, de 17 anos, fã de ‘Jogos Vorazes’ (VEJA)
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Ficção x realidade – Foram exatamente as situações extremas vividas pelos personagens que chamaram a atenção de jovens leitores de classe média com uma vida em tudo distante daquela de Katniss e seus companheiros de reality show. Jovens leitores que entendem que Jogos Vorazes não têm nada de BBB. Para o fã paulistano Brunno Maceno, de 17 anos, é por ter um conteúdo mais denso que a série se sobressai entre os ingênuos Harry Potter e Crepúsculo. “A saga tem uma mensagem mais crítica. Você vê que a população de Panem passa fome porque a capital desperdiça comida, e isso escancara diferenças sociais que existem no nosso país também. O caos que a autora narra no livro pode acontecer no futuro, se não agirmos para remediar os problemas sociais e ambientais”, diz.

A carioca Iris Figueiredo, de 19 anos, que faz parte dos fã-clubes Tributos RJ e Distrito 13, é de opinião semelhante. A saga – ao falar de problemas ambientais, conflitos, pobreza e fome – a ajudou a pensar sobre a sociedade. “A maioria dos livros juvenis parte do princípio de que o adolescente não se preocupa com o mundo. Não é verdade. Em Jogos Vorazes, as situações vividas pelos personagens me ajudaram a enxergar a realidade.”

A estudante Iris Figueiredo, de 19 anos
A estudante Iris Figueiredo, de 19 anos (VEJA)

A aspereza dos temas também foi o que atraiu a estudante Giovana Cuin Cyrillo, de 13 anos, representante da faixa que mais preocupa os críticos da série – assim como Harry Potter e Crepúsculo, Jogos Vorazes fisgou gente de idades diversas, num espectro que, grosso modo, vai dos 10 aos 20 anos. Para contornar esse debate, nos Estados Unidos o primeiro filme da franquia, que conta com cenas explícitas de violência, foi classificado para maiores de 13 anos – uma classificação que ainda pode ser alvo de discussão após a estreia mundial da saga. “O que me chamou atenção foi que a protagonista tem só 16 anos e tem que lutar para alimentar a mãe e a irmã. Não consigo imaginar como deve ser isso”, afirma Giovana.

Iris, Brunno, Giovana e os outros jovens leitores consultados pelo site de VEJA fazem parte de uma legião de fãs brasileiros cujo hobby é informar outros fãs e curiosos sobre as novidades dos livros, dos filmes e de tudo o que envolva o universo de Jogos Vorazes, em endereços na internet visitados por milhares de pessoas todos os dias. O maior site brasileiro sobre a saga (sim, já existem vários) é o JogosVorazes.net, que chega a receber 30.000 acessos diários, segundo Camila Moreira, de 21 anos, uma das fundadoras da página.

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