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Jessye Norman: a diva negra do canto lírico

A soprano morreu na segunda-feira 30, aos 74 anos, de choque séptico decorrente de uma lesão na medula espinhal sofrida em 2015, em Nova York

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 out 2019, 10h18 - Publicado em 4 out 2019, 06h00

No universo da ópera, a soprano Jessye Norman pairava alguns patamares acima de suas similares contemporâneas. A voz potente, calorosa, carregada de intensidade dramática, não só se destacava sobre a sonoridade da orquestra: era capaz de ressoar para sempre na memória de quem a escutasse nas salas de concerto. Quem duvida pode tirar a prova em dois momentos disponíveis no YouTube: a morte de Isolda, cena da célebre ópera de Richard Wagner, regida por Herbert von Karajan, à frente da Filarmônica de Viena, em 1989; e a versão do hino religioso Amazing Grace, durante homenagem no Kennedy Center ao ator Sidney Poitier, em 1995. Duas performances emocionantes e irretocáveis num repertório abrangente que ia das canções de Richard Strauss aos spiri­tuals americanos, de óperas às composições populares de George Gershwin, Duke Ellington e Michel Legrand.

Jessye Mae Norman nasceu em Augusta, no Estado da Geórgia, em 1945 — período em que as tensões raciais recrudesciam no sul dos Estados Unidos. Vinda de uma família negra de classe média, descobriu a ópera na infância, ao escutar récitas transmitidas pelo rádio. “As histórias contadas nas óperas não eram diferentes das que eu conhecia. Um rapaz encontra uma garota, apaixona-se por ela, por alguma razão eles não podem ficar juntos e tudo se encaminha para um final triste”, dizia. Jessye se formou em música pela Universidade Howard, em Washington, e emergiu profissionalmente na Europa. Em 1969, estreou no papel de Elisabeth em Tannhäuser, de Wagner. O sucesso lhe abriu as portas das principais casas de ópera do mundo, entre elas o Teatro alla Scala, de Milão, e a Royal Opera House, de Londres. Em 1983, Jessye faria sua estreia na Metropolitan Opera de Nova York. Com o tempo, passou a preservar a voz, trocando a opulência das óperas pela sobriedade dos recitais. A recusa de papéis e os cancelamentos de última hora renderam-lhe o epíteto de “diva”.

Para além da voz primorosa, tinha outras qualidades enobrecedoras: engajada em causas sociais, criou em 2003 uma escola de artes para crianças pobres em sua Augusta de origem. Pela generosidade, daria nome a uma rua — a inauguração oficial seria em breve, com a presença da cantora. Jessye morreu na segunda-feira 30, aos 74 anos, de choque séptico decorrente de uma lesão na medula espinhal sofrida em 2015, em Nova York.

Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2019, edição nº 2655

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