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Jake Gyllenhaal: ‘A humanidade é que nos faz entender o outro’

Ator interpreta Jeff Bauman, vítima do atentado em Boston, em ‘O Que Te Faz Mais Forte’

Por Mariane Morisawa, de Zurique
Atualizado em 9 fev 2018, 08h46 - Publicado em 9 fev 2018, 07h37

Sem querer, Jeff Bauman virou um símbolo – ou um “herói”, como preferem os americanos. O rapaz bem-humorado, que trabalhava num atacadista, perdeu parte das pernas no atentado na maratona de Boston, onde esperava a ex-namorada na linha de chegada. Jake Gyllenhaal ficou interessado em destrinchar a jornada desse herói, e foi fundo nas suas dificuldades na readaptação à sua nova realidade.

Conviver com Jeff por um ano e interpretá-lo em O Que Te Faz Mais Forte, dirigido por David Gordon Green e baseado na biografia escrita por Bauman e Bret Witter, transformou o ator, que está tentando levar a vida com mais bom humor – se Jeff consegue, por que não ele? Gyllenhaal conversou com VEJA em Zurique:

Por que quis contar essa história? Só conhecia Jeff por uma foto que correu o mundo. Ele era um símbolo, uma ideia, um “herói”. O filme entra nas especificidades e nas complicações, mostrando como é difícil passar por isso. Acho importante que as pessoas não sejam apenas símbolos, sejam humanos. Porque nossa humanidade é que nos faz entender os outros, o que nos une em vez de nos separar. Esse é o poder do cinema.

Há uma discussão sobre heroísmo no filme – Jeff não se vê muito como herói. Esse conceito é parte da cultura americana. Acha que heróis existem? Sim, claro. Com certeza. Acho que essa ideia é mais complicada do que numa narrativa, que normalmente precisa ser mais simplista. Jeff é um cara normal que é chacoalhado por esse evento e no processo de tentar recalibrar sua vida física, mental e emocionalmente é transformado nesse símbolo. E isso foi complicado para ele. Porque Jeff estava feliz morando na casa da sua mãe e trabalhando no atacadista Costco. Daí, como todos nós, de uma maneira ou de outra, é forçado a crescer. A ser adulto. Provavelmente para seu desgosto, no início. Para mim esse é o trabalho de um filme, mostrar a especificidade e a complicação da experiência humana. Por isso amei essa história, porque falava de alguém crescendo e se tornando adulto e aceitando o fato de ser uma inspiração para as pessoas, mesmo quando duvida de si mesmo.

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Acha que só os americanos precisam de heróis ou é algo mundial? Não consigo falar pelo mundo todo! (risos) Acho que depende da definição de herói. Porque Jeff certamente é uma inspiração. No final da exibição do filme no Festival de Toronto, um holofote se acendeu sobre ele, e as pessoas aplaudiam em pé. Jeff me perguntou o que fazer. E eu respondi: “Levante-se”. Não percebi antes o quanto essas palavras significavam para ele. As pessoas perceberam quanta dor, esforço, luta e coragem para que ele fosse capaz de se levantar. Isso para mim é uma inspiração. Ele mesmo diria que os verdadeiros heróis são aqueles que salvaram sua vida. Mas ele entendeu que é uma inspiração. E não importa de que país veio, sempre há alguém com alguma dificuldade. Você nunca sabe o que está se passando na vida do outro. A história de Jeff inspira, diz que é possível sobreviver. A palavra usada para descrever não importa. O filme não foge da dor e da luta que é para se tornar uma inspiração.

Este papel é arriscado. O que descobriu sobre si mesmo? A palavra risco é sempre precária para mim quando falo de empreendimentos criativos. Não é difícil ser um ator que se arrisca. Não ligo de ser aplaudido por isso, é bom para meu ego (risos). Fazendo o filme, aprendi que eu não seria capaz de sobreviver ao que o Jeff sobreviveu. Muito da atuação é acreditar que você poderia ser aquela pessoa, mas num contexto seguro. Por isso o conceito de risco em atuação me parece meio absurdo, porque sempre há segurança. Eu fiquei honrado porque Jeff estava comigo, e as pessoas que o ajudaram estavam todas lá. Carreguei essa energia comigo no papel, espero que os espectadores percebam isso, essa natureza realista. Mas percebi meus defeitos e também que poderia ter mais senso de humor em certas situações, porque o Jeff tem um grande senso de humor. Isso me acordou.

Acha que seus personagens se refletem na sua vida? Sim. Claro que tem alguma técnica no que faço, o que protege minha identidade. Mas, se você passa muito tempo numa situação, vai ser transformado por ela. E eu gosto de me preparar. Passei um ano com Jeff antes de começarmos a rodar. Esse período me moldou como ser humano. Então os personagens ficam um pouco. Neste caso, é muito mais que um filme. Jeff é um amigo. As fronteiras ficaram borradas.

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Tiroteios e casos de violência continuam acontecendo. O que acha que precisa mudar na sociedade? Não sou a pessoa certa para responder a esta questão. Mas digo que aprendi com Jeff que ter uma comunidade é tudo na vida. O apoio das pessoas que você ama e que também te amam em qualquer época de crise é tudo. Não importa a complexidade dos relacionamentos, porque essas são as pessoas que vão te apoiar na hora da necessidade. Estamos vivendo uma decadência cultural. Como resultado disso, estou num hotel chique respondendo a questões que um político deveria estar respondendo.

Mas eles não respondem. E aí você vem perguntar para mim? (risos) Mais uma prova da decadência cultural. Só posso falar como cidadão, como todo o mundo. Claro que existe medo. Mas deveríamos focar no amor e no apoio da comunidade. O que está na nossa frente, pessoas que estão aqui, precisando da nossa ajuda. O incrível nos Estados Unidos é que as pessoas se voltaram para o nível local, em vez de nacional, o que nos dá uma outra perspectiva. Como cidadãos, podemos atuar mais firmemente no nível local.

 

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