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Irã: o tapete persa se moderniza aos poucos

Por Por Marc BURLEIGH
7 dez 2011, 15h06

Os dedos de Zahra Nazer trabalham, com agilidade, cada fio de seda, mas falta a ela mais de um ano para terminar um tapete que tece da forma tradicional, como outros duzentos mil iranianos que vivem desse ofício de mais de dois mil anos.

Ameaçada pela concorrência, a fabricação dos célebres tapetes persas, cuja exportação rende ao país meio bilhão de dólares por ano, está começando a se modernizar.

O tear pendurado em duas traves de madeira grosseiramente cortados, assim como os gestos precisos e rápidos da tecelã remontam à noite dos tempos: quase nada mudou desde o início da confecção de tapetes, há 2.500 anos, no local que chamamos, hoje, Irã.

“Tenho 18 anos, e teço desde os 15”, explica Zahra, filha de tecelãos. Ela define seu ofício como parte de um saber transmitido de geração a geração.

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“Gosto de tecer, não é muito difícil, a não ser pelo tempo que gasta”, considera a jovem que vive em Qom (centro).

Mas sua arte está ameaçada há vários anos por imitações mais baratas, trabalhadas à máquina, provenientes, principalmente, da China e do Paquistão.

Os compradores tornaram-se raros, desencorajados pelo aumento dos preços dos tapetes, uma forma de enfrentar os custos, também em alta, da seda.

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Um verdadeiro tapete persa de boa qualidade pode custar milhares, e até dezenas de milhares de euros, segundo seu tamanho e qualidade. Mas os tecelões, tais como Zahra, recebem menos de um dólar por dia para realizar sua tarefa delicada.

“A situação piorou nos últimos anos, devido à falta de compradores, uma vez que nossa clientela é constituída, principalmente, de turistas, pelo que precisamos de mais turismo no país”, comenta em Ispahan (centro) um vendedor de tapetes, Hassan Hosseinzadeh.

O setor reagiu introduzindo mudanças radicais, substituindo com sucesso algumas tradições por tecnologia do século XXI.

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– Flores e pássarios desenhados em computador –

Numa fábrica de Qom (150 km ao sul de Teerã), um jovem trabalha num tablet gráfico ligado a um computador, desenhando motivos sofisticados de flores e pássaros, que serão, em seguida, tecidos. Perto dele, uma pessoa de mais idade trabalha na forma antiga: à mão, com um papel milimetrado.

O computador “acelera a concepção e nos deixa maior margem de manobra”, destaca o jovem, Javad Dejhani, lamentando o fato de alguns desenhistas sexagenários não se interessarem pelo computador”, que é “muito, mas muito mais rápido”. “É preciso evoluir ao ritmo da ciência, senão ficamos isolados”.

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Outro exemplo de modernização: a tintura. A maior parte das operações se desenvolvem, ainda, no vapor dos ateliês tradicionais, com os homens mergulhando a seda em tinas, enrolando-as depois no próprio braço para deixá-las secar nos telhados.

Mas, numa fábrica na periferia de Kashan, entre Qom e Ispahan, a tintura já está automatizada, desenvolvendo-se em grandes bacias de inox, sob o olhar de um empregado de blusa branca zelando para que o fio seja tingido uniformemente e de acordo com os padrões do catálogo.

A transmissão da técnica também se acelera: feita empiricamente, antes, em ateliês, ela agora é efetuada em salas de aula.

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Na Universidade das Artes de Ispahan, os alunos aprendem, em alguns dias, as técnicas que seus predecessores levavam meses para adquirir, junto a seus familiares.

“Nossos métodos transformaram as técnicas tradicionais em matéria de ensino, o que acelerou muito a aprendizagem”, destaca um mestre de tecelagem da universidade, Ali Reza Iranpour.

Como exemplo, mostra o trabalho de uma aluna cujo nível atingiu, segundo ele, o de velhos mestres, graças a aulas ministradas seis horas por semana.

Lamentando a hesitação dos artesãos tradicionais em utilizar instrumentos modernos, ele lembra que “essas pessoas adquiriram seu saber junto a mestres, e possuem uma experiência acumulada não em séculos, mas em milênios”.

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