IMPERDÍVEL: ‘A Chegada’ e a arte do suspense estático
Ficção científica protagonizada por Amy Adams coroa o talento do diretor Denis Villeneuve em causar tensão sem superlativos
O diretor canadense Denis Villeneuve continua a pavimentar sua sólida carreira no cinema com o filme A Chegada. Na história, a linguista Louise Banks (Amy Adams) e o físico Ian Donnelly (Jeremy Renner) trabalham com as Forças Armadas dos EUA para estabelecer diálogo com alienígenas. Os inesperados visitantes chegam ao país de forma silenciosa, em uma nave que só aparenta ameaça pelo fato de ser um objeto até então desconhecido ao olho humano. Outras onze espaçonaves estão distribuídas pelo mundo, também taciturnas, tentando se comunicar.
Os cenários de linhas retas e militares, a fotografia escura e a intrigante trilha sonora dançam em harmonia com a atuação dos atores, encarregados de personagens curiosos e assustados. O clima de tensão é criado sem a necessidade de uma sequência de explosões típicas de um filme com aliens entre o elenco.
Villeneuve tem uma particular sensibilidade para criar suspense em ambientes estáticos. O mesmo resultado aparece em sua filmografia, em bons longas como Incêndios (2010), Os Suspeitos (2013) e Sicario: Terra de Ninguém (2015). Na produção de 2015, aliás, Emily Blunt se vê em uma cena de ação de dar falta de ar. Dentro de um carro, encaixada em um grande trânsito de uma rodovia, a personagem transmite no olhar o medo de um ataque surpresa enquanto transporta um figurão do tráfico mexicano. Nem a série Velozes e Furiosos, com seus arranques acelerados, conseguiria produzir o nível de adrenalina que o cineasta criou ali. Com automóveis estagnados, resignados e em fila.
O mesmo jeito de filmar se repete em A Chegada. Agora, a atmosfera de expectativa se desenrola a partir das curvas básicas de uma comunicação entre dois indivíduos para desembocar em uma complexa trama sobre tempo e escolhas pessoais.