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Gruta de Lascaux: uma velha dama frágil sob estrita vigilância

Por Por Laurent BANGUET
22 jul 2011, 15h35

Totalmente fechada ao público desde 1963, depois do registro de contaminações, a gruta de Lascaux na França, obra-prima da arte pré-histórica, se restabelece lentamente, mas ainda é uma velha senhora com a saúde frágil, em meio a uma estrita vigilância.

O único sinal de sua presença, a apenas de 200 metros de sua reprodução batizada “Lascaux II”, é um portão fechado com a placa de Monumentos Históricos. Há, também, uma câmara de vigilância no meio dos carvalhos que crescem na colina de Montignac (centro-oeste).

Difícil de suspeitar que a apenas alguns metros sob a terra, atrás de um pesado portão de bronze envelhecido, vacas vermelhas, bisões negros, cavalos ocres e cabritos monteses pré-históricos atravessam de uma vez 18.000 anos para galoparem à luz de uma iluminação modernaa.

Apesar da presença de cabos elétricos e de mastros metálicos suportando toda uma bateria de aparelhos de vigilância ligados à superfície, a emoção é a mesma de sua descoberta. Até para Jean Clottes, especialista de arte parietal que conhece bem a gruta mas se lembra, ainda, das lágrimas de emoção que derramou por ocasião de sua primeira visita, em 1960.

Antes mesmo de sua descoberta fortuita, em 1940, Lascaux havia sofrido “alterações consideráveis”, destaca Muriel Mauriac, conservador da gruta que a abriu excepcionalmente para a reportagem.

Tratava-se de fenômenos lentos e naturais, mas invasão súbita do turismo de massa, alguns anos mais tarde, foi muito mais violenta. Foram erros pelos quais Lascaux ainda paga o preço.

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“A gruta foi completamente perturbada. Durante a adaptação, em 1947, foram retirados 600 m3 de sedimentos” para abrir uma entrada, perfurar e concretar seu solo, além de instalar uma iluminação para facilitar o acesso ao público, lembra Jean Clottes.

“Isso causou mudança total na atmosfera da gruta, sem nenhum estudo prévio”, lamenta.

O outro choque: antes de seu fechamento, em 1963, até 2.000 turisaes percorreram por dia suas estreitas passagens, sem qualquer precaução.

“O maior problema de Lascaux é que foi rompido um equilíbrio. Uma gruta é um organismo vivo, em estado de equilíbrio instável, como o corpo humano”, comenta Jean Clottes.

Seguiu-se uma invasão de algas verdes em 1960 e, depois apareceram manchas brancas provocadas pela proliferação de um fungo, no final 1999. Mais recentemente, outras manchas, agora negras, foram observadas, mas parecem em regressão, segundo os cientistas que trabalham na cabeceira da doente.

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O visitante que deseja penetrar no santuário deve cumprir os rituais parecidos aos exigidos numa sala de cirurgia. é preciso cobrir os sapatos, usar luvas e roupões esterilizados de plástico.

Após um primeiro crivo, chega-se ao “pulmão artificial” da gruta, de onde os técnicos trabalham para manter uma temperatura constante, a fim de captar a umidada sem influir nos deslocamentos de ar.

“O princípio de base, é causar menos perturbações. É como um grande doente, tenta-se não agredi-lo”, sorri Jean Clottes, fechando rapidamente a porta atrás de si.

Apesar de sua idade avançada, os afrescos são comoventes, apesar da presença dos fungos indesejáveis, hoje limitados a alguns traços acizentados.

Após 45 minutos de viagem no tempo, chegou a hora de reencontrar a superfície. A presença humana na gruta não deve ultrapassar o equivalente a 800 horas por ano.

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Nestas condições, será possível, um dia, reabrir a gruta ao público ? “Não”, responde categórico, acrescentando, depois, num suspiro: “não num futuro previsível…”.

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