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Grada Kilomba: ‘Politicamente incorreto é frescura de homem branco’

Autora de 'Desobediências Poéticas', exposição em cartaz na Pinacoteca até dia 30 deste mês, a artista portuguesa fala sobre privilégio – e como combatê-lo

Por Luísa Costa 25 set 2019, 09h04

A escritora e artista plástica portuguesa Grada Kilomba, em cartaz com a exposição Desobediências Poéticas na Pinacoteca, em São Paulo, até 30 de setembro, fala com calma sobre um tema espinhoso: a violência institucional que enfrenta para expor em espaços outrora negados a mulheres negras. Neste mês chega ao fim sua primeira exposição individual no Brasil, em cartaz até 30 de setembro. Em conversa com VEJA, ela diz o que espera de uma sociedade racista: “tomar responsabilidade”. Confira:

Quando falamos de racismo e opressão, não é uma questão de ser uma boa ou má pessoa. Não me interessa se você é racista ou não, mas a sua ação diante disso. Não temos que falar ‘eu não tenho nada contra negros’ ou ‘eu não sou racista’, mas ‘eu sou antirracista’. Isso é tomar responsabilidade.

Grada Kilomba

Nas artes e na política brasileira, há quem considere a cultura do politicamente correto exagerada, por ferir a liberdade de expressão. É isso mesmo? É desejável que todos sejam politicamente corretos porque eu não quero ser incomodada com as incorreções de outras pessoas. O avesso, o politicamente incorreto, é uma invenção do homem branco, uma frescura, um privilégio branco patriarcal para poder continuar a oprimir. Na arte, 80% dos artistas são homens brancos. Essa irreverência pode até ser uma brincadeira para eles. Mas para as minorias, não é.

Por que a senhora costuma dizer que racismo não tem a ver com moral, mas com responsabilidade? Quando falamos de racismo e opressão, não é uma questão de ser uma boa ou má pessoa, ou um indivíduo simpático. Há gente aparentemente muito boa que comete ato violento, tem vocabulário agressivo e não têm consciência disso. Não me interessa se você é racista ou não, mas a sua ação diante disso. Não temos que falar “eu não tenho nada contra negros” ou “eu não sou racista”, mas “eu sou antirracista”. Isso é tomar responsabilidade.

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Como tem sido a receptividade à sua mostra na Pinacoteca de São Paulo? A abertura teve um público maravilhoso. Foram centenas de pessoas, muitas negras, e várias delas nunca haviam entrado num museu — talvez tenham medo de ir a um lugar assim ou mesmo a uma universidade.

Suas instalações, que falam sobre racismo e colonização, foram colocadas no segundo andar do museu, próximas a obras do período colonial. Como foi essa definição? A Pinacoteca tem muitas obras de um ou dois séculos atrás produzidas por artistas que eram homens brancos, mas que retratam os marginalizados: os negros, as mulheres e os indígenas. É exatamente esse diálogo que queríamos estabelecer em cada uma das alas, produzidas por mim, uma mulher negra que é autora e autoridade de sua própria história. Há uma inversão completa e absoluta de perspectiva. O que representa a arte e como que ela pode ser contada? Pelos olhos de quem? Para isso serve o museu: para levantar questões que não eram trazidas antes.

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