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Geraldine Chaplin: ‘Acho que a atriz teve asco de mim’

Filha de Charlie Chaplin veio ao Brasil acompanhar a exibição de ‘Dólares de Areia’ no encerramento da Mostra Internacional de Cinema de SP, na noite desta quarta, e falou a VEJA sobre o filme, em que faz par (nada) romântico com uma garota que nunca havia atuado

Por Simone Costa
30 out 2014, 08h34

Foi o pai Charlin Chaplin quem colocou Geraldine Chaplin em frente às câmeras pela primeira vez, numa cena de Luzes da Ribalda (1952), aos 8 anos de idade. Treze anos depois, ela se tornaria de fato uma atriz com o sucesso de Doutor Jivago (1965). De lá para cá, são quase cinco décadas de carreira e trabalhos com importantes diretores, como Carlos Saura (com quem foi casada), Robert Altman e Pedro Almodóvar. Em São Paulo, onde esteve para apresentar Dólares de Areia (2014) no encerramento da Mostra Internacional de Cinema, na noite desta quarta-feira, Geraldine falou a VEJA.com.

Dólares de Areia é um filme marcante pela sensibilidade. O que levou a senhora a aceitar o papel de Anne, essa mulher que vive uma relação ambígua com uma jovem 50 anos mais nova? Eu havia visto o filme Jean Gentil (2010, roteiro e direção de Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas, os mesmos de Dólares de Areia), que me tocou muitíssimo. Nunca pensei que fosse conseguir trabalhar com Laura e Cárdenas. Os dois tinham o projeto de fazer um roteiro a partir do livro Dólares de Areia, de Jean-Noël Pancrazi. Era uma história um pouco autobiográfica, em que o protagonista era um francês, já de certa idade, que teve uma relação com um jovem dominicano. Eles trocaram os personagens por duas mulheres e pensaram em mim para o papel. Foi uma espécie de realização de um sonho quando me perguntaram se eu estaria disposta a fazer esse filme com eles. Disse sim na mesma hora.

A senhora tem uma carreira de quase 50 anos e é muito interessante que fale de sonhos ainda por realizar. Claro. Há diretores em cujo filme eu daria o que fosse para estar. No caso de Dólares de Areia, acima de tudo, aceitei porque estava encantada pelo trabalho de Laura e Cárdenas.

E a personagem Anne, ela representou algum tipo de desafio para a senhora? Cada papel é um desafio porque cada personagem é um ser humano diferente, problemático e complexo. Nesse filme, meu maior medo não era interpretar Anne, mas que Yanet Mojica (no papel de Noelí) sentisse asco de mim. Ela não era uma atriz profissional. Eu pensava sobre isso, sobre essa jovem de 20 anos que tem de fazer cenas de amor com uma velha como eu. Ela vai sentir um asco terrível, eu imaginava. Talvez ela até tenha sentido algo assim, no filme é possível ver um pouco de rechaço, mas isso acabou caindo bem. Yanet foi uma aposta dos diretores. Eles e eu a encontramos uma noite dançando muito bem em um bar em Samaná e lhe perguntamos se queria fazer cinema. No início, foi difícil, mas o resultado final mostra que funcionou. Eles ganharam a aposta. Poderia ter sido um grande erro, mas ela está fantástica.

A senhora fala fluentemente inglês, espanhol e francês. É importante para um ator dominar outros idiomas? Sim, isso amplia o espectro de oportunidades, embora em cada idioma eu tenha sotaque. Inclusive quando falo inglês. Os americanos pensam que sou inglesa e vice-versa. É sempre um esforço para acentuar o sotaque necessário naquele dado momento em que estou atuando, mas é uma grande vantagem para um ator. A mim, me permite ter experiências como essa com Laura e Cárdenas.

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Em uma entrevista não muito recente, a senhora falou sobre como era crítica em relação aos seus primeiros trabalhos. Ainda tem dificuldades de se ver atuando? Dólares de Areia, eu adoro ver! Acho que um ator, quando começa, olha para a tela e só o vê ali. Acha tudo horrível e é extremamente crítico. Mas já faz muitos anos que eu gosto do que faço. O que me move é estar no cinema, mais do que o resultado. Eu realmente gosto desse trabalho. Hoje é isso o que importa.

Como é para a senhora estar em São Paulo para apresentar seu novo filme na mesma mostra que faz uma homenagem aos 100 anos de Carlitos, personagem de seu pai? Afinal, O Circo (1928) será exibido ao ar livre no Parque Ibirapuera no dia 1º de novembro, às 20 horas. É fantástico. Eu não sabia que haveria essa homenagem a ele. Soube ao chegar aqui e me sinto muito feliz por essa surpresa agradável. É genial ser filha de Charlie Chaplin porque ele era um homem muito amado por todo mundo. Tornou-se uma espécie de herói. E ele marcou não somente a geração dele, mas as posteriores. Isso graças a Marin Karmitz (fundador da MK2, uma das mais importantes produtoras e distribuidoras de cinema autoral), também homenageado pela mostra. Foi Karmitz quem comprou os filmes do meu pai e os recolocou nos cinemas.

A Mostra também homenageia Pedro Almodóvar, com quem a senhora trabalhou no excelente Fale com Ela (2002, ganhador do Oscar de melhor roteiro original). Também acabei de saber. E é muito merecido. Almodóvar é impressionante. Fale com Ela creio que é o seu melhor filme. Foi emocionante trabalhar com ele porque o admirava muito. Um dia o encontrei numa banca de jornal em Madri e ele me perguntou se eu vivia por ali. Não nos conhecíamos pessoalmente antes disso. Ele me disse que qualquer hora me chamaria para tomar um café. Fiquei três meses do lado do telefone esperando que ele me ligasse. Depois passou a me chamar para suas estreias ou para exibições privadas de seus filmes. Quando finalmente me convidou a atuar, fiquei muito feliz. Trabalhar com Almodóvar é gratificante porque ele é um diretor que é cérebro e coração. Está com a cabeça constantemente em funcionamento, ao mesmo tempo em que seu coração galopa. Vão os dois no mesmo passo. Há diretores que são muito intelectuais e outros que estão no outro extremo e são apenas coração e lágrimas. Almodóvar é os dois ao mesmo tempo.

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