Alberto Cabezas.
México, 15 mai (EFE).- O escritor mexicano Carlos Fuentes, falecido nesta terça-feira aos 83 anos, foi um intelectual que questionou durante toda a vida o seu país pela incapacidade de construir uma democracia mais autêntica e que, a partir da literatura, encaminhou à narrativa em língua espanhola para a modernidade.
Crítico do nacionalismo oficial mexicano e cosmopolita, Fuentes invocou várias vezes a incapacidade do país em se transformar em uma sociedade moderna e em desvendar os mistérios da alma mexicana. Amante do idioma em que escrevia, chegou a dizer que sua luta para conservar o espanhol durou toda sua infância, pois esteve a ponto de perdê-lo.
‘O idioma queria dizer para mim nacionalidade: era um conjunto opressivo de significados sujeitos sempre a luta, a reconquista’, disse. Considerado o fundador do romance moderno no México, o intelectual fez curso superior na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e no Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra (Suíça).
Fuentes ainda era jovem quando seu talento literário começou a se sobressair e o escritor começou a contribuir com uma geração de escritores extraordinários que formariam o chamado ‘boom latino-americano’.
Admirador de autores como os britânicos D.H. Lawrence (1885-1930) e Aldous Huxley (1894-1963), o escritor considerava a ficção como uma forma de responder às perguntas de como éramos e como seremos, e conhecer o mundo sem racionalidade. ‘Nem a ciência, nem a lógica, nem a política nos darão uma resposta. O romance também não nos dará, mas coloca a pergunta de uma maneira equivocada, de uma maneira cômica, transgressiva que as outras disciplinas não permitem’, chegou a dizer.
O próprio Fuentes chamou suas obras de ‘Idade do tempo’, com títulos como: ‘Los días mascarados’ (1954) – ‘Os dias mascarados’, em livre tradução -, ‘Gringo velho’ (1985) e ‘A vontade e a fortuna’ (2008), sobre a violência ligada com o narcotráfico. O escritor também possui na sua bibliografia ensaios de destaque como ‘Cervantes ou a critica da leitura’ (1976), ‘Os 68’ (2005), e ‘O grande romance latino-americano’ (2011).
Em 2008, o espanhol Juan Goytisolo disse que Carlos Fuentes, junto com García Márquez e outros autores do ‘boom latino-americano’, fortaleceu a literatura espanhola com a modernidade, depois da Espanha dar as costas à cultura universal durante séculos.
O crítico literário mexicano Christopher Domínguez também exaltou o trabalho de Fuentes. ‘É o conjunto mais complexo e variado da narrativa mexicana e reúne todas as conquistas e tendências da literatura contemporânea’.
Domínguez destacou que o desapego é o ponto de partida permanente de Fuentes, um escritor que chegou a descrever seus afazeres literários como uma luta de um boxeador com as palavras. O crítico ressaltou o romance ‘Terra Nostra’ (1975). ‘É o único de seus livros que pode ser lido além do horizonte mexicano’.
Esse romance, que está unido a ‘Rayuela’, de Julio Cortázar; ‘Cem anos de solidão’, de Gabriel García Márquez, e ‘Conversa na Catedral’, de Mario Vargas Llosa, é considerado o mais alto expoente de Fuentes.
Sobre a transição que começou em 2000 no México com a chegada ao poder de Vicente Fox por meio do Partido Ação Nacional (PAN), o escritor mexicano disse que o líder ‘chegou com uma onda de entusiasmo renovador que não podia cumprir’. No mandato, que durou até 2006, houve segundo o escritor um ‘Governo preguiçoso’ que deixou passar o momento histórico. Antes de Fox, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) passou 71 anos consecutivos no poder.
Entre os muitos prêmios que Fuentes recebeu estão o Cervantes (1987), o Príncipe de Astúrias das Letras (1994) e o Nacional de Literatura do México (1984). Além disso, ganhou distinções tais como a Ordem da Independência Cultural Rubén Darío, outorgada pelo Governo sandinista (1988); a Ordem ao Mérito no Chile (1993) e a espanhola Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica (2008). EFE