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Fim entre ficção e realidade fez jus a ‘A Grande Família’

Episódio acertou ao brincar com a metalinguagem para encerrar os catorze anos de exibição da série que pintou um retrato fiel da classe C emergente

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 set 2014, 02h05

O episódio que colocou o ponto final em A Grande Família, exibido nesta quinta-feira, fez jus à trajetória de sucesso da série, que conseguiu manter bom ibope durante os catorze anos em que ficou no ar, uma raridade em tempos de audiências magras na televisão. O enredo metalinguístico do episódio acertou ao brincar com a ficção e a realidade e colocou as cartas na mesa diante do espectador quando admitiu que o êxito do seriado é fruto do retrato fiel que a história pintou da classe C emergente.

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O reconhecimento se deu pelas palavras do diretor Daniel Filho, nome por trás da série original, exibida entre 1972 e 1975, e convidado especial do capítulo derradeiro do remake. O diretor, interessado em lançar um seriado sobre a família Silva, abordou Lineu (Marco Nanini) e companhia. “Mas a gente é tão comum”, desconfiou o patriarca. “Vocês são a representação típica da família de subúrbio brasileira”, respondeu Filho, sem rodeios, antecipando a repercussão positiva que um programa como esse poderia ter – como teve.

O racional Lineu só foi convencido de que a série poderia emplacar quando Tony Ramos bateu à sua porta e disse que ele seria o “popozão” da TV. No papel da mulher de Lineu, Nenê (Marieta Severo), foi escolhida Glória Pires, a eterna parceira de Ramos na franquia Se Eu Fosse Você. Lázaro Ramos e Deborah Secco dariam vida a Agostinho (Pedro Cardoso) e Bebel (Guta Stresser), enquanto o caçula Tuco (Lucio Mauro Filho), seria vivido por Marcelo Adnet. Alexandre Borges e Luana Piovani fariam o casal Paulão (Evandro Mesquita) e Lurdinha (Maria Clara Gueiros).

Com o início dos ensaios, Agostinho contou a Daniel Filho sobre seu passado, um tanto manchado por denúncias de corrupção quando havia sido eleito vereador e por uma passagem pela prisão. O diretor, então, decidiu cortar o personagem da série com a justificativa de que ele era muito negativo, o que não raro acontece na televisão. Durante a visita à cidade cenográfica onde a série foi filmada por catorze anos, e onde o seriado fictício seria gravado, Agostinho surtou: não pensava ser justo ficar de fora da produção.

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Instalou-se então uma discussão no melhor estilo A Grande Família, com Lineu despejando ofensas ao jeito trambiqueiro do genro, Bebel com respostas sempre fiéis ao seu marido e Tuco achando tudo engraçado. O filho mais novo, no entanto, foi o responsável por uma frase que acalmou os ânimos de todos: “Se a nossa família ficou todo esse tempo unida, é porque alguma coisa de especial ela tem, não é?” O clima de reconciliação tomou conta e a confusão valeu a pena para os Silva quando a produção percebeu que ninguém melhor para interpretá-los na TV do que eles mesmos. A família, então, foi contratada para estrelar o próprio seriado.

Tanta autorreferência valeu a pena em cada detalhe do episódio. Andréa Beltrão foi escalada para voltar a viver a cabeleireira Marilda e emocionou em seu reencontro com Nenê. Já Tonico Pereira foi escolhido para interpretar Mendonça, o chefe de Lineu na repartição, e duplicado em uma sequência em que o personagem conversava com seu intérprete.

O seriado, que conquistou os usuários das redes sociais e chegou a ter seis palavras-chave na lista das dez mais citadas no Twitter, terminou com a família reunida em volta da TV para assistir à estreia de seu programa. A cereja do bolo na metalinguagem do episódio se deu com o início da série que os Silva assistiam, que era, na verdade, o encerramento do último episódio de A Grande Família, com os personagens retratados em bonecos de papel, como mostrava a abertura de 2001, e uma seleção de cenas de todas as temporadas da produção.

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