Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Filme ‘Snowden’ pouco acrescenta ao documentário ‘Citizenfour’

Produção traz o ponto de vista do cineasta Oliver Stone sobre o ex-funcionário da CIA que revelou um esquema mundial de vigilância do governo americano

Por Mariane Morisawa, de Toronto
Atualizado em 10 set 2016, 16h06 - Publicado em 10 set 2016, 16h06

Oliver Stone é um cineasta que não teme defender uma opinião. Todo o mundo saiu de JFK – A Pergunta que Não Quer Calar (1991) crente de que foi mesmo uma conspiração que matou o presidente americano. Seu novo filme, Snowden, que teve sua sessão de gala na noite da sexta-feira (9) no Festival de Toronto, é menos contundente em seu ponto de vista, o que não quer dizer que seja melhor como filme. Mas é o melhor Oliver Stone em algum tempo.

Snowden, claro, é uma cinebiografia de Edward Snowden (vivido por Joseph Gordon-Levitt), o funcionário da Agência de Segurança Nacional que vazou documentos confidenciais para expor o nível de vigilância praticado pelo governo americano, que espiona redes sociais, procuras na internet, telefonemas e e-mails. Com seu passaporte anulado pelo Departamento de Estado, Snowden, impedido de viajar para a América Latina, acabou se exilando na Rússia, depois de entregar em Hong Kong o que tinha aos repórteres Glenn Greenwald e Ewen MacAskill, do jornal inglês The Guardian, e ser entrevistado por Laura Poitras, que fez o documentário Citizenfour, vencedor do Oscar no ano passado.

Stone viajou nove vezes à Rússia para encontrá-lo, uma delas acompanhado de Gordon-Levitt. O filme mostra a tensão desse contato entre Greenwald (interpretado por Zachary Quinto), MacAskill (Tom Wilkinson) e Poitras (Melissa Leo) com Snowden, que podia ser interrompido a qualquer momento pela CIA ou qualquer outra agência do governo americano. Mas, ao torná-lo central à história, também torna inevitável a já provável comparação com o belo documentário de Poitras. E a verdade é que Snowden, o longa de ficção, tem pouco a acrescentar.

https://www.youtube.com/watch?v=0105x3llAcA

O filme começa estabelecendo Edward Snowden como um patriota conservador impedido de seguir carreira militar por conta de uma fratura na perna. Ele então se inscreve na Agência Central de Inteligência (CIA). “Não sabia de muita coisa sobre ele, mas o que me surpreendeu mais foi seu patriotismo”, disse o ator Joseph Gordon-Levitt em entrevista coletiva na manhã do sábado.

Continua após a publicidade

“Seu pai era da Guarda Costeira, seu avô, do FBI. Ele se alistou no Exército no período mais perigoso da Guerra do Iraque. Para mim, existem dois tipos de patriotismo: aquele que aceita tudo o que o governo diz, sem questionamento, e aquele que quer seu país fazendo a coisa certa e, por isso, questiona as ações do governo.”

Snowden, para ele e para o filme, teria passado do primeiro tipo de patriotismo para o segundo. O longa também mostra o relacionamento do ex-funcionário da CIA com a namorada Lindsay. Apesar dos esforços da atriz Shailene Woodley, Lindsay passa a maior parte do tempo reclamando porque Edward trabalha demais e não pode contar nada para ela. O filme também poderia explorar melhor a relação com o seu recrutador para a CIA (Rhys Ifans) e com um de seus professores (Nicolas Cage), mas as interpretações engessadas não deixam muito espaço além da caricatura. Já Gordon-Levitt está bem, conseguindo imitar perfeitamente o timbre de voz e o tom de Edward Snowden, o que, na verdade, até distrai um pouco no começo.

Na entrevista coletiva na manhã do sábado, os atores contaram que começaram a tomar providências para se proteger da invasão de privacidade depois de fazer o filme, como tapar a câmera do computador com uma fita adesiva. “A privacidade é um privilégio”, disse Shailene Woodley. “As pessoas falam das redes sociais, mas nelas o usuário tem certa consciência da perda da sua privacidade. O problema é o resto. É preciso estar consciente sobre as formas como sua privacidade pode ser ameaçada, não para ficar paranoico, mas para ter algum poder.” Para Oliver Stone, o grande feito de Snowden foi avisar sobre as questões de privacidade. “Essas informações e esse poder podem estar nas mãos de um bom líder ou de um mau líder”, afirmou. “O que está acontecendo agora é chocante, porque não são apenas os drones atacando pessoas a milhares de quilômetros a distância, graças aos sistemas de vigilância, mas também a guerra cibernética. Está fora de controle. Não sabemos nem quem está fazendo o quê para quem”, completou o cineasta.

Quanto ao futuro do próprio Snowden, Stone não é muito otimista. “Ele disse que voltaria aos Estados Unidos se tivesse direito a um julgamento justo. Porque, na verdade, a lei proíbe até que ele testemunhe em seu próprio julgamento. Espero que o filme ajude de alguma maneira, e que o presidente Barack Obama tenha uma luz”, disse. “Mas só dá para ter esperança.”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.