Filme ‘O Homem nas Trevas’ prende com roteiro intenso e original
Vilões e mocinhos se misturam em um dos melhores suspenses do ano
Enclausurar um pequeno grupo de personagens é um recurso aparentemente simples, mas que pede por muita originalidade de roteiro e direção, além de boas atuações, para funcionar. Caso do recente (e ótimo) Rua Cloverfield, 10, e agora do igualmente intenso O Homem nas Trevas, que chega nesta quinta aos cinemas. Para melhor entender o clima do filme, vale olhar para seu título original no inglês: Don’t Breathe, ou “Não Respire”, em tradução direta. Ao longo da trama, conduzida pelo cineasta uruguaio Fede Alvarez, o público prende a respiração enquanto implora mentalmente para que os personagens façam o mesmo. Qualquer tipo de barulho pode ser fatal para o trio Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto) — e para a saúde de quem assiste à produção.
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Os primeiros minutos servem para apresentar os jovens de maneira inusitada. Os três entram com facilidade em uma casa com a missão de levar dali objetos de valor, desde que não passem de 10.000 dólares e não embolsem dinheiro vivo. Isso para que, caso sejam pegos em flagrante, recebam punição mais branda. Em seguida, os três começam a criar laços com o espectador. Rocky é uma garota que sofreu abusos psicológicos da mãe e sonha em fugir com a irmã mais nova, quando tiver grana para isso. Alex é apaixonado por Rocky, sua motivação para os roubos. E Money, como diz seu apelido, só quer dinheiro.
É a ponta gananciosa da tríade que aspira por um roubo maior. Money descobre a casa de um senhor solitário, que vive em um bairro abandonado, e pode ter na residência uma grande quantia em dinheiro. O homem cego (Stephen Lang, ótimo), que continuará sem nome até o fim do filme, ganhou uma gorda indenização quando uma garota rica atropelou e matou a sua filha.
Os jovens perdem a empatia do público ao decidir assaltar o homem, aparentemente indefeso. Ledo engano. Depois de muita dificuldade para entrar no local, eles são flagrados pelo morador, um Chuck Norris das trevas, que passa a caçar os intrusos dentro da residência. Os aspirantes a ladrões fazem valer o título original da produção. Enquanto se escondem, colocam as mãos sobre a boca para prender a respiração e tentam ao máximo se manter distante dos apurados sentidos do cego.
Durante uma hora, o filme se passa entre as paredes da casa, uma espécie de fortaleza sinistra, dona de segredos ainda mais assombrosos. Não demora para que os ladrões recuperem a torcida de quem está sentado na plateia do cinema, truque do roteiro que conduz a uma constante troca de papéis entre mocinhos e bandidos.
Com produção de Sam Raimi (diretor da primeira trilogia do Homem-Aranha e também de A Morte do Demônio, de 1981 – que ganhou um remake, em 2013, por Alvarez), o longa sustenta a tensão e se mostra muito mais audacioso que seu simples argumento. Não à toa, o filme conquistou a crítica e o público nos Estados Unidos, onde derrubou Esquadrão Suicida do topo das bilheterias. Poucos erros podem ser apontados na produção, e nenhum deles teria o poder de tirar O Homem nas Trevas da lista de melhores suspenses do ano.