Festival de Berlim: diretor de ‘A Caça’ faz filme morno sobre os anos 1970
Em 'Kollektivet', um casal quarentão enfrenta problemas depois de resolver transformar uma casa herdada em comunidade
Thomas Vinterberg pode fazer dramas explosivos, como Festa de Família (1998), sobre as revelações desagradáveis no aniversário de um patriarca, e A Caça (2012), sobre um homem acusado de abusar de menores. Mas Kollektivet (“A comunidade”, em tradução livre) não é um deles. O longa, exibido dentro da competição do 66º Festival de Berlim, é no máximo um simpático retrato de uma comunidade na Dinamarca da década de 70 – uma experiência vivida pelo próprio cineasta, que morou em uma dos 7 aos 19 anos e descreve a experiência como cheia de “genitália, cerveja, discussões acadêmicas de alto nível, amor e tragédias pessoais”.
Na história, a apresentadora de telejornal Anna (Trine Dyrholm, que trabalhou com Vinterberg em Festa de Família e com Susanne Bier no vencedor do Oscar Em um Mundo Melhor) é casada com o professor de arquitetura Erik (Ulrich Thomsen, também de Festa de Família). Os dois têm uma filha adolescente, Freja (Martha Sofie Wallstrøm Hansen) e estão na casa dos 40. Quando Erik recebe de herança a casa espaçosa de seu pai, Anna o convence a transformar a propriedade numa comunidade em vez de vendê-la. Assim, eles convidam amigos como Ole (Lars Hanthe) e o casal Steffen (Magnus Millang) e Ditte (Anne Gry Henningsen), pais de um menino adorável com problemas cardíacos, que costuma declarar que não vai viver além dos 9 anos. E abrem inscrições para desconhecidos, aceitando o imigrante Allon (Fares Fares) e a tranquila Mona (Julie Agnete Vang).
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Não faltam os elementos esperados, como reuniões para discutir os assuntos da casa, à moda das assembleias estudantis, e, sendo a Dinamarca, ainda mais nos anos 1970, nudez – Ole queima os objetos espalhados pela casa usando só um roupão aberto. O filme deixa de lado qualquer discussão política, um must na época, e presta pouca atenção aos coadjuvantes, focando no casal Anna e Erik, ainda mais quando ele se apaixona por sua aluna Emma (Helene Reingaard Neumann). É quando Anna sugere que Emma se mude também para a casa, uma noção provavelmente ingênua. Vinterberg reforça um pouco demais essa visão de que os personagens são ingênuos por quererem ser “civilizados”, chegando perto de ridicularizá-los, o que nunca é uma boa saída para um cineasta. O resultado geral é morno, uma palavra estranha para descrever um filme sobre os complexos anos 1970.