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Valesca Popozuda vai a Dubai para show e videoclipe

Cantora contou a VEJA que essa será a sua primeira apresentação internacional solo, e também falou sobre plásticas, machismo e feminismo

Por Lucas Almeida Atualizado em 9 Maio 2018, 12h16 - Publicado em 9 Maio 2018, 12h13

Valesca Popozuda está preparando as malas para uma viagem para Dubai. A cantora fluminense contou em primeira mão a VEJA que fará um show na festa Brazilian Spirit, nos Emirados Árabes, dia 19 de julho e aproveitará a viagem para gravar no local o clipe da sua próxima música de trabalho, ainda não divulgada.

Essa será a primeira vez que Valesca se apresentará fora do Brasil desde o início da carreira solo. No final do ano 2000, a funkeira embarcou no grupo Gaiola das Popozudas, em que se destacou alguns anos depois com músicas como Agora Eu Tô Solteira, Late que Eu Tô PassandoBebida que PiscaValesca partiu para o solo em 2012 e desde o último ano administra a própria carreira, com a ajuda de Kamilla Fialho — antiga empresária e hoje desafeto de Anitta.

Enquanto Dubai não vem, ou ela não vai, Valesca não para. Em março, lançou o single Desce um Gin, com um clipe gravado na Vila Mimosa, tradicional zona de prostituição no Rio de Janeiro. No vídeo, ela realiza o sonho de se passar por Julia Roberts e faz uma homenagem ao seu filme favorito, Uma Linda Mulher.

Aos 39 anos, Valesca ainda namora o empresário Patrick Silva, de 24 anos, e acompanha a carreira do filho de 18 anos, Pablo Gomez, que assumiu o nome de Mc Pablinho. E pensa e repensa as plásticas, o preconceito, a pressão para se adequar aos padrões de beleza da sociedade — e do funk — e defende o feminismo e a sororidade, a união solidária das mulheres.

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Confira abaixo uma conversa com a cantora:

 

Hoje, você passa uma mensagem positiva sobre se aceitar do jeito que é e ter orgulho do próprio corpo. Você sempre teve essa confiança? A gente vai amadurecendo. As porradas da vida fazem a gente amadurecer mais ainda. As pessoas queriam que eu fosse uma Barbie, mas só me ferrei com isso. Eu malhava de modo obsessivo para ter o corpo perfeito. A gente acaba seguindo regras de um padrão de beleza que não têm a ver com a gente. De 2016 para cá, parei com essa nóia, que não era o meu mundo.

Uma hora, eu disse ‘Chega’. Se quiserem, vão me aceitar do jeito que eu sou. Tenho celulite e estria mesmo. Digo até que são minhas amigas, porque estão sempre comigo. Vou comer o que eu quero, porque eu quero ser feliz. Eu quero me olhar no espelho e decidir se devo ou não malhar, não que outras pessoas decidam por mim. Eu sou mulherão, tenho corpão. Por mais que eu queira entrar em uma dieta, sempre vou ter um corpão. É de família. Se quiser me dar uma capa de revista, vai ser do jeito que eu sou. Eu já usei Photoshop, é normal, as pessoas usam. Mas hoje eu sou essa Valesca que não se esquenta mais com esse padrão e eu estou me amando.

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Se arrepende das cirurgias que fez? Me ofereceram uma capa se eu perdesse 10 quilos. Sempre tive pernão e minha perna nunca vai diminuir. Posso ficar magrinha, diminuir cintura, braço, mas vou sempre ter pernão. E me sugeriram de fazer uma lipo nas pernas. Eu trabalhava com uma pessoa que ficava me falando como eu ficaria linda e como seria legal. Fiz e só me f***. Não tive capa, fiquei com depressão por mais de um ano e quase perdi a perna, porque deu fibrose. Fiquei com a perna preta. Quando me perguntam qual é a parte do corpo de que mais gosto, eu falo das pernas. Sempre foram elas. E, de repente, precisava maquiá-las, não podia mais usar shorts. No maior calor, fazia show de macacão para não mostrá-las.

Recomendaria plástica para outras pessoas? Eu não sou contra plástica, mas acho que é preciso procurar um bom cirurgião e ter certeza do que se quer fazer. Se é algo que você quer para a sua vida mesmo. Quer fazer, faça. Mas com precaução.

Quando seu namoro se tornou público, muitos criticaram a diferença de idade entre você e Patrick Silva. Isso a ofende? Não liguei. Se eu estivesse com um velho de sessenta anos, iam falar que eu estava de olho no dinheiro, ou algo do tipo. O Patrick é jovem, mas começou a trabalhar novinho e hoje é empresário do mundo do funk, me ajuda com um artista meu, o Rael. Independente de ter 20, 30 ou 60, eu quero ser feliz. Os outros que criticam não estão na minha casa, ajudando, não devo satisfação. Só fiquei triste porque a maioria dos comentários que me massacravam era de mulheres. Somos tão vítimas do machismo, de preconceito com o corpo, com a roupa, que a maioria não para e pensa que poderia estar passando pela mesma coisa. Já falei muito sobre sororidade. Sou amiga, não só da minha família, das minhas irmãs, mas, se você me tem como amiga, vou estar ao seu lado, vou te apoiar. Isso é irmandade, é união.

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Vocês já moram juntos? Não, ainda estamos nos conhecendo. Às vezes, ele fica na minha casa, porque eu trabalho e viajo e ele não vive me seguindo. Não tenho rótulos para um relacionamento. Vou vivendo. Estamos felizes e minha família também. É isso que importa.

O funk é o novo pop. Em qualquer lugar que você vai, o pessoal está pedindo. É o pancadão, a gente desce até o chão.

Valesca Popozuda aos 17 anos de carreira

Dentro da indústria, discussões sobre preconceito e sobre a situação da mulher estão cada vez mais presentes. Como é no funk? O funk abre portas. Se a mulher quiser cantar e explodir com uma música, ela consegue. O funk vem da periferia e dá oportunidade para várias crianças serem o que quiserem. Eu, aliás, tenho o sonho de lançar um projeto chamado “Seja um Craque, Não Use Crack”. As crianças que estão na comunidade querem, por exemplo, jogar futebol. Elas se inspiram em um Ronaldinho, no Romário, agora no Neymar. Mas acho que não existe esse padrão de beleza no funk. O dia que isso chegar, eu vou ser a primeira a falar (risos).

Ao longo dos seus dezessete anos de carreira, o funk teve um crescimento de público em todas as camadas sociais. Você sentiu isso? O funk é o novo pop. Em qualquer lugar que você vai, o pessoal está pedindo. É o pancadão, a gente desce até o chão. Antes, o funk tocava mais nas rádios piratas das comunidades. Cansei de dar entrevista nesses lugares. A gente não tinha muita abertura em rádio, em TV, então tinha que correr atrás. Mesmo assim, conseguia estourar uma música. Mas ela bombava dentro da comunidade primeiro, para depois se espalhar. Então, a internet cresceu e o funk quis crescer também. Hoje, você estoura um MC na internet com uma música, mas não conhece a imagem dele. Antigamente, a gente trabalhava a imagem primeiro, para depois estourar uma música. O funk não fazia clipe, não tinha palcos glamourosos. Quem não embarcou na internet ficou para trás. Eu quis crescer com o funk. E quero que venham mais Anittas, Lexas, Ludmillas e que cresçam cada vez mais. Não tenho problema de ego, de querer estar à frente de tudo. Em 17 anos, eu já estourei música, mas nunca caí e nunca subi, sempre estive aqui. Se um dia eu cair, tudo bem, faz parte da vida, você levanta de novo.

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Você já defendeu que as mulheres se unam contra o preconceito. Ainda existe rivalidade feminina no funk? Acho que sim. Às vezes, as pessoas não têm o que dizer e comparam uma cantora com a outra. Falam que eu não gosto da Anitta e ela não gosta de mim ou que eu não gosto da Ludmilla, mas isso é invenção. É só me perguntar. E às vezes os fãs compram essa briga também, sem procurar entender a realidade.

Como você vê a investida da Anitta no mercado internacional? Acho maravilhoso. Sou fã. A Ludmilla também cresceu muito. Outra que adoro é a IZA, que está causando. Ela é tão carismática e tão linda. Já viajei para a Europa e para os Estados Unidos com a Gaiola das Popozudas. Em carreira solo, acho que ainda não chegou o momento. Quero ir para mostrar o meu trabalho. Mas nunca pensei em carreira internacional. Já comecei a fazer aula de inglês algumas vezes, e logo penso que não é para mim. Gravei a música do Marlboro em espanhol quase por acaso. Cheguei para gravar e soube que seria em espanhol. Também já cantei com a Dulce Maria em duas ocasiões em que ela veio para o Brasil. Mas não sonho com uma carreira fora do Brasil. Saio quando Deus quiser. Enquanto isso, estou aqui, brilhando. (risos)

E quanto ao preconceito… A gente tenta correr do machismo, mas não tem como. Por isso bato na tecla da sororidade. A gente vai ser sempre vítima de preconceito, de crítica pelas roupas, vão dizer que a gente está induzindo algo porque está com short curto. Uma criança nem sonha o que é sexo e está sendo molestada, sofrendo abuso sexual. No funk, há um pouco de machismo nas letras que os homens cantam, as que denigrem a mulher. Mas não condeno, eles estão botando o que vivem nas letras. E é uma troca. A gente pode responder. A gente pode fazer uma música acabando com eles. Se Deus deu o poder de você ter um filho, imagina onde você não pode ir.

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Valesca Popozuda (Gustavo Luizon/VEJA.com)

E assédio? Na época da Gaiola das Popozudas, um contratante entrou no camarim e tentou botar a mão em mim, achou que eu estava vendendo o meu corpo. Veio cheio de graça, eu estava fazendo babyliss e encostei o aparelho no peru dele. Me deu um nervoso tão grande, que eu comecei a chorar e, quando entrou gente, não sabia o que falar. As pessoas perguntaram o que houve e eu falei que estava com dor. Se contasse o que havia acontecido, naquela época, a errada seria eu. Não ia ser ele, que era um cara poderoso e iria tirar o cavalinho da chuva. A Valesca seria massacrada, a piranha que estava dando mole e depois havia se feito de vítima. Eu me calei ali, mas, ao lançar o livro, resolvi abrir a minha boca. É tão bom se libertar e mostrar para outras pessoas que elas devem falar. Conforme a gente guarda, se machuca mais. Corrói.

Você se tornou símbolo de mulher que se sente livre para ser sexy, o que também é defendido dentro do feminismo. Alguma mulher já te contou ter se identificado com essa característica? Muitas. Desde o momento em que comecei a cantar para elas. Antes, eu tinha um público 100% masculino, porque vinha da Gaiola das Popozudas. Aí, falei, “Por que eu vou ficar cantando para esses homens que, quando passo na rua, me chamam de gostosa e fazem piadas sem graça?”. Eu vim de um útero feminista, de uma mulher guerreira, batalhadora, que fez de tudo para me criar, comeu o pão que o diabo amassou, mas sempre esteve ali, forte. Então, eu tinha que trazer elas para junto de mim. Esse era meu objetivo: dar voz às mulheres para que elas se sentissem bem com elas mesmas. Foi algo natural. O meu trabalho foi crescendo, e hoje em dia eu faço até palestras.

Eu vim de um útero feminista, de uma mulher guerreira, batalhadora, que fez de tudo para me criar, comeu o pão que o diabo amassou, mas sempre esteve ali, forte.

Valesca Popozuda aos 17 anos de carreira
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