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Entrevista: Letrista do Pink Floyd, Polly Samson fala sobre novo livro

Esposa de David Gilmour, jornalista e escritora lança o romance 'Um Ato de Bondade' e exalta show do marido em São Paulo: 'Nunca vi ele tocar daquele jeito'

Por Daniel Dieb
20 dez 2015, 12h59

Mais conhecida como esposa de David Gilmour, guitarrista do Pink Floyd, a jornalista Polly Samson é autora de três livros e também letrista. Ela compôs, aliás, importantes faixas da banda britânica, como High Hopes, do disco The Division Bell (1994), e também canções da fase solo do músico, como A Boat Lies Waiting, parte do álbum Rattle that Lock, lançado neste ano. Polly aproveitou a turnê de Gilmour pelo Brasil este mês para vir ao país e lançar seu novo romance, Um Ato de Bondade, editado por aqui pela Record. A trama, inspirada em um acontecimento familiar, acompanha a vida de Julia e Julian, um jovem casal que leva uma vida tranquila com a filha, até que esta é acometida por uma doença. A enfermidade revela segredos que alteram por completo a relação familiar.

Em entrevista ao site de VEJA, Polly fala sobre as inspirações de Um Ato de Bondade, como se dá a parceira musical com o marido, quem ela descreve com “muitas dificuldades de se expressar emocionalmente e musicalmente”, e sobre as diferenças entre escrever uma ficção e compor uma canção. Já sobre a apresentação de sábado, 12, de Gilmour em São Paulo (ele também tocou em Curitiba e em Porto Alegre), ela crava: “Eu nunca vi David tocar daquele jeito”.

Quando e como foi a sua primeira colaboração musical com David Gilmour? Foi em 1993 e aconteceu de forma bem orgânica. Eu estava com mononucleose, uma febre bem alta, e ele estava no estúdio compondo. Então David veio e falou que tinha uma música, mas não sabia como a letra deveria ser. “Sobre o que você quer que ela seja”, perguntei. Então, comecei a dar sugestões e ele anotou tudo o que eu disse. Eu não sabia que ele iria usar aquilo. Depois, David me mostrou a letra e falou que “funcionava muito bem”, e eu não concordei (risos).

Você compõe letras de músicas e escreve livros. Qual a diferença entre o processo criativo de ambos? Em relação às letras, David me dá demos das músicas e eu as escuto enquanto saio para caminhar. Sinto quais delas conversam comigo, quais me sugerem sobre o que elas podem ser. Mas o que me ajuda bastante é que David murmura sílabas, vogais e consoantes. Há palavras debaixo da superfície, apenas esperando para surgirem. A principal diferença entre escrever ficção e letras de música é que, na ficção, tudo sai de mim, como os personagens. Mas escrever uma letra tem essa incrível sugestão que é a música. E, conhecendo David e o que passa na cabeça – provavelmente melhor que qualquer outra pessoa -, sei que ele vai ser a pessoa que irá cantar minhas palavras. Eu tenho que sentir que a letra é real para mim, mas que ela também seja real para David.

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Livro 'Um Ato de Bondade', de Polly Samson
Livro ‘Um Ato de Bondade’, de Polly Samson (VEJA)

Quais foram as inspirações para a trama de Um Ato de Bondade? Foi uma história de família bem antiga. Eu tinha um tio-avô que passou pela mesma situação de Julia e Julian, personagens do livro, só que mais complicada já que era durante a Segunda Guerra Mundial e ele era judeu. O melhor amigo dele ia se mudar para os Estados Unidos e meu tio-avô não podia ter filhos. Então, como eles dificilmente se veriam, esse amigo realizou o “ato de bondade” com a esposa do meu tio-avô. Anos depois, ele, a mulher e a filha se mudaram para Paris, o que obviamente não foi uma boa ideia. Depois ele as enviou para os Estados Unidos para morar com aquele melhor amigo. O problema é que demorou seis anos para meu tio-avô conseguir sair da França e, quando ele chegou à América, teve de reclamar pela esposa e pela filha, que viviam com esse amigo. Meu tio-avô não conseguiu tê-las de volta e retornou para Paris. Eu o amava e o conheci quando era criança, e ele cometeu suicídio quando eu tinha onze anos, pois ele não conseguiu superar aquilo.

A canção A Boat Lies Waiting, de Rattle that Lock, escrita por você e Gilmour, é uma homenagem a Rick Wright, tecladista do Pink Floyd que morreu em 2008. Como foi compor essa música? Bem, luto é universal e eu também o senti por Rick, já que eu o conhecia por vinte anos, e, de certa forma, ele morreu duas vezes para nós. O homem que amávamos morreu e o músico também. Quando David gravava este álbum, ele se arriscava nos teclados, mas nunca era a mesma coisa. Ou seja, para David foi uma perda irreparável e eu tentava fazer com que ele se expressasse emocionalmente, musicalmente, e David nunca usa palavras. Depois nós fomos para a praia e, enquanto eu olhava para um barco, perguntei para David o que a música realmente significava para ele, sendo que naquele ponto eu desconhecia que era para Rick. “É sobre a mortalidade”, David respondeu.

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Há alguma faixa de Rattle that Lock que você relacionaria com seu livro? A própria música Rattle that Lock se relaciona ao livro. Ela fala sobre protestar, sobre ter o direito de lutar pelo que você acredita. E ela se relaciona também a Paraíso Perdido, de John Milton, que foi minha inspiração para o personagem Julian, que é um acadêmico que estuda Milton. Nessa obra, Milton fala sobre quando o diabo enfrenta Deus e que, quando se está tão mal, não há nada para perder.

Os shows de David no Brasil estavam lotados. Como foi essa turnê para você? Foi incrível. Mas eu tenho que dizer que no sábado, em São Paulo, e eu não estou brincando, nunca vi David tocar daquele jeito. Ele saiu tão feliz e tão animado com aquela recepção do público. Andei pela plateia e as pessoas estavam felizes, simplesmente felizes. Foi fantástico. David sentiu que tinha todo o tempo do mundo, que não precisava se preocupar com nada mais além de tocar. Ele amou o público.

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