Em novo disco, Pitty volta às raízes do rock pesado
Com saudade do som que a fez famosa, cantora baiana retoma o estilo e lança mão de letras que tratam sobre morte e resiliência
Em 2011, a cantora Pitty encostou a guitarra e o som pesado que a fizeram famosa para se aprofundar no piano e lançar o projeto Agridoce, acompanhada por Martin Mendonça no violão. Com uma levada mais calma, próxima ao folk e à MPB, e letras românticas, o duo se apresentou em grandes festivais, como o South By Southwest (SXSW), nos Estados Unidos, e na edição brasileira do Lollapalooza, em 2013.
Findo o período de férias, a cantora quis retornar às raízes, desejo refletido em seu quarto disco de rock, Setevidas (Deck), que chega às lojas nesta terça-feira, cinco anos após seu último trabalho de inéditas no estilo, Chiaroscuro.
“Uma voz interna me dizia que era hora de voltar. E ela foi ficando cada vez mais alta. Bateu muita saudade de fazer esse som mais pesado. Definitivamente não sei viver sem isso”, afirma Pitty em entrevista ao site de VEJA.
O retorno não deverá causar estranhamento nos ouvidos dos fãs da banda, que leva o mesmo nome da cantora e marcou o cenário do rock nacional com hits como Máscara, Equalize, Admirável Chip Novo e Teto de Vidro, no início dos anos 2000. As guitarras distorcidas com riffs agressivos e a percussão marcante voltam com mais força, agora amparadas pela produção de Rafael Ramos e mixagem do britânico Tim Palmer, que já trabalhou com gigantes do rock como U2, Pearl Jam e Ozzy Osbourne.
A melhora na qualidade do som é perceptível. Contudo, a principal diferença em relação aos trabalhos anteriores reside nas letras, que ganham um tom mais obscuro e introspectivo. Saem os dramas pós-adolescência e as pitadas de rebeldia para dar lugar a temas como morte e resiliência.
A faixa que dá título ao álbum, Setevidas, reflete com vigor essa nova fase. Na letra, como um gato, Pitty diz ter morrido quatro vezes só nos últimos cinco meses. Para ela, o título do disco, assim como a música, trata de alguém “resiliente e duro na queda”, que sobrevive a diversos problemas e adversidades encontradas no caminho. “De alguma forma as letras são permeadas por essa característica de resiliência, mortes e nascimentos, reais e metafóricos”, diz a cantora.
A canção Do Lado de Lá é outro exemplo. Na letra, Pitty faz uma metáfora com a passagem entre a vida e a morte: “Pra quê essa pressa de embarcar/Na jangada que leva pro lado de lá?”. Uma das fontes de inspiração, segundo a cantora, foi morte do guitarrista Peu Sousa, integrante da formação original da banda que se suicidou em maio de 2013. “Ele foi o estopim dessa vontade de escrever sobre isso. Depois, outras situações se somaram e contribuíram para o resultado final”, conta Pitty. “É um processo muito mais intuitivo do que racional. Tem que sentir e fazer, só.”