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‘Elvis & Nixon’ desconstrói tanto o presidente como o ‘rei’

Filme de Liza Johnson sobre o encontro - real - entre duas das maiores personagens do século XX é marcado pela ironia, especialmente sobre o mundo do entretenimento e a política americanas

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jun 2016, 17h07

A foto mais requisitada aos Arquivos Nacionais do governo dos Estados Unidos nada tem a ver com conquistas bélicas, econômicas ou espaciais. Nem cores tem. É a imagem do encontro inusitado de dois homens que nada têm a ver entre si. À esquerda, levemente corcunda, se vê o presidente que deixaria inconcluso o mandato em meio a um escândalo de grandes proporções. Ao seu lado, alto e empertigado, com um casaco jogado sobre os ombros e uma gigantesca fivela no cinto, um cantor que seduzia o público com o seu gingado e que queria nada menos que o distintivo de federal agent-at-large (algo como Agente Federal Amplo), cargo que ele mesmo inventava. O aperto de mãos entre Richard Nixon e Elvis Presley é reproduzido em Elvis & Nixon, longa em que Liza Johson refaz o encontro entre um dos maiores ídolos do entretenimento de todos os tempos e o homem que era considerado o mais poderoso do mundo quando ocupava a Casa Branca. O filme, em cartaz desde quinta-feira, é uma peça de ironia fina, com alfinetadas precisas no ego de estrelas e na política americana.

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Linear, o longa tem início com Elvis (Michael Shannon) na sala de casa, assistindo à televisão, a poucos dias do Natal de 1970. Notícias sobre a disseminação da maconha entre os jovens americanos teriam deixado indignado o chamado rei do rock, que então teria decidido se encontrar pessoalmente com Nixon (Kevin Spacey, de novo como presidente dos EUA) para pedir a ele o distintivo de agente especial e ajudar a salvar a juventude das drogas – na verdade, ele queria era fazer passar pela fronteira, sem qualquer obstáculo, o volume de entorpecentes que desejasse, como mais tarde a mulher, Priscila, contaria em suas memórias, de acordo com a revista Variety.

E Elvis não quer ir sozinho. Em um capricho, convoca um ex-funcionário, agora em plena ascensão na indústria do cinema, e o faz deixar de lado o trabalho e segui-lo na aventura. É a partir de Jerry (Alex Pettyfer) que se conta boa parte da história e é a partir da relação dele com Elvis, a quem chama carinhosamente de “E”, que o público tem acesso aos traços mais egocêntricos e infantis do cantor.

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Ao chegar a Whashington, Elvis se dirige pessoalmente à Casa Branca e entrega uma carta, escrita de próprio punho, aos seguranças. Todos – seguranças e equipe de comunicação do presidente Nixon – se desdobram para a carta chegar ao presidente e para que ele aceite se encontrar com o ídolo da música. Uma relação com uma figura tão carismática faria bem para a sua popularidade, calculam auxiliares. São eles que se encontram como que às escondidas — em uma possível referência ao caso de Garganta Profunda — com Jerry e Sonny (Johnny Knoxville), outro assistente que Elvis recruta para acompanhá-lo na viagem. Nesse encontro meio sorrateiro, eles combinam de investir nas filhas de Nixon. Se uma das duas for fã, vai convencer o pai a receber Elvis Presley no famoso salão oval — aqui, espectadores de House of Cards podem ter um déjà vu. Se não para falar de política com ele, ao menos para pegar um autógrafo e uma foto. A tal imagem que seria imortalizada.

A conversa, prevista para durar cinco minutos, se alonga muito mais, tanto porque Nixon não consegue arrancar os mimos para a filha mais velha, Julie, como porque parece se encantar com aquela figura de óculos escuros que lhe traz uma arma de presente. Elvis é, de fato, um tipo curioso. Sem falar do narcisismo que o coloca à frente de todos — Jerry corre o risco de perder o jantar em que conhecerá os sogros porque o cantor não o deixa voltar para Los Angeles enquanto não tomar posse como agente especial.

A crítica ao estrelismo do cantor é bem inserida, mas os momentos em que Elvis desabafa com Jerry, lembrando o menino que era na infância ou como as pessoas não o veem de verdade, apenas o conhecem por sua música, são notas dissonantes em um filme construído com fina ironia — como quando Nixon reclama das dificuldades dos EUA no Oriente Médio como se fosse algo do momento, meramente passageiro. Essa psicologia toda não cai bem na construção cinicamente saborosa de Elvis e Nixon feita por Shannon e Spacey, que fingem levar a sério seus personagens e são capazes de fazer o público esquecer que, fisicamente, eles nada têm a ver com os dois. É chato, mas não chega a estragar a diversão. Que Elvis & Nixon entrega de bandeja na poltrona do cinema.

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