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Dom Sabino é típico exemplar masculino do século XIX. Ou seria XXI?

Personagem, que encontrou um Brasil diferente após ficar mais de cem anos congelado, faz refletir sobre quanto o comportamento dos homens, de fato, mudou

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 set 2018, 17h15

Dom Sabino, personagem de Edson Celulari na novela das 7 da Globo O Tempo Não Para, é um clássico homem das classes mais abastadas do século XIX. Dono de terras, pai de família, bem relacionado na alta sociedade e, claro, branco. Como quase todo homem rico da época, tem escravos trabalhando em sua fazenda e não admite intervenções nos negócios por parte da esposa ou da filha mais velha, afinal, são mulheres e não devem opinar.

Depois de se acidentar em um navio, ser congelado e descongelado no século XXI, porém, tudo mudou. O fazendeiro foi apresentado a um Brasil que se livrou da escravidão há mais de cem anos e onde mulheres não só trabalham, mas chefiam famílias, vão à praia com roupas mínimas e escolhem com quem (e se querem) se casar. Apesar de aceitar e concordar com algumas das transformações – como o fim do trabalho escravo – não consegue se ajustar a outras, principalmente quando o assunto é o papel da mulher neste século. Em entrevista a VEJA antes da estreia do folhetim, Celulari reforçou que a história trataria da reabilitação de uma pessoa que vivia em outra realidade, com outros valores.

Às vezes, os disparates de Dom Sabino funcionam para trazer conflito à trama, já que quase sempre terminam em discussões com a filha Marocas (Juliana Paiva). Em outras, para trazer alívio cômico – como quando, momentos antes de conhecer Carmen (Christiane Torloni), ele se depara com fotos da mãe de Samuca (Nicolas Prattes) de biquíni e mal consegue manter a boca fechada de tanto que a deseja, caminhando entre o engraçado e o desrespeitoso. Mas o fato é que também provocam reflexão: quanto, de fato, o comportamento masculino mudou desde que o personagem foi congelado, no final do século XIX, até agora? A ideia de que mulheres são seres frágeis e que devem ser protegidos ainda é circulante. A contradição entre desejar a mulher em roupas mínimas, quase ao mesmo tempo em que se julga seu comportamento como “indecoroso” também.

Ao ouvir de Marocas que ela gostaria de começar a trabalhar, Dom Sabino diz que “não pode transigir com o que é errado”. A moça se surpreende, já que o próprio pai havia dito certa vez que o trabalho dignifica. “Quando se trata de um homem…”, tenta explicar o patriarca dos Sabino Machado. “Ora, o senhor não está me dizendo isso!”, responde a mocinha, muito provavelmente a personagem que melhor se adaptou ao século XXI. Em conversa com Carmen, ele desabafa sobre o diálogo com a filha e diz que uma mulher “deve cuidar da casa e dos filhos”. Capítulos depois, Dom Sabino descobre que Marocas, no fim das contas, se tornou funcionária na empresa de Samuca e quer matá-lo por isso.

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“Eu sou homem. A um homem se perdoa certo brio, certa maneira de agir, o ímpeto, a conquista, é da nossa natureza. Uma mulher deve se comportar com recato, um homem tem necessidades” (Dom Sabino, protagonista de ‘O Tempo Não Para’

Com a mesma Carmen, acaba trocando um beijo proibido – ele, afinal, é casado – no banheiro masculino da companhia de Samuca. Ao se encontrarem novamente, pede desculpas pelo beijo, mas muda de tom ao concordar que a mulher não deveria estar naquele banheiro. “Não é digno a uma mulher adentrar um recinto reservado para cavalheiros. Isso não é de bom tom e nem de boa compostura”, diz. “O sexo frágil tem seu próprio toalete. A senhora é mulher, tem que guardar a compostura.” Chega à conclusão em seguida que, no fim das contas, talvez a culpa pelo beijo fosse mesmo de Carmen: “Eu sou homem. A um homem se perdoa certo brio, certa maneira de agir, o ímpeto, a conquista, é da nossa natureza. Uma mulher deve se comportar com recato, um homem tem necessidades”.

Nesta semana, depois de romper o noivado com Samuca, Marocas avisa à família que vai morar sozinha e Dom Sabino se enfurece. “Marocas, você está sendo irresponsável, leviana! Morar sozinha, longe do olhar do seu pai… do cuidado de sua mãe. Uma mulher de família não faz isso!”, diz. “A mulher é um ser abençoado que dá à luz os nossos filhos, o esteio do lar, a base moral da família. Uma mulher precisa ser protegida.” A jovem, então, solta um rebelde “meu pai, cale a boca”. Chocado, ele questiona de onde saiu tanta “irreverência e agressividade”?

A vida não está nada fácil para Dom Sabino. Afinal, mulher não deveria viver sozinha, ter vida sexual, andar com roupas curtas, ou desrespeitar os homens. Mas Dom Sabino tem uma desculpa: ele nasceu em 1800 e trá-lá-lá.

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