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Documentário de Cauby Peixoto desaponta pela superficialidade

Filme perde tempo com fãs e exagero de números musicais em vez de mergulhar na história do cantor

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 Maio 2015, 16h03

Cauby Peixoto, 84 anos, é um personagem interessantíssimo da história da música nacional. Ídolo popular que se estabeleceu na era do rádio, nos anos 1950, o cantor é um showman como poucos no Brasil. Ele foi pioneiro por levar aos palcos o estilo teatral, com exageros vocais e faciais, melismas marcantes e o figurino purpurinado inspirado no pianista americano Liberace. Pena que o documentário Cauby – Começaria Tudo Outra Vez, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, desaponta ao ficar na superfície da história do cantor, que se torna um coadjuvante do próprio filme.

A produção dirigida por Nelson Hoineff (de Alô, Alô, Terezinha e Caro Francis) começa com os bastidores de um show, em que Cauby se prepara para entrar no palco, cenas embaladas pela canção Minha Voz, Minha Vida, entoada com primazia pela marcante voz do cantor. Enquanto ele analisa alguns dos ternos coloridos e brilhantes que tem à disposição, e passa pelo processo de cabelo e maquiagem, o documentário vai para a casa de Tadeu Kebian, fã de 15 anos de Cauby, dono de uma coleção de CDs, DVDs e vinis do cantor. Apesar de ser uma figura fora da curva, Kebian não tem muito a acrescentar ao filme, assim como outro grupo de antigas seguidoras de Cauby, que aparecem reunidas em uma mesa compartilhando algumas histórias do ídolo.

A enrolação entre fãs, falatório de especialistas e participações especiais, como as de Emílio Santiago, Agnaldo Rayol e Maria Bethânia, arrasta toda a primeira hora do documentário, um projeto já antigo de Hoineff. O ápice fica por conta do único depoimento longo do Cauby dos dias de hoje, em que ele assume ter tido relações homossexuais no passado, afirmação inédita do cantor, que sempre presou pela discrição. “Era natural transar com veados”, diz antes de afirmar que tudo não passou de uma onda entre os garotos. “Depois comecei a andar direito”, conta, sobre o início das relações com mulheres.

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Os últimos trinta minutos da produção ficaram encarregados de contar de forma acelerada a trajetória do artista, especialmente seu relacionamento com o empresário Edson Collaço Veras, o Di Veras, responsável por transformar o jovem carioca suburbano em uma versão abrasileirada de Frank Sinatra. Foi então que surgiram os ternos ousados, o jeito arrastado de falar e cantar, e até o exagero do sorriso perfeito – ele fez Cauby arrancar todos os dentes e usar uma prótese. Di Veras também criou estratégias de marketing malucas para a época, como instigar um grupo de garotas a arrancar as roupas do cantor em uma crise histérica combinada, com o intuito de fazer dele um galã desejado. É neste momento que o segundo e último depoimento de Cauby surpreende. “Se não fosse o Di Veras, eu seria um homem rico”, se resigna sobre os alegados abusos financeiros do empresário.

A falta de foco na história é suprida pelos muitos números musicais, intercalados entre apresentações atuais e antigas. Na seleção, Cauby canta clássicos variados, como Sangrando, ao lado de Rayol e Timóteo; Bastidores; Tarde Fria; Boa noite, Amor, com Ângela Maria; New York, New York e Samba do Avião, entre outras. Por fim, ele entoa a canção título do filme, Começaria Tudo Outra Vez, letra de Gonzaguinha, que serve como discurso de autoafirmação para o cantor e sua trajetória. No fim, a sensação deixada pelo documentário é de que uma boa pesquisa no YouTube seria tão satisfatória quanto, ou até mais.

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