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Diretor usa clipe de Amarantos para dar representatividade a negro e índio

Marcelo Sebá afirma que objetivo do vídeo da cantora paraense não é fazer 'marketing e nem política'

Por Leandro Nomura Atualizado em 26 Maio 2018, 10h00 - Publicado em 26 Maio 2018, 10h00

Na noite em que a vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) foi assassinada, em março deste ano, o diretor Marcelo Sebá acordou no meio da madrugada com uma ideia. Ele estava em processo de concepção do clipe de Sou Mais Eu, canção da paraense Gaby Amarantos, e, impactado com a notícia, pensou em fazer um vídeo com um elenco formado apenas por pessoas da população negra e indígena. “A letra da música é super-feminista, uma música de empoderamento”, conta.

Ele afirma não ser “marketing e nem política”, mas uma forma de “atender uma necessidade de mercado de gerar representatividade”. “É preciso começar a produzir material audiovisual para que as crianças negras se vejam representadas e para que as crianças brancas se divirtam e cresçam com o olhar educado para isso”, diz ele, que também dirigiu os clipes Vai Malandra, de Anitta, e Solta a Batida, de Ludmilla.

O videoclipe tem estreia prevista para o próximo domingo, 27, e conta com 20 pessoas no elenco, como a judoca e campeã olímpica Rafaela Silva, o modelos Nabilah Sedar e Veluma, a rapper Preta-Rara, os atores Jéssica Ellen, Jonathan Azevedo e Eunice Baía — que viveu a índia Tainá nos cinemas —, além da acriana Gleici Damasceno, vencedora do BBB18. “Tem muito da cultura indígena, do Pará e da Amazônia”, comenta. “É uma homenagem e uma reverência a essas pessoas.”

O diretor Marcelo Sebá: ‘Não é marketing e nem política, é só atender uma necessidade de mercado de gerar representatividade’ (Heitor Feitosa/VEJA.com)

Outros projetos

Além do clipe, Marcelo Sebá está produzindo outros dois projetos com negros como protagonistas. Um deles é um programa de debates, que contará com a jornalista Maju Coutinho, a escritora Fernanda Young e ele mesmo na bancada, além de um convidado. Em junho, os primeiros pilotos serão gravados. O projeto está em negociação com as emissoras.

Outro é uma série de ficção chamada Vala do Sangue, baseada num fato real de sua vida, com previsão de estreia em 2019. O protagonista será vivido pelo ator Danilo Ferreira. Na produção, ele será um rapaz que se torna garoto de programa para poder pagar os estudos, história de uma pessoa com quem Sebá teve um relacionamento.

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“Alguém sabe que a Chica da Silva financiou a Inconfidência Mineira? Que Machado de Assis era negro? Existe uma tradição no Brasil de se negligenciar a importância da mulher e do negro na história. O que eu quero mostrar é que para um negro ascender socialmente o caminho é muito mais árduo”, diz.

Na vida real, o ex-namorado do diretor é de Pernambuco. Mas na ficção ele virá de um local conhecido como Vala do Sangue — onde Sebá passou parte da infância, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio —, que dá nome à série. “Tinha um matadouro, e o sangue e os detritos dos bois abatidos ali eram jogados numa vala a céu aberto. O local foi inaugurado com pompa e circunstância com a presença de Dom Pedro II e da família real assistindo ao abate do primeiro boi”.

Ele conta que o empreendimento levou progresso para a região, como luz elétrica. “No entanto, o único intuito foi tirar o matadouro de São Cristóvão, porque o fedor incomodava ao imperador na Quinta da Boa Vista (onde ele residia). A gente tem uma tradição histórica de varrer a sujeira para debaixo do tapete”, conta. “A Vala do Sangue é onde a gente vive. É o assassinato da Marielle, é o mundo sangrento que a gente vive.”

O roteiro será assinado por ele em parceria com Evandro da Conceição. “Ele é negro, gay e da periferia. A gente está falando com muita propriedade”, diz.

Apropriação cultural

Branco, Sebá afirma que considera o debate sobre apropriação cultural “uma bobagem”, “uma chatice, uma besteira”, e que sua intenção é dar representatividade para os negros em produções audiovisuais.

Ele afirma que não concorda que um branco não poderia dirigir um clipe apenas com negros e índios. “Primeiro, porque a ideia foi minha. Vou fazer o quê? Vou me demitir? Eu estou fazendo o meu papel social, uma coisa que eu acredito. Gostaria que muitos outros brancos fizessem isso”, diz ele, que conta ser bisneto de uma negra.

Ele afirma ainda que o debate sobre mulheres brancas usarem turbante deveria ser motivo de “celebração e reconhecimento da beleza e da cultura negra”. “O que a gente quer? Unir e gerar empatia ou criar uma nova guerra racial?”, questiona.

“A minha questão (nos projetos) não é só racial. É LGBTQ, gordofobia, intolerância religiosa, transfobia, misoginia, xenofobia. Eu sofri bullying por preconceito de classe quando eu mudei de Santa Cruz para o Leblon. Me preocupa a questão do respeito, e isso eu tento colocar em toda a brecha que eu tenho no trabalho.”

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