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Diretor iraniano condenado à prisão se liberta em filme

'Cortinas Fechadas' é um filme-manifesto de Jafar Panahi sobre o pena que cumpre desde que foi considerado "perigoso" pelo governo iraniano

Por Diego Braga Norte 26 out 2013, 09h17

Jafar Panahi está preso. O diretor iraniano de O Balão Branco, O Círculo e Isto Não É um Filme conquistou respeito e prêmios fora de seu país. Em sua terra natal, porém, depois de ser perseguido pelo regime autoritário dos aiatolás, em 2010 ele foi condenado a seis anos de prisão e proibido de filmar por 20 anos. Segundo a “Justiça iraniana” (com todas as aspas possíveis), Panahi tinha a “intenção de cometer crimes contra a segurança nacional do país e de fazer propaganda contra a República Islâmica”. Entre idas e vindas da cadeia, ele conquistou, pelo menos, o “direito” (de novo entre aspas) de cumprir pena em prisão domiciliar. Assim, não precisa permanecer em uma cela, distante de tudo, mas segue com a liberdade cerceada, com hora para chegar em casa e com viagens vetadas para o exterior.

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Jafar Panahi está livre. Seu último longa-metragem, Cortinas Fechadas, em parceria com o também diretor iraniano Kambuzia Partovi, é um filme-manifesto contra a sua prisão. Selecionado para concorrer ao Urso de Ouro em Berlim neste ano, a obra foi bastante aplaudida e levou o prêmio de melhor roteiro no festival. Foi uma surpresa, porque o roteiro em questão não é nem um pouco convencional. Na história, um escritor se refugia em uma casa para escrever e esconder seu cachorro de estimação – cães são considerados “impuros” pelo regime e, portanto, proibidos. A rotina do escritor muda bruscamente com a chegada repentina de uma jovem que também é perseguida. Ela participara de uma festa clandestina.

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Jafar Panahi está preso. Em 2011, o diretor conseguiu burlar a proibição de filmar e contrabandeou o documentário Isto Não É um Filme para o Festival de Cannes. Para tal proeza, escondeu uma cópia em um pen drive, que viajou para a França dentro de um bolo. O filme chegou são e salvo, mas Panahi permaneceu preso. No filme, cujo título parodia uma famosa obra do pintor surrealista René Magritte, Ceci n’Est Pas Une Pipe (Isso Não É um Cachimbo), o diretor ironizava e denunciava a sua condição de artista preso na própria casa.

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Jafar Panahi está livre. Perturbado por não conhecer a jovem que invadiu sua casa, o escritor começa a se preocupar ainda mais com a sua segurança e a de seu cão – tão bom diante das câmeras quanto o simpático cachorrinho que encantou plateias em O Artista. A jovem entrou na casa simplesmente porque a porta estava destrancada. Uma vez lá dentro, ela pede ao escritor para ficar. E vai ficando. Toma banho, troca de roupas e, para desespero do escritor, abre as cortinas negras da residência.

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Jafar Panahi está preso. O filme Cortinas Fechadas viajou à Alemanha, mas o diretor, não. Mesmo com o convite oficial do governo alemão, que tentou, em vão, interceder junto ao Irã, Panahi seguiu preso. Cortinas Fechadas começa com uma câmera parada dentro da sala da casa em que se passa todo o filme, com foco na janela. Na sala de cinema, temos a nítida sensação de estarmos presos: a tela mostra as grades da janela e o muro externo da propriedade, a visão que tem Panahi a maior parte do tempo. A cena é longa e a experiência anuncia o que está por vir.

Cortinas Fechadas
Cortinas Fechadas (VEJA)

Jafar Panahi está livre. O enredo ganha uma bela reviravolta com a entrada em cena do diretor. Ele aparece na casa, decorada com pôsteres de filmes seus, mas simplesmente não se relaciona com o escritor e a jovem. Talvez o escritor e a jovem não existam, estão apenas na cabeça de Panahi e em seu filme. A jovem, de índole mais libertária, poderia ser interpretada como uma metáfora do Id (aquela parte mais selvagem do inconsciente, como definiu Freud) do diretor, enquanto o escritor, muito mais centrado e constantemente preocupado, seria o Superego (a parte que filtra os impulsos impensados). A Panahi, sobrou o papel de seu próprio Ego, a parte da personalidade que brota do equilíbrio entre as pulsões instintivas e as repressões da razão.

Filmado de maneira simples, quase singela, o longa só foi possível porque gravado escondido, com poucos atores e material técnico (luz, câmera, microfones) obtidos por Kambuzia Partovi. Não é um filme fácil, mas é uma obra inovadora e consciente de sua condição de manifesto. Preso e proibido de trabalhar, o diretor nos mostra que ele pode, ao menos, libertar a sua capacidade artística. E a arte é e deve ser livre.

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