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‘Dheepan’, a Palma de Ouro imerecida, acerta no tema: refugiados

Filme de Jacques Audiard é preciso na escolha do assunto do momento e ousado em misturar gêneros, mas não tão bom que merecesse o prêmio máximo de Cannes ou 25 reais de investimento

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 30 out 2015, 15h09

Há obras que se destacam pela ambição. O colossal Ulysses, de Joyce, com certeza é uma delas. Em outras, porém, a pretensão do autor pode dar lugar ao ridículo, (quando o projeto fica aquém de sua proposta) ou à farsa (quando os objetivos são satisfeitos apenas em parte). É nesse último caso que se enquadra Dheepan: O Refúgio, desde quinta em cartaz. O filme de Jacques Audiard (Ferrugem e Osso) tem seus méritos, mas está longe de representar uma realização bem-sucedida – e menos ainda de merecer a Palma de Ouro, prêmio máximo do Festival de Cannes, que conquistou em maio último.

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Dheepan tem ousadia, não fica dúvida, por apostar em um tema quente, o dos refugiados na Europa, e em especial por se arriscar a questionar o conceito de cinema de gênero. Mas tanto o personagem principal, aquele que dá título à produção, não se sustenta, com mudanças bruscas ao longo do filme que fazem dele menos um caráter misterioso e fugidio ao espectador que uma figura incoerente e mal construída, como o roteiro parece um samba do crioulo doido com suas viradas de guerra para drama e de drama para thriller, quando Dheepan, que parecia ter se encontrado em uma vida quase pacata, se revela um guerreiro indestrutível do nível de Chuck Norris.

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O longa tem início no Sri Lanka, onde Dheepan, um guerrilheiro dos Tigres Tâmeis, grupo rebelde que queria a separação do país, perde a mulher e a filha, ao fim da guerra civil de 30 anos que destroçou a nação. Sua saída é emigrar com uma falsa família: as também sobreviventes Yalini (Kalieaswari Srinivasan) e Illayaal (Claudine Vinasithamby), uma menina órfã que se passa por filha dos dois.

Corta para a França, onde Dheepan aparece, com uma tiara de orelhinhas piscantes, como um vendedor ambulante na escuridão da noite de Paris, por onde ele se esconde da polícia. É o difícil recomeço no desterro, narrado em uma sequência econômica, que prescinde de retoques. Logo em seguida, porém, ele consegue emprego como zelador em um condomínio de prédios dominados pelo tráfico, na periferia. Yalini arruma trabalho no mesmo local, como doméstica no apartamento de um bandido inválido, Monsieur Habib. É a chegada do sobrinho de Habib, Brahim (Vincent Rottiers), saído diretamente da cadeia com uma tornozeleira eletrônica, que injeta tensão e incendeia a trama do meio para o fim.

É essa segunda virada que expõe com clareza as fragilidades do filme. A metamorfose operada em Dheepan aqui, mais que inverossímil, parece decalcada de outro filme – transplantada de uma outra história. É uma pena. Audiard faz um filme mediano, que tem de fato os seus méritos, mas que está longe de merecer a Palma de Ouro ou os seus 25 reais, investimento aproximado no ingresso.

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