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Desfile das escolas de samba completa 80 anos

Primeiro título foi da Estação Primeira de Mangueira, em 1932. Competição nasceu com apenas quatro agremiações e sem os carros alegóricos

Por Rafael Lemos
16 fev 2012, 11h30

Dentro de poucos dias, as principais escolas de samba do Rio de Janeiro cumprirão um ritual que se repete há exatos 80 anos. Foi em 1932 que um jornal carioca, o Mundo Sportivo, decidiu criar uma competição entre os sambistas do morro para preencher suas páginas nos meses de janeiro e fevereiro, fora da temporada esportiva. Naquele tempo, as escolas de samba e o próprio samba eram meros coadjuvantes no carnaval da cidade, então protagonizado pelos ranchos, corsos e grandes sociedades.

Os ranchos eram a principal atração do carnaval carioca, seguidos pelas grandes sociedades, dotadas de prestígio e popularidade, e, por fim, dos corsos, que eram voltados à elite. Só anos mais tarde o samba ganharia status, sendo saudado como a verdadeira música brasileira. O gênero foi alçado à condição de símbolo nacional com ajuda do governo federal, em meio ao projeto político do Estado Novo de Getúlio Vargas.

Curiosidades

  1. • O júri de 1932* era formado por:

    – Orestes Barbosa

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    – Eugênia Moreira

    – Álvaro Moreira

    – Raimundo Magalhães Júnior (pai da carnavalesca Rosa Magalhães)

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    – José Lira

    – Fernando Costa

  2. • 1935: Surge a primeira alegoria nos desfiles de escola de samba, com a Portela.
  3. • 1965: Dona Ivone Lara torna-se a primeira mulher a compor o samba-enredo de uma grande escola. Ela assinou, no Império Serrano, a obra Os cinco bailes da história do Rio, em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau.

    Obs.: Antes dela, Carmelita Brasil já havia assinado sambas-enredo na Unidos da Ponte, a partir do final da década de 1950.

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  4. • Maiores campeãs: Portela (21 títulos); Mangueira (18 títulos); Beija-Flor (12 títulos).

* Fonte: Instituto do Carnaval

“Os jornais tiveram um papel preponderante na organização dos desfiles até a virada da década de 1950. Vários jornais alternaram-se na organização do evento. Só em 1935, os desfiles das escolas de samba foram reconhecidos pela prefeitura e entraram para o calendário da cidade. Mas isso não diminuiu o papel da imprensa, que também foi responsável por fazer o elo entre o morro e a elite”, explica o pesquisador e sociólogo Bruno Filippo, diretor do Instituto do Carnaval.

Apenas quatro agremiações, com contigentes de aproxidamente 100 pessoas cada, participaram do torneio de 1932, na antiga Praça Onze: Estação Primeira de Mangueira, Vai Como Pode (atual Portela), Para o Ano Sai Melhor e Unidos da Tijuca. O desfile era simples, bem diferente dos de hoje. Não havia sequer a obrigatoriedade de um enredo – o que, consequentemente, inviabiliza o uso do termo “samba-enredo” nesse período. A Mangueira, que acabou sendo a grande campeã, foi a única a optar por um tema – na verdade, dois: A Floresta e Sorrindo. Um dos sambas, aliás, era da dupla Carlos Cachaça e Cartola.

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Cada escola podia apresentar até três sambas, que eram bem diferentes dos sambas-enredo de hoje. A estrutura consistia basicamente de um refrão fixo, seguido por versos improvisados. “A letra não precisava fazer menção ao tema. O mesmo acontecia com as fantasias: não representavam plasticamente o tema do desfile”, conta Filippo.

Os carros alegóricos, característicos das grandes sociedades e dos corsos, também só seriam incorporados mais tarde aos desfiles das escolas de samba. A primeira alegoria surge em 1935, quando a Portela apresenta um globo terrestre para ilustrar o enredo O samba dominando o mundo. A consagração desse elemento cênico como parte do desfile, no entanto, se dá apenas na década de 1970.

Desfile da Mangueira, na Av. Presidente Antônio Carlos (10/02/1975)
Desfile da Mangueira, na Av. Presidente Antônio Carlos (10/02/1975) (VEJA)
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Dos ranchos, as escolas de samba importaram elementos como o enredo e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, além do próprio espírito de competição. “No caso dos ranchos, os quesitos eram bem simples, como batida, empolgação e simpatia”, afirma Filippo.

De lá para cá, as escolas de samba se reinventaram diversas vezes, apoderando-se muitas vezes de elementos externos. Uma das maiores transformações aconteceu a partir do início da década de 1960, com os desfiles do Salgueiro. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, Fernando Pamplona havia sido jurado em 1959, e aceitou o convite para se tornar carnavalesco do Salgueiro no ano seguinte. Foi campeão com um enredo sobre Zumbi dos Palmares, retratando pela primeira vez num desfile a história de um personagem não-oficial da história do Brasil. A ele se juntou Arlindo Rodrigues, cenógrafo do Theatro Municipal.

As mudanças implementadas por Pamplona e Arlindo atingiram a temática, mas sobretudo a estética dos desfiles. Era a linguagem da academia invadindo a festa do povo, num casamento que se revelaria perfeito. E ele fez escola, deixando discípulos que foram determinantes para a história das escolas de samba nas décadas seguintes. Entre seus assistentes, figuram nomes como Maria Augusta, Rosa Magalhães, Max Lopes, Renato Lage e Joãosinho Trinta.

Hoje, as escolas de samba ainda enfrentam o velho desafio de terem que se reinventar, respeitando as tradições. Na Avenida, os carnavalescos travam suas batalhas estéticas e conceituais, sob o julgamento do público e dos jurados. No fim das contas, são esses dois júris – o popular e o oficial – que determinam as mudanças que realmente merecem ser incorporadas ao espetáculo.

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