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De Anselmo Duarte a Kleber Mendonça Filho: o histórico do Brasil em Cannes

Relembre vitórias e momentos marcantes do cinema brasileiro no festival francês

Por Diego Andrade Atualizado em 15 Maio 2019, 14h20 - Publicado em 15 Maio 2019, 11h52

O Festival de Cinema de Cannes, o mais celebrado do mundo, deu início a sua 72ª edição na terça-feira 14. Neste ano, a mostra é de grande importância para o Brasil, que tem quatro filmes selecionados para exibição no evento – dois deles, Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e O Traidor, uma coprodução com Itália, França e Alemanha, concorrem à Palma de Ouro. Bacurau será exibido nesta quarta-feira, 15.

A história do país em Cannes começou na terceira edição, em 1949, com a indicação de Sertão, de João G. Martins, ao Grande Prêmio do Festival – que, na época, ainda não se chamava Palma de Ouro. De lá para cá, o Brasil foi premiado apenas uma vez na categoria principal, mas já trouxe outras vitórias importantes para casa. Relembre essas conquistas e outros momentos importantes do Brasil no festival:

A Palma de Ouro

Cena do filme 'O Pagador de Promessas' (1962), de Anselmo Duarte
Cena do filme ‘O Pagador de Promessas’ (1962), de Anselmo Duarte (//Reprodução)

Em 1959, o vencedor da categoria principal de Cannes, a Palma de Ouro, foi uma coprodução entre França, Brasil e Itália – Orfeu Negro, do francês Marcel Camus. No entanto, o único filme totalmente brasileiro a ganhar prêmio máximo do festival foi O Pagador de Promessas (1962), do diretor Anselmo Duarte (1920-2009) e estrelado por Glória Menezes e Leonardo Villar. O longa é baseado na peça homônima de Dias Gomes e acompanha a jornada de Zé do Burro, sertanejo simples que carrega uma cruz com a intenção de levá-la até o altar para agradecer a cura de seu animal. Durante o percurso, ele enfrenta a intolerância religiosa por estar cumprindo uma promessa feita em um terreiro de candomblé.

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À época, a produção recebeu diversas críticas de diretores brasileiros, que a consideravam “datada”, “à moda antiga”, que não se alinhava às características do Cinema Novo. Internacionalmente, contudo, a recepção foi bastante positiva: além do prestígio em Cannes, O Pagador de Promessas ainda foi reconhecido na premiação do Oscar, com uma indicação na categoria de melhor filme estrangeiro em 1963.

Melhor atriz: duas vezes Brasil

As atrizes Fernanda Torres e Sandra Corveloni (Reprodução/Divulgação)

Em 1986, Eu Sei Que Vou Te Amar, de Arnaldo Jabor, foi um dos indicados ao prêmio principal de Cannes, mas quem saiu vencedor foi o britânico A Missão (de Roland Joffé). A produção brasileira, porém, não saiu de mãos vazias: Fernanda Torres foi premiada como melhor atriz por sua interpretação, dividindo o prêmio com Barbara Sukowa, protagonista da cinebiografia Rosa Luxemburgo (Margarethe von Trotta). Como gravava, na época, um remake da novela Selva de Pedra, a atriz não compareceu ao evento, e ficou sabendo da vitória por telefone. Ela só recebeu o prêmio um mês depois, entregue pelo então presidente da República José Sarney numa audiência no Palácio do Planalto.

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Outro filme brasileiro indicado à Palma, mas que acabou vencendo apenas na categoria de melhor atriz, foi Linha de Passe, de 2008. Naquele ano, o vencedor da categoria principal foi o francês Entre os Muros da Escola, mas o longa de Walter Salles e Daniela Thomas rendeu um prêmio a Sandra Corveloni, atriz vinda do teatro e que estreava ali sua carreira no cinema. Na trama, ela interpreta Cleuza, uma empregada doméstica que cria sozinha quatro filhos e está grávida do quinto, de pai desconhecido.

Glauber Rocha: três vezes premiado

O cineasta Glauber Rocha (Divulgação/Reprodução)

Um dos representantes do Cinema Novo, movimento de vanguarda cinematográfica que marcou a década de 1960, Glauber Rocha foi o único brasileiro a receber o prêmio de melhor diretor em Cannes. O reconhecimento veio com O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de 1969. No filme, o diretor aborda o drama da miséria no sertão nordestino, retornando ao tema do cangaço e a personagens de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), que consolidou sua carreira como cineasta. A produção chegou a ser censurada pela ditadura militar instaurada no Brasil, na época sob o comando de Emílio Garrastazu Médici, mas foi liberada devido à repercussão internacional e o prestígio em Cannes.

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Essa não foi a única vez que Glauber Rocha foi premiado no festival. Em 1967, seu drama político Terra em Transe recebeu o Prêmio da Crítica Internacional, realizado pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci). Anos mais tarde, em 1977, seu curta Di Cavalcanti recebeu o Prêmio Especial do Júri de Melhor Curta-Metragem. Amigo do pintor brasileiro, o cineasta, quando soube de sua morte, correu para o funeral com uma câmera para registrar o momento e homenageá-lo no curta. Contudo, a filha do artista, Elizabeth Di Cavalcanti, entrou com uma ação em 1979 e o filme nunca foi exibido nos cinemas.

Prêmios extintos

Cena de ‘O Cangaceiro’ (1953) (Reprodução/Youtube)

Nove anos antes de ser premiado na principal categoria do festival, o Brasil já contabilizava uma vitória em Cannes com O Cangaceiro (Lima Barreto), vencedor, em 1953, de uma extinta categoria por melhor filme de aventura. O longa de Lima Barreto é inspirado na famosa figura de Lampião, e narra o conflito entre dois cangaceiros: capitão Galdino Ferreira e Teodoro. Após o bando do capitão Galdino sequestrar a professora Maria Clódia, os dois competem para libertá-la.

Em 1964, três filmes brasileiros apareciam na disputa pela Palma de Ouro: Deus e o Diabo na Terra do Sol, Vidas Secas e Noite Vazia (de Walter Hugo Khouri). Apesar de nenhum dos três ter levado a Palma – que ficou com Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy -, a adaptação cinematográfica da obra de Graciliano Ramos rendeu a Nelson Pereira dos Santos o prêmio OCIC, uma honra conferida pela Igreja Católica na época. O diretor, inclusive, foi novamente premiado em 1984, recebendo o Prêmio da Crítica Internacional por outra adaptação de uma obra do escritor alagoano: Memórias do Cárcere, que narra os meses em que o autor esteve preso durante a Era Vargas.

Meow! – A única animação premiada

Cena do curta-metragem brasileiro 'Meow!', do diretor Marcos Magalhães
Cena do curta-metragem brasileiro ‘Meow!’, do diretor Marcos Magalhães (//Reprodução)

O curta de oito minutos Meow! foi a única animação brasileira a ser premiada em Cannes. O filme de Marcos Magalhães, que através da figura de um gato aborda a questão da globalização que se iniciava na época, recebeu o Prêmio Especial do Júri de Melhor Curta-Metragem em 1982.

Protestos no tapete vermelho

Elenco de Aquarius protesta contra o Impeachment da presidente Dilma no tapete vermelho do 69° Festival Cannes de cinema, em 2016
Elenco de ‘Aquarius’ protesta contra o impeachment de Dilma Rousseff no tapete vermelho do 69° Festival de Cannes, em 2016 (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Após ficar alguns anos de fora das categorias principais, o momento mais importante do Brasil em Cannes nos anos recentes foi a indicação de Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, à Palma de Ouro em 2016. Naquele ano, o prêmio ficou com Eu, Daniel Blake, do britânico Ken Loach, mas a participação brasileira do longa ficou marcada no evento por causa de um protesto do diretor e sua equipe. Exibindo cartazes com frases como “Um golpe aconteceu no Brasil” e “54.501.118 de votos foram queimados!”, Mendonça Filho e seu elenco se manifestaram contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff durante a passagem pelo tapete vermelho.

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No ano passado, mais um protesto brasileiro marcou o festival, realizado pela equipe do longa Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos. Na ocasião, os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora, junto com sua equipe, levantaram cartazes contra o genocídio indígena e pela demarcação de terras no país. O filme conta a história de um jovem indígena da etnia Krahô, da aldeia Pedra Branca (Tocantins), e foi um dos selecionados na mostra paralela Un Certain Regard (Um Certo Olhar), recebendo o Prêmio Especial do Júri.

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