Blocos põem São Paulo no mapa do Carnaval de rua
Mas paulistanos continuam sofrendo com a falta de organização
Quando se fala em Carnaval de rua, as principais referências são o Rio de Janeiro, com o Cordão da Bola Preta, o Recife, com o Galo da Madrugada, e Salvador, com seus trios elétricos. Mas nos últimos anos, São Paulo vem assistindo ao crescimento do seu Carnaval de rua, movimento que se consolidou em 2015. Segundo a prefeitura, em 2013, 60 blocos desfilaram pelas ruas da cidade. Em 2015, foram 300 blocos. O sábado de Carnaval, o dia mais movimentado, arrastou 10.000 pessoas dois anos atrás, contra 100.000 este ano.
Segundo o Ministério do Turismo, São Paulo é o segundo Estado mais procurado para as festividades de Carnaval do país: 989.000 turistas eram aguardados ao longo do feriado. O número só fica atrás do Rio de Janeiro, que esperava 1,3 milhão de foliões. “Os primeiros blocos que atraíram grande público em São Paulo eram exatamente os blocos cariocas, que já tinham repertório consolidado”, explica o cientista político Danilo Strano, um dos organizadores do grupo Existe Carnaval em São Paulo. Os blocos paulistas viram, então, uma oportunidade de ampliação e profissionalização.”
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Com mais opções de atrações de rua em São Paulo, e os altos preços de pacotes para as festas mais tradicionais do país, passar o feriado na capital se tornou uma opção mais atrativa – principalmente para quem quer evitar o trânsito nas estradas rumo ao litoral e interior. “O trânsito me fez ficar aqui. Faltou coragem para pegar congestionamento. Aqui está muito melhor”, afirma Marina Carvalho, de 22 anos, que viajou de Ribeirão Preto até a capital para acompanhar a festa.
De acordo com a São Paulo Turismo (SPTuris), 75,9% dos presentes no Carnaval são do Estado, sendo 8,5% da Região Metropolitana. Turistas vindos de outras partes do Brasil representaram 13,62% dos foliões. Já os estrangeiros representaram 1,98% do total. Considerando o público do Sambódromo, a SPTuris estima que 1,5 milhão de pessoas tenham curtido o Carnaval na cidade – o número é 50% maior que o total de pessoas que acompanharam a festa em 2014, de acordo com a autarquia.
Para tentar organizar a folia, a prefeitura investiu 4 milhões de reais em 2015, dos quais 500.000 reais foram injetados pela Caixa Econômica Federal, por meio do primeiro edital de Carnaval de rua realizado pelo município. O valor é quatro vezes o total gasto no ano anterior. Ainda assim, o paulistano continua sofrendo com a falta de organização.
Durante quatro dias, a reportagem de VEJA.com presenciou problemas no trânsito causados por falta de desvios e bloqueios das vias por onde passavam os blocos. O horário limite para a folia também não funcionou: embora os desfiles tivessem hora para acabar (22 horas), agentes da prefeitura tiveram dificuldades para dispersar as multidões antes das duas da madrugada. Em alguns casos, a bagunça virou a noite, para desespero de moradores. Para completar, os 900 banheiros químicos instalados – 200 no ano passado – não bastaram, e foliões emporcalharam diversos pontos da cidade.
O bairro que mais sofreu com a bagunça foi a Vila Madalena. O bairro da Zona Oeste chegou a reunir 50.000 pessoas, que lotaram as ruas Aspicuelta, Fradique Coutinho, Mourato Coelho e Girassol. Assim como aconteceu na Copa do Mundo, a situação saiu completamente do controle e a ‘festa’ acabou em confronto com a polícia e muita sujeira.
“A Vila Madalena não está preparada. Não é um problema só de segurança pública”, disse o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes em entrevista à rádio Jovem Pan. “Não é possível que na Vila Madalena que, segundo os cálculos da polícia, deveria ter entre 7.000 e 10.000 pessoas, chegue a receber 50.000 após a 1h”. Segundo o secretário, o assunto será discutido com o prefeito Fernando Haddad, mas a proibição da área ainda não é cogitada.