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‘Beira-Mar’ mostra um Brasil de praias cinzas e águas escuras

Em entrevista, os diretores Filipe Matzembacher e Marcio Reolon afirmam que o filme é baseado em memórias individuais, mas não é autobiográfico

Por Mariane Morisawa, de Berlim
8 fev 2015, 19h24

Colocados lado a lado, ‘Beira-Mar’, dos estreantes gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, e ‘Sangue Azul’, quinto longa do pernambucano Lírio Ferreira, poderiam ser de países diferentes. E é como se fossem, já que o Brasil são vários. ‘Beira-Mar’, que teve uma primeira sessão completamente lotada na mostra Forum do 65º Festival de Berlim, na quinta-feira (5), tem como cenário o litoral gaúcho, durante o inverno. É numa praia cinza, de águas escuras, que os amigos adolescentes Martin (Mateus Almada) e Tomaz (Maurício José Barcellos) vão passar um fim de semana – o primeiro foi enviado pelo pai para resolver um assunto familiar. Aqueles dois dias vão mudar para sempre a relação entre os garotos e a percepção que cada um tem de si mesmo. ‘Beira-Mar’ aposta no naturalismo das atuações do seu pouco experiente elenco e dos diálogos extraídos do cotidiano, enquanto a câmera passeia entre o foco e o fora de foco para evocar as memórias daquele lugar. Os diretores falaram com o site de VEJA, confira abaixo.

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Beira-Mar é o primeiro longa de vocês. Como é estrear já no Festival de Berlim?

Filipe Matzembacher – É um prazer enorme estrear ‘Beira-Mar’ mundialmente aqui na Berlinale. É um festival pelo qual a gente tem muito apreço. E principalmente por estar participando da Forum, uma mostra que foca em filmes com um olhar especial. Dá muita visibilidade ao filme.

Vocês dizem que a história é parcialmente autobiográfica. Como é isso?

Marcio Reolon – O filme é baseado nas nossas memórias individuais, minhas e do Filipe. A gente trouxe algumas situações que derivavam dessas memórias, mas o filme, em si, é uma ficção, não é autobiográfico. Ele é construído em cima de elementos biográficos, mas a história em si não é autobiográfica.

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Por que essa história, então, para seu primeiro filme?

Matzembacher – A gente percebeu que tinha os mesmos medos, anseios, desejos, que passou por situações similares na nossa adolescência e as vivenciou muitas vezes no mesmo lugar, essa praia onde eu e o Marcio coincidentemente costumávamos veranear. Para a gente, foi importante fazer um filme que falasse sobre a entrada na vida adulta. A ideia começou a ser desenvolvida quando a gente tinha 20 e poucos anos, a gente queria fazer um filme de igual para a igual, falar de jovem para jovem.

Essa praia no inverno, no Rio Grande do Sul, é uma paisagem quase inusitada para um filme brasileiro.

Matzembacher – No Rio Grande do Sul, a gente tem um verão muito quente, mas um inverno bem rigoroso. Nem sempre esse espaço é retratado, e ele faz parte do Brasil. Essas praias que durante o inverno são frias, de água escura, com bastante vento. O filme se passar no inverno acrescenta muito. Naquela cidade meio vazia, na beira do mar, os personagens começam a entrar para dentro de si e enfrentam sua personalidade, o caráter que vão construir para acessar a vida adulta.

Quais foram as escolhas estéticas do filme?

Reolon – Como o roteiro surgiu a partir das memórias, a gente quis trazer esse tema da memória para a câmera. Ela se comporta como se fosse um terceiro amigo que tivesse embarcado junto naquela viagem. Na verdade tudo o que a gente assiste são as memórias desse terceiro amigo, que em alguns momentos está mais clara, vívida, em outros momentos, está mais desfocada, se perdeu com o passar do tempo. Em alguns momentos observa de longe, em outros quase participa da situação.

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Matzembacher – Mas para a gente a questão principal de fazer cinema é a lida com os atores. A gente fez um processo de construção coletiva, para ver como os atores podiam contribuir com o roteiro, como acessar esses dois meninos, porque o Mateus tinha feito curtas, e o Maurício nunca tinha atuado antes. Foi muito bonito o processo, a gente teve sete meses de ensaio. Durante a filmagem, os atores ficaram hospedados na locação, nos quartos de cada personagem. E foi tudo rodado na ordem, o que é raro.

Uma coisa que chama a atenção é que existem os diálogos importantes, mas também várias conversas banais, do dia-a-dia. Por quê?

Matzembacher – Uma coisa que a gente pensa muito sobre o Beira-Mar é que ele fala muito sobre afeto. E a gente discutiu o que seria o afeto. Para a gente, afeto é despender tempo com a outra pessoa. Então nos diálogos você tem contato com coisas mais profundas, pesadas, e há momentos em que o contato é com o ordinário.

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Reolon – O espectador passa esse tempo com os personagens. Na medida em que um personagem vai descobrindo coisas sobre o outro, o espectador também vai. E elas não vêm de revelações bombásticas, nem de grandes acontecimentos.

O filme fala sobre sexo. O Brasil, apesar de tudo, pode ser bastante conservador. Por que era importante para vocês tratar do tema?

Matzembacher – Há várias maneiras de abordar a sexualidade. Sempre foi essencial fazer um filme em que a sexualidade estivesse presente e que a gente mostrasse um amigo contando para o outro algo importante e tendo como resposta que era OK. Acho que um jovem, vendo isso, pode se sentir mais confortável de se assumir.

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Marcio – E também é importante ver que um amigo, ao ouvir isso de outro, pense que é OK. A gente precisa desse tipo de referência.

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