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Bailarinas cegas conquistam um lugar no mundo do balé clássico

Por Por Anella Reta
24 ago 2011, 11h56

Com o olhar perdido, um grupo de bailarinas faz movimentos graciosos na barra, enquanto a professora corrige posturas com um suave toque, em um contato físico fundamental para estas jovens que fazem parte da única companhia profissional de balé para cegos do Brasil.

As bailarinas da Associação Fernanda Bianchini ensaiam com afinco pouco antes de apresentar “Don Pasquale” no Encontro Nacional de Dança (Enda), em São Paulo.

O aprendizado é lento e árduo, e foi preciso que a bailarina Fernanda Bianchini, de 32 anos, tivesse muita paciência para transmitir para as suas alunas as técnicas e a beleza desta arte.

“O mais difícil é ensiná-las a leveza dos braços”, já que as bailarinas não podem imitar o movimento e em muitos casos nunca viram ninguém dançar, explicou Bianchini. É mais fácil “ensinar a posição das pernas”, uma estrutura mais associada a sua rigidez natural.

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Mas com imaginação, todos os desafios parecem superáveis. “Tentamos associar cada passo a algo concreto”, destacou a diretora. Abraçando uma árvore, as meninas aprendem a primeira posição, e com folhas de palmeira, o leve movimento de braços e mãos.

“O ‘frappé’ (movimento de pernas na barra) elas fazem muito bem, e eu ainda me sinto uma boba”, ri Giselle Aparecida Camillo, de 32 anos e cega desde os 16, em consequência de um descolamento de retina devido a um glaucoma.

Sua deficiência não a impede de se empenhar em suas lições, e corrigir suas posições para conseguir um bom ‘spagat’ (nome dado à posição de abertura de pernas na horizontal).

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“Amo bailar, é minha vida. Quero ser profissional. Vai ser difícil, mas vou conseguir”, destaca confiante a novata, que faz parte deste corpo de baile há apenas um ano.

“Cada vez mais o público quer ver algo diferente. E nós percebemos quando elas gostam”, ressaltou a experiente Gyza Pereira, de 25 anos, que dedica seis horas diárias ao balé, entre ensaios e as aulas que ela ministra.

Gyza perdeu a visão aos nove anos por causa de uma meningite. E foi então que foi convidada para ter aulas de balé em uma escola para deficientes visuais em Pernambuco.

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“Não acreditava que uma bailarina cega pudesse chegar a fazer esses movimentos tão perfeitos”, contou.

Para ela, os passos mais complicados são os grandes saltos e os giros, já que para fazer esses movimentos “é preciso muito equilíbrio, e o deficiente não tem o ponto de referência”. “Temos que nos concentrar muito”, indicou.

“O balé não tem limite. É preciso ir em busca de mais”, afirmou exigente, depois de ter praticado seus ‘arabesques’ (posições de equilíbrio).

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A estreia do grupo de doze bailarinas (duas delas com visão) no festival de inverno de São Paulo, em 1998, apresentou ao exigente público do balé clássico estas novas artistas, que nem sempre contam com o corpo ideal para este tipo de dança, mas que têm garra de sobra para aprender e superar barreiras.

O público percebeu “que elas são capazes de bailar, e bailar bem”, destacou Bianchini, que também dá aulas gratuitas para 70 alunos, 50 deles com deficiências visuais, e para outros com problemas auditivos, e até com deficiências mentais.

As bailarinas que fazem parte do grupo profissional se dedicam exclusivamente ao balé, graças aos patrocínios da fundação e às apresentações.

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Karolline Sales, da Organização Nacional de Cegos (ONCB), conta que por não terem como imitar movimentos, os cegos normalmente não são bons bailarinos.

“Eu, pessoalmente, gostaria de aprender salsa, ou forró, para poder dançar nas festas”, disse.

No entanto, a deficiência visual não tem sido impedimento para a mítica bailarina cubana Alicia Alonso que, quase cega, consagrou-se como “primeira bailarina absoluta”.

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