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‘Anomalisa’ trata depressão, sexo e amor em stop motion

Indicado ao Oscar de melhor animação, filme marca o retorno do roteirista e diretor Charlie Kaufman ao cinema

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 jan 2016, 09h07

Michael Stone é um britânico de meia-idade, que saiu da Inglaterra para viver em Los Angeles, nos Estados Unidos, com a esposa e o filho pequeno. Escritor e palestrante motivacional, Stone está entediado com a vida e mostra sinais de depressão. Acha tudo e todos sem sal e dificilmente esboça um sorriso. Vale avisar aqui, contudo, que Stone é um boneco, com cerca de 30 cm de altura e textura de tecido. Protagonista da animação em stop motion Anomalisa, o “homem” faz o espectador, após alguns minutos de filme, esquecer que ele não é real ao mostrar mais humanidade que muitos atores de carne e osso por ai.

Primeiro filme para adultos a ser indicado ao Oscar na categoria de animação, o longa marca o retorno do roteirista e diretor Charlie Kaufman ao cinema, após o hiato que seguiu Sinédoque, Nova York (2008). Kaufman é dono de títulos criativos e insuperáveis, que vasculham a psique humana, como Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e Quero Ser John Malkovich (1999). Em Anomalisa, codirigido por Duke Johnson, o cineasta volta a explorar o consciente, a partir de uma crise de identidade, em cenas com um toque de surrealismo. Seus bonecos expressivos e perfeitos provocam as mais variadas sensações. Transtorno psiquiátrico, amor e também sexo, por exemplo, são alguns dos temas explorados pela trama.

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David Thewlis (o Remus Lupin de Harry Poter) é quem dá voz a Stone, que surge no início do filme em um avião em direção à cidade americana Cincinnati, em Ohio. Lá, o protagonista vai conceder uma palestra para pessoas que trabalham com atendimento ao cliente em empresas. Famoso em sua área, Stone causa burburinho quando é reconhecido no hotel onde passará a noite. E é apenas ao longo de uma noite que boa parte da trama acontece.

Ao redor de Stone, as pessoas têm rostos parecidos e exatamente a mesma voz, dubladas pelo ator americano Tom Noonan (12 Monkeys). Deste o motorista do táxi até a esposa e o filho pelo telefone, todos são donos da voz calma e fria de Noonan, que serve como paralelo para a visão de mundo de Stone e seu constante desinteresse. A massificação ao redor também pode ser tratada como um sintoma da síndrome de Fregoli, um delírio de perseguição. A única dica de que a doença seria o problema é o fato de o hotel levar o mesmo nome do transtorno.

Stone só desperta para um momento de felicidade quando escuta nos corredores do local uma voz feminina diferente das demais. O som vem de Lisa (Jennifer Jason Leigh, de Os Oito Odiados), uma mulher deslocada, tímida e fã do escritor.

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Ela guarda em si as mágoas de um passado de rejeições e no rosto uma cicatriz, que demanda esforços constantes para estar sempre coberta pelo cabelo. É ela a anomalia que rende o título ao filme. Stone se apaixona por Lisa, especialmente por sua voz. Ele a convida para seu quarto e a operadora de telemarketing aceita. O casal vive uma noite de amor, com consequências bizarras no dia seguinte.

Apesar de desconfortável, a animação tem cenas interessantíssimas. Como quando Stone vai, bêbado, sem querer, ao sex shop próximo ao hotel, e se depara com diversos brinquedos eróticos. Ou quando ele tenta salvar Lisa no corredor em uma cena muito parecida com a vivida pelo casal de Brilho Eterno, em que ambos correm e o mundo ao fundo parece desaparecer com a escuridão das luzes que se apagam em sequência. Porém, nada supera a cena de sexo, que começa risível, para depois se tornar amável.

Anomalisa, aliás, é um filme de contrastes, no qual o feio e o belo se completam, assim como o amor e a tristeza, a ousadia e a delicadeza. É impossível sair do cinema sem levar o filme para ser melhor digerido no caminho de volta para casa.

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