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Andrucha Waddington compara seu ‘Lope’ a Don Juan

Diretor do filme, que estreia nesta sexta, diz que a saga juvenil de um dos ícones da literatura espanhol é uma história de amor e aventura, divertida e popular

Por André Gomes
4 mar 2011, 13h00

“Queria que o espectador sentisse o cheiro de Madri na tela. Nos relatos da época, dizia-se que se podia sentir o odor da cidade a 40 quilômetros de lá. Era uma cidade muito suja. Não podia ser um filme limpo. As ruas são sujas, o cabelo dos atores é oleoso, a unha é preta, os dentes não são brancos. Mas muitos filmes de época ignoram isso”

Aos 41 anos, com longas-metragens como Eu, Tu, Eles (2000) e Casa de Areia (2005) no currículo, o diretor Andrucha Waddington lança seu quarto filme de ficção. Lope, coprodução Brasil-Espanha sobre a juventude do poeta espanhol Lope de Vega (1562-1635), orçada em 10 milhões de euros (R$ 22,4 milhões) e ganhadora de dois prêmios Goya (figurino e canção original), estreia no Brasil nesta sexta-feira, depois de cumprir uma carreira longe da unanimidade nos cinemas da terra do biografado.

Parte da crítica espanhola não engoliu o fato de um diretor brasileiro retratar um ícone da cultura daquele país, com um argentino (Alberto Ammann) no papel título. Waddington, que taxara de agressiva e preconceituosa a reação dos compatriotas de Lope, tem agora discurso mais ameno: “Apenas 5% das opiniões foram por essa linha. Todo o resto foi receptivo. Não houve bairrismo. É normal ter opiniões dissonantes quando um filme é lançado”, diz.

O diretor compara Lope a um Don Juan. “É uma história de amor com espaço para aventura a partir da jornada de um jovem se transformando em adulto e indo em busca de seus sonhos”, diz. “Ele tem um pouco de mim e de todo mundo que trabalha com arte e corre atrás de sobreviver do que gosta. Morreu rico, enquanto Cervantes morreu na miséria”.

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Durante a entrevista ao site de VEJA, Andrucha fala rápido, olha para o futuro e declara, sem receios, suas motivações: “Nunca cogitei sair de casa para fazer filme pensando em ganhar prêmio. Depois que o filme fica pronto, ele não é mais teu. Passa para as mãos dos distribuidores. É como um filho que sai de casa aos 18 anos e você não tem mais que dar comida e levar para a escola”. Lope, o filho da vez, foi finalizado em maio de 2010, recebeu elogios no Festival de Veneza e não foi selecionado como representante espanhol na corrida ao Oscar.

Tem no elenco os brasileiros Selton Mello e Sônia Braga, misturados a celebradas figuras do cinema espanhol, como Leonor Watling (Fale com Ela) e Pilar López de Ayala, cujas personagens disputam o amor do personagem central. Pai zeloso, o diretor fala a seguir do longa – “Quis fazer um filme clássico, esperançoso, divertido e popular” -, dos quatro filhos, da experiência de filmar no exterior e de projetos. Andrucha comprou os direitos do livro Nação Crioula, de José Eduardo Agualusa, que será rodado em 2013. E, ainda este ano, roda,com distribuição pela Warner um filme a partir de história original sua.

Pilar López de Ayala e Alberto Ammann em 'Lope', de Andrucha Waddington
Pilar López de Ayala e Alberto Ammann em ‘Lope’, de Andrucha Waddington (VEJA)
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O que o levou a aceitar dirigir Lope, a partir do convite da produtora Iona de Macedo e do roteirista Jordi Gasull?

Eles me convidaram depois de uma projeção que fiz de Casa de Areia no final de 2005 para amigos. Virei a noite lendo o roteiro e, pela manhã, decidi que o filmaria. Sou um contador de histórias. Fiquei seduzido pela trajetória deste jovem sonhador que queria mudar o mundo com seus versos. Lope foi um Don Juan, hábil no uso da espada, que deixou o Exército e fez da própria vida sua maior obra de arte. Correu atrás do sonho de se tornar escritor, chegando a escrever de duas a três peças por semana.

Como foi o trabalho de reconstituição da Madri do século XVI?

Foram 14 meses de preparação do departamento de arte, cinco meses de preparação dos figurinos e 12 semanas de preparação das filmagens – ao todo nove semanas e meia, entre Espanha e Marrocos, onde encontramos locações muito fiéis às ruas de Madri do século 16 e ao porto de Lisboa. Queria que o espectador sentisse o cheiro de Madri na tela. Nos relatos da época, dizia-se que se podia sentir o odor da cidade a 40 km de lá. Era uma cidade muito suja. Não podia ser um filme limpo. As ruas são sujas, o cabelo dos atores é oleoso, a unha é preta, os dentes não são brancos. Mas muitos filmes de época ignoram isso.

Os produtores reclamaram da escolha de um ator desconhecido para o papel principal?

Sim. Houve uma pressão para nomes conhecidos. Trouxeram-me nomes de peso, mas eu queria um desconhecido, com frescor. Pelos testes, vi imediatamente que o cara ideal era o Alberto Ammann. Houve ainda o fato de ele ser argentino, mas tudo bem: criado na Espanha.

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A convivência com os espanhóis foi tranquila?

Oitenta por cento da equipe era espanhola. Percebi que somos menos cartesianos que eles. Temos a maleabilidade de acreditar no improviso. Se tudo está caótico no set, não me estresso. Só me estresso quando está tudo calmo demais. Botar pilha quando está todo mundo nervoso só atrapalha. Quando fomos filmar no Marrocos, percebi que a energia deles é mais parecida com a nossa.

Seus filhos acompanham seu trabalho? Algum seguirá seus passos?

Tenho quatro filhos: um de 18, outro de 16 anos, um de 11 e um de 2. Os dois mais velhos, João e Pedro, curtem muito, mostram esse desejo de seguir na carreira. João, inclusive, passou para Cinema na PUC. Acho normal. Eles foram criados nos sets de filmagem. Tenho 25 anos de carreira e sempre levei-os comigo, para cima e para baixo.

Como enxerga o momento atual da indústria cinematográfica brasileira?

Acho que começamos a redescobrir os filmes de gênero. Temos agora as comédias, o thriller policial, filmes espíritas, filões que estão sendo explorados. É bom que os filmes comecem a se pagar. Enquanto os filmes não se pagarem não teremos uma indústria de fato. Acho que é coisa para pelo menos mais 20 anos. Nosso sistema de financiamento permite que sejam feitos filmes dos mais diferentes segmentos. Como em todo local do mundo, há os filmes de arte, que precisam de subsídios, e os comerciais, que podem ser levantados sem subsídios governamentais.

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Nação Crioula, que rodará em 2013, era um projeto antigo?

“Sim. Li o livro do José Eduardo Agualusa há oito anos e fiquei obcecado em comprar os direitos para levá-lo às telas de cinema. Quando consegui, fiquei muito feliz. A história se passa em Angola, Portugal, França e Brasil. Quem leu sabe o quão fascinante é. Resumindo-a, a grosso modo, é sobre o amor de Ana Olímpia e Fradique Mendes. Ela, tendo nascido escrava, se torna uma das pessoas mais ricas e poderosas de Angola. Quando seu marido morre, o irmão dele aparece disposto a torná-la escrava novamente. Fradique, um aventureiro português e personagem de Eça de Queirós, é o homem capaz de libertá-la”.

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