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Andrew Garfield, o ‘Homem-Aranha’, vira herói comum em ‘99 Homes’

O ator faz um pedreiro que perde sua casa e tenta recuperá-la no filme de Rahmin Bahrani, que participa da competição do Festival de Veneza

Por Mariane Morisawa, de Veneza
29 ago 2014, 14h11

Andrew Garfield é mais conhecido por viver o super-herói Homem-Aranha na versão dirigida por Marc Webb, que arrecadou 1,5 bilhão de dólares em bilheteria pelo mundo. Por isso, pouca gente se lembra de que ele começou sua carreira no teatro e mostrou seu talento em filmes dirigidos por Robert Redford (Leões e Cordeiros), Terry Gilliam (O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus) e David Fincher (A Rede Social) antes de meter-se no uniforme do super-herói.

99 Homes (99 Casas, na tradução literal), que participa da competição do 71º Festival de Veneza e foi exibido em sessão de imprensa na noite da quinta-feira (28), vem para lembrar daquele outro Garfield.

No longa do americano Rahmin Bahrani, o ator interpreta o pedreiro Dennis Nash, que está com dificuldades para conseguir trabalho na região de Orlando, na Flórida – a crise imobiliária e financeira fez com que rareassem as oportunidades para gente do ramo da construção. As prestações da hipoteca estão atrasadas, e Dennis acaba perdendo a casa onde nasceu e cresceu ao lado da mãe Lynn Nash (Laura Dern) e onde cria seu filho Connor (Noah Lomax). No despejo, a polícia é acompanhada pelo empresário do ramo imobiliário Rick Carver (Michael Shannon), que lucra muito com a revenda das casas tomadas pelo banco e com vários esquemas duvidosos. Depois de mostrar suas habilidades e sua vontade de fazer qualquer coisa para ganhar um sustento e recuperar a casa, Dennis acaba aceitando um pacto com o diabo: trabalhar para Carver.

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Bahrani é um cineasta preocupado com as questões sociais americanas. Seu filme anterior, A Qualquer Preço (2012), também exibido no Festival de Veneza, lidava com os problemas da agricultura nos Estados Unidos. Sua abordagem sempre pende para o melodrama, com o que é “certo” sendo martelado continuamente na cabeça do espectador. É o que acontece aqui, depois de uma sequência inicial impactante. A diferença é que ele ganhou um bom ator – A Qualquer Preço era protagonizado por Zac Efron. 99 Homes é um filme decente, mas poderia ser um pouco mais sutil e curto, pois em dado momento torna-se repetitivo.

Na coletiva de imprensa no início da tarde de sexta-feira, o diretor afirmou que o tema do filme é global. “Esse tipo de corrupção tornou-se sistêmica no mundo. O problema é que as pessoas que cometem o crime estão de braços dados com o governo”, disse. “Desde 1979, a legislação mudou muito nos Estados Unidos, e essas alterações só beneficiaram os ricos. A crise que começou no mercado imobiliário na Flórida espalhou-se para outros países, e ninguém foi punido.” O diretor tem esperanças, porém. “Todo o mundo sabe que o trabalho honesto, hoje, não leva a lugar nenhum. Mas isso pode mudar. As pessoas estão cansadas.”

Bahrani passou um tempo na Flórida conversando com pessoas que foram despejadas, com agentes imobiliários, com pessoas de fundos de investimento. “Fiquei tonto.” Os atores também fizeram pesquisa lá. “Eu conversei com um cara que faz mais ou menos o mesmo que o personagem e ainda não entendo exatamente o que ele faz”, afirmou Shannon. Andrew Garfield chegou a morar num motel na beira da rodovia que leva ao Disney World, cheio de moradores despejados de suas casas. “Essa viagem foi muito além de fazer cinema. Foi uma educação para mim. É um dos privilégios do meu trabalho.” O ator também disse que tem dificuldades de entender como o esquema funciona e é ruim na administração de seu dinheiro – diz só possuir uma prancha de surfe e uma Vespa. “Meu pai era um homem de negócios, e eu fiquei alérgico. Não consigo absorver esse mundo.”

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A volta de Bogdanovich – Fora de competição, She’s Funny That Way (Ela É Engraçada Assim, na tradução literal) marca a volta de Peter Bogdanovich, diretor de A Última Sessão de Cinema (1971) e Lua de Papel (1973), ao longa-metragem de ficção feito para o cinema, depois de 13 anos. É uma comédia leve, cheia de homenagens a filmes antigos, sobre Izzy (Imogen Poots), que relembra de forma colorida sua passagem de prostituta a atriz numa entrevista a uma jornalista.

Seu primeiro passo na carreira artística envolve um encontro em sua antiga profissão com um diretor (Owen Wilson), que ao final do programa oferece a ela 30.000 dólares para realizar seu sonho. Dias mais tarde, durante os testes para sua nova peça, os dois, com nomes diferentes, se reencontram, dando início a uma ciranda divertidíssima de encontros e desencontros que envolve a mulher do diretor, Delta (Kathryn Hahn), o ator Seth (Rhys Ifans), o autor do texto Joshua (Will Forte) e uma psicanalista maluca (Jennifer Aniston). Foi um bom intervalo para os filmes quase sempre sérios da competição.

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