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Agora homens são punidos, celebra diretora de longa sobre assédio

Sandra Werneck comanda o longa 'Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas', que aborda a violência contra a mulher

Por Rafael Aloi Atualizado em 20 abr 2017, 09h41 - Publicado em 20 abr 2017, 09h23

A cineasta Sandra Werneck lança no dia 5 de maio, no canal pago Curta!, o documentário Mexeu com Uma, Mexeu com Todas, que também faz parte da 22ª edição do Festival de Documentários É Tudo Verdade, aberto em São Paulo e no Rio entre 19 e 30 de abril. O filme debate a violência contra a mulher e tem o mesmo título do slogan da campanha realizada por funcionárias da Rede Globo após a denúncia de assédio da figurinista Susllem Tonani contra o galã José Mayer. Em entrevista a VEJA, a diretora explica ter sido uma coincidência — mas não mera coincidência: uma confluência que mostra como esse tema, felizmente, vem ganhando destaque na sociedade. “O mundo inteiro está lidando com essa questão do feminismo. Eu acho que o assédio e a violência doméstica, que antigamente eram escondidos pela família, sociedade, poder público, agora não são mais, as pessoas são realmente punidas.”

O documentário traz uma sequência de relatos de vítimas de agressão, abuso e assédio sexual. Entre elas, a farmacêutica Maria da Penha – é ela quem empresta o nome à lei de 2006 que criminaliza a violência contra a mulher –; a nadadora Joanna Maranhão, que deu nome à lei de 2012 que mudou o prazo de prescrição nos crimes contra dignidade sexual praticados contra crianças e adolescentes; a ex-modelo Luiza Brunet, que acusa o ex-parceiro Lírio Parisotto de agressão, e a escritora Clara Averbuck, abusada na adolescência. “Acho que ele ajuda a conscientizar muitas mulheres que têm medo porque acham que vão sofrer retaliações. Pode dar uma força para elas”, diz Sandra.

Confira abaixo a entrevista completa com Sandra Werneck:

diretora Sandra Werneck
A diretora Sandra Werneck, realizadora do documentário “Mexeu com uma, mexeu com todas” (Paula Kossatz/Divulgação)

Como o título do seu documentário se tornou o slogan da campanha das funcionárias da Globo contra o assédio? Não sei como aconteceu isso. Eu tinha escolhido o título do documentário em outubro do ano passado, quando vi a frase em um cartaz durante uma manifestação. Ao mesmo tempo em que fiquei indignada com a história do José Mayer, não posso dizer que não tenha servido de publicidade para o filme.

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Você conhece pessoalmente o José Mayer? Ficou surpresa com o caso? Não conheço. Não sei de nada da vida íntima dele, só que ele era casado. A gente vive ainda em uma cultura tão machista, e as pessoas que têm um pouco mais de poder, que transitam por lugares como a Globo e outras emissoras, acham que podem tudo.

Você já foi vítima de assédio no seu trabalho? Não, porque profissionalmente eu sou muito séria e sempre coloco um limite, então as pessoas me respeitam. Nunca aconteceu isso comigo, ainda bem. Mas aconteceu com a minha filha. Ela tinha cinco anos de idade, estávamos em Búzios. Ela estava com dois amiguinhos, e eles sumiram e voltaram apavorados porque um dos meninos tinha machucado o pé e um pescador os tinha levado para casa para botar remédio. O pescador começou a passar a mão nela, mas ela conseguiu dizer que o pai estava chegando e fugiu. A gente não fez nada na época por medo.

Acredita que agora o assédio se tornará uma pauta de discussão nacional ou essa é apenas uma comoção momentânea por envolver nomes famosos? O mundo inteiro está lidando com essa questão do feminismo. A mulher ficou durante anos naquele papel submisso, e isso não trazia problemas para os homens. Mas a mulher mudou e os problemas começaram a surgir, porque ela diz não, e o marido a espanca. Quando falo homens, digo os machistas, os conservadores, não estou generalizando. Você fica pisando em ovos, porque nunca sabe o que pode deixá-lo irritado, nervoso, agressivo, fazê-lo te responder de uma forma que acabe com a sua auto-estima.

Tivemos três casos de assédio e agressão simultâneos: o caso José Mayer, o caso Victor Chaves e o caso Marcos Härter. Isso indica que evoluímos por denunciar? Eu acho que agora a questão do assédio e violência doméstica, que antigamente eram escondidas pela família, sociedade, poder público, agora não é mais, as pessoas são realmente punidas. Por exemplo, o José Mayer foi punido pela Globo. O BBB eu não vejo, não sei o que aconteceu com ele, o Victor eu também não sei. Hoje, existe todo um movimento principalmente de jovens que estão se dando conta de que não podem conviver com esse homem que acha que a mulher tem que ser uma gueixa. As mulheres estão ficando mais independentes. Isso cria muito problema para esses homens. No meu filme, eu vi relato de um cara que prendia a mulher dentro de casa.

Cena do documentário "Mexeu com uma, mexeu com todas", da diretora Sandra Werneck
Cena do documentário “Mexeu com uma, mexeu com todas”, da diretora Sandra Werneck (Reprodução/Divulgação)

Quanto o Brasil ainda precisa avançar nesse tema? Muito. Mas eu acho que a Lei Maria da Penha é um grande avanço. A lei Joanna Maranhão, em que você pode ser assediada aos nove anos e só relatar aos 18 é outro avanço. Eu acho que essa nova geração tem tanta consciência disso, e é ela que tem força para mudar essas questões. Ao meu ver, a única maneira de realmente resolver esse problema é fazer como no resto do mundo, você ter aulas de educação sexual, na escola, como uma matéria.

Como você acha que o seu documentário ajuda na discussão? Acho que ele ajuda a conscientizar muitas mulheres, que têm medo, porque acham que vão sofrer retaliações, que o marido pode fazer alguma coisa com os filhos. Pode dar uma força para elas.

Quem você gostaria que assistisse ao documentário? O maior número de pessoas possível. Homens para entenderem melhor como lidar com uma mulher. E as mulheres para encontrar força.

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