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A maratona de Daniel Rezende para colocar ‘Bingo’ no Oscar

Campanha envolve corpo a corpo com membros da Academia, entrevistas e anúncios

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 14 dez 2017, 19h07 - Publicado em 14 dez 2017, 19h06

Numa manhã de novembro, numa sala de cinema privada, aconchegante e bem localizada, em Beverly Hills, Daniel Rezende apresentou seu filme, o candidato do Brasil ao Oscar de filme em língua estrangeira, Bingo – O Rei das Manhãs. Após a sessão, com presença de cerca de 15 pessoas, em inglês de bom nível, o diretor respondeu a perguntas dos convidados, muitos deles membros do Comitê de Premiação do Filme de Língua Estrangeira da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Eles querem saber por que Rezende quis fazer aquele filme e detalhes sobre a produção, como aquela cena em que a câmera sai de um prédio, atravessa a rua e passa para o edifício em frente. Também perguntaram sobre o ator Vladimir Brichta. Depois da sessão de perguntas e respostas, o cineasta partiu para um almoço, onde fez um corpo a corpo com os votantes. “A gente está usando como vantagem o fato de o filme ser diferente”, disse Rezende em entrevista a VEJA, em Los Angeles. “Não é o que esperam de um filme estrangeiro, muito menos brasileiro. Muitos disseram que não aguentam mais drama pesado, caído, triste, com realidade sociopolítica. Bingo passa pelo lado obscuro, mas é engraçado, uma história humana que fala da cultura pop do país.”

Essa é apenas uma das partes da campanha para o Oscar de filme em língua estrangeira, que tem regras próprias, diferentes das outras categorias. Por exemplo, os votantes têm de provar ter assistido, na tela grande, cerca de 15 dos 92 candidatos indicados por seus respectivos países. Eles votam em cédulas secretas para escolher os seis favoritos. Um comitê executivo escolhe outros três candidatos, que fazem parte de uma semifinal, a ser anunciada esta semana. Na campanha, Bingo tem de enfrentar pesos-pesados do cinema mundial, como o sueco The Square – A Arte da Discórdia, de Ruben Ostlund, ganhador da Palma de Ouro, o francês 120 Batimentos por Minuto, de Robin Campillo, Grande Prêmio do Júri em Cannes, e o israelense Foxtrot, de Samuel Maoz, Grande Prêmio do Júri em Veneza. Todos usam as armas que podem. A Ciambra, candidato da Itália, dirigido por Jonas Carpignano e produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, teve sessões para membros da Academia apresentadas por Martin Scorsese, também produtor do longa-metragem, além de uma contribuição generosa do governo italiano.

No caso de Bingo, assim que o filme foi indicado pelo Brasil, a produtora Gullane Filmes começou a traçar a estratégia. Como a produção não tinha distribuição nos Estados Unidos nem no Reino Unido, a Gullane tomou a frente, enquanto aguardava o apoio do governo – 250.000 reais da Ancine e 200.000 da Secretaria do Audiovisual, para uma campanha com orçamento de 128.000 euros (cerca de 501.000 reais). A Gullane já tinha passado pela experiência de ter filmes indicados pelo Brasil na categoria, caso de Carandiru, de Hector Babenco, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, e Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert. “Cada filme tem um perfil próprio. Os outros eram mais políticos, aqui a gente precisou ser mais livre no pensamento geral da estratégia”, explicou Manuela Mandler, da Gullane Filmes.

O primeiro passo foi escolher os estrategistas Steven Raphael e MJ Peckos, que têm experiência com cinema brasileiro – fizeram a campanha de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, Que Horas Ela Volta?, Pequeno Segredo – e também na categoria, tendo trabalhado com longas indicados como o jordaniano Theeb, o palestino Omar e o canadense War Witch. “Eu gosto de Bingo porque ele não é o que se espera de um filme brasileiro, mas também é totalmente brasileiro. Tem uma força que vem da energia e do visual”, explicou Raphael. Para ele, é preciso um trabalho extra quando se trata de um filme sem exposição internacional. “Porque, quando passou nos grandes festivais, pelo menos a imprensa tem conhecimento.” Mas Mandler não viu diferença no tratamento. “As pessoas têm se interessado pelo filme. Não sei se no final influencia, se eles conseguem manter a frieza ao votar num filme que vem premiado de Cannes. Vamos ver o que vai dar.” Raphael frisou que mais importante que um grande orçamento que permite a promoção de festas e coquetéis, é o trabalho em si. “O importante é o filme e o que os votantes acham dele.”

Na primeira viagem a Los Angeles, Daniel Rezende fez várias entrevistas, com veículos importantes como Variety, The Hollywood Reporter e The Wrap, que inclusive promoveu uma sessão do filme. Em Londres, onde faz campanha pelo Bafta, também foi a mesma coisa. Como ele concorreu ao Oscar de edição por Cidade de Deus, isso também ajudou no interesse pela produção. O diretor fez mais duas viagens aos Estados Unidos. Foram no total quatro sessões em Los Angeles e uma em Nova York. “Tenho de fazer que as pessoas assistam”, explicou Daniel Rezende. “Aí o filme tem de falar.” Para aumentar a exposição, também foram publicados anúncios bem coloridos de Bingo nas principais publicações da indústria.

Agora é a expectativa. Esta semana, são anunciados os nove semifinalistas. Se Bingo entrar, a campanha tem uma segunda etapa, para estar entre os cinco preferidos. “São 92 filmes lutando por cinco vagas”, disse Daniel Rezende. “Uma ou duas já estão tomadas pelo ganhador de Cannes, ou Berlim. Então são 89 filmes lutando por três vagas. É muito difícil, mas não dá para saber. Estamos fazendo campanha para não cair fora da semifinal. A gente vai torcer para dar tudo errado e ser indicado. Estamos trabalhando bastante.”

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