‘A Comunidade’ debate as vantagens e os limites do coletivo
Em 'A Comunidade', de Thomas Vinterberg, um casal erra no cálculo dos seus limites. O resultado é o caos
Anna diz ao marido, Erik, que ainda adora ouvi-lo falar, mas tem a sensação de que, em quinze anos de casamento, tudo já foi dito antes. Erik (Ulrich Thomsen) não sabe como reagir a essa combinação de tapa e assopro. E terá de reunir toda a sua paciência para ceder ao remédio que Anna (Trine Dyrholm) propõe: transformar a casa enorme que ele herdou do pai em república. Erik já relutara em ficar com a casa; moradias grandes separam as pessoas, argumentou com a mulher e a filha. Mas é voto vencido. Mudam-se para lá um amigo divorciado, um casal com um filho doente e um imigrante chorão (Fares Fares, ponto alto do elenco, ao lado dos protagonistas). Anna bota Erik de escanteio. Ele se magoa, se acabrunha — e então acha uma interlocutora receptiva, e bem mais jovem. Com transparência escandinava, conta tudo à mulher. Que, com liberalidade igualmente escandinava, o autoriza a incluir a amante na república. Mas nem os escandinavos conseguem ser tão escandinavos assim, e o caos se instala em A Comunidade (Kollektivet, Dinamarca/Suécia/Holanda, 2016), que estreia nesta quinta-feira no país.
O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, que vem numa fase superlativa com A Caça e Longe Deste Insensato Mundo, retorna aqui a um contexto similar aos que explorava no tempo do movimento Dogma: em registro naturalista e com humor dosado entre a acidez e a compaixão, ele põe seus personagens para medir a distância que separa seus desejos da realidade, e então cair quando percebem como haviam errado no cálculo. A história se passa na Copenhague sonhadora dos anos 70. Mas é aplicável a qualquer tempo e qualquer lugar em que alguém se engane sobre os seus limites. É, enfim, verdadeiramente universal.
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