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‘3%’, da Netflix, tem premissa interessante, mas entrega falhas

Série é a primeira produção brasileira do serviço de streaming

Por Rafael Aloi Atualizado em 25 nov 2016, 16h51 - Publicado em 25 nov 2016, 15h05

Meritocracia e desigualdade: estas são as duas palavras que comandam toda a discussão de 3%, a primeira série brasileira produzida pela Netflix, em catálogo a partir desta sexta-feira. A reportagem de VEJA assistiu a dois episódios que revelam uma premissa política bem interessante, com abertura para várias interpretações e discussões, além de um cenário distópico, porém, na comparação com produções disponíveis no serviço de streaming, a série nacional fica um degrau abaixo.

O programa teve origem em uma websérie com apenas três episódios (com quase nove minutos cada) lançada em 2011 — antes, portanto do primeiro Jogos Vorazes. Desde então os criadores, Pedro Aguillera, Jotagá Crema, e Dani Libardi (que tiveram a ideia do programa ainda na faculdade) tentaram que alguma emissora nacional produzisse uma temporada completa, até que a Netflix se interessou pelo projeto — o que se mostrou um golpe de sorte, já que o programa agora está disponível em diversos países.

3% se passa em um futuro distópico, em que o planeta está devastado, com falta de água, comida, energia. Aos 20 anos de idade, todo cidadão tem direito de participar do Processo, uma seleção que oferece a única chance de passar para o Maralto, onde vive a elite da humanidade e tudo é abundante, limpo e digno. Mas somente 3% dos candidatos são aprovados no tal processo que testa os limites dos participantes.

O cenário escolhido é o Brasil, mas os produtores decidiram não especificar onde exatamente no país — apesar de a abertura indicar um recorte do litoral do Pará. Entre os participantes do tal Processo estão perfis que podem pertencer a qualquer região do nosso território, seja pela aparência ou sotaque, interpretados por Bianca Comparato (Michelle), Michel Gomes (Fernando),  Vaneza Oliveira (Joana), Rodolfo Valente (Rafael) e Rafael Lozano (Marco).

Do lado do Maralto, a diversidade continua. O comandante do Processo é Ezequiel (João Miguel), que parece ser impiedoso ao observar — como num reality-show — todas as provas que criou para testar os participantes. Ao lado dele está Aline (Viviane Porto), que atua como uma fiscal de tudo o que acontece na seleção. Controlando tudo através de vídeo-conferências ainda estão os misteriosos personagens de Zezé Motta e Sérgio Mamberti.

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A diversidade do elenco já é um avanço em relação à websérie, que trazia apenas rostos de pessoas brancas nos dois lados da sociedade distópica, afinal, este é um elemento essencial para a série que se propõe a discutir a desigualdade na sociedade moderna. “O teor político e a mensagem que a série passa foram as coisas que mais me atraíram. Essa segregação entre 3% e 97%. O Brasil de certa maneira é uma grande distopia, nem precisa inventar tanto. A série mostra um futuro quase que presente, como Black Mirror faz”, contou Bianca Comparato durante a entrevista de lançamento da série. “Há uma importância e responsabilidade de se colocar em uma obra de ficção, signos tão universais em língua portuguesa, e não só para a gente, mas em um mapa amplo”, completa Viviane Porto.

Enquanto a websérie trazia um cenário militar e cinza, a versão da Netflix aposta em mais cores e em uma representação mais clean, tecnológica e moderna do Processo, cujas cenas foram gravadas no Itaquerão, em São Paulo. Já as cenas da sociedade devastada tiveram o centro de São Paulo como set.

É difícil ver uma produção de gênero no Brasil, como é o caso de 3%. Só por isso, o programa merece atenção pela inovação. Porém, a série tem sim suas falhas. Apesar da boa temática, o roteiro não empolga tanto, pois há uma falta de ganchos, um elemento fundamental em uma produção seriada, principalmente uma que aposta em suspense e ação. Mas é algo que pode ser resolvido com o formato da Netflix de liberar a temporada completa de uma única vez.

A falta de prática em produções do gênero no Brasil talvez tenha influência no roteiro falho em 3%. Aliados à atuação não tão boa de coadjuvantes, alguns diálogos soam toscos e irreais, mesmo em uma sociedade fictícia e distópica. Esses pequenos deslizes desapontam aqueles que estão acostumados com o alto nível das produções do canal, como House of Cards e Orange Is the New Black.

A dualidade dos protagonistas acaba se tornando a melhor parte da série. Todos possuem camadas além da que a primeira impressão deixa. É impossível determinar se todos os participantes do Processo são completamente bonzinhos e injustiçados, principalmente Michelle, que esconde o verdadeiro motivo que a leva a participar de tudo. E mesmo definir se todos do Maralto são realmente malvados e opressores, ou apenas vítimas do próprio status quo. “O verdadeiro vilão é a vida”, afirma Viviane Porto.

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Fica claro que o objetivo maior da série é causar discussão com sua premissa e seu discurso subliminar, que age como um ensaio sobre a meritocracia.”É uma série brasileira que vai passar em mais de cem países. A gente tem que esperar estrear para ver o que vai acontecer”, conclui Bianca Comparato.

Confira abaixo os três episódios da websérie lançada em 2011:

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