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‘Vamos começar pelo professor’, diz Mercadante sobre projeto de R$ 180 mi que levará tablets a escolas públicas

Ministro promete dar dispositivo somente a escolas e professores preparados. É uma chance de evitar erros do projeto Um Computador por Aluno

Por Renata Honorato
12 fev 2012, 10h26

O governo federal desembolsará 180 milhões de reais na compra de 600.000 tablets para professores de ensino médio da rede pública. Os dispositivos, das marcas Positivo e CCE, custarão entre 272 e 278 reais por unidade e já estão sendo distribuídos em alguns estados. Para garantir o melhor aproveitamento dos tablets – e dos recursos -, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, promete distribuir os equipamentos somente a 52.000 escolas que contam com acesso à banda larga e a professores que passarem por um treinamento de 360 horas. “Vamos começar pelo professor, porque é muito mais seguro pedagogicamente”, diz Mercadante, recém-empossado no cargo. É uma forma de evitar equívocos da gestão anterior no programa Um Computador por Aluno (UCA), iniciado em 2007, que levou 150.000 netbooks a escolas ao preço de 80 milhões de reais: houve casos de instituições que receberam máquinas mas não tinham sequer acesso à rede elétrica ou à internet e de professores quem mal sabiam ligar os dispositivos. É difícil aferir todos os resultados – negativos ou positivos – do programa. Isso porque o MEC ainda guarda a sete chaves a Avaliação de Impacto do Projeto UCA-Total, coordenada pela pesquisadora Leva Lavinas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Até o resumo do trabalho foi retirado do site da UCA (leia o resumo aqui). “Quem quiser saber mais sobre o assunto, deve procurar o ministro”, disse Lavinas à reportagem de VEJA. Na entrevista a seguir, Mercadante afirma que a pesquisa sobre o impacto do UCA chegou, sim, a conclusões positivas. E comenta o novo projeto do MEC, que pode receber o nome de Um Computador por Professor.

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A Avaliação de Impacto do Projeto UCA-Total (Um Computador por Aluno) concluiu que os resultados do programa foram sofríveis. Diz o relatório: “Boa parte dos computadores não foi entregue nos prazos. Outros foram entregues sem a infraestrutura necessária para sua adoção em sala de aula. O treinamento dos docentes não deu os resultados esperados. O suporte técnico praticamente inexiste.” Por que o senhor acredita que será diferente com os tablets, e que o país não vai desperdiçar 180 milhões de reais? Somos o terceiro país onde mais se compram computadores no planeta. Há um processo intenso de inclusão digital acontecendo com a população brasileira. Muitos jovens da periferia fazem isso nas lan houses. A escola tem que estar olhando para o futuro. E a tecnologia da informação, a utilização dos equipamentos, como computadores, laptops e tablets, é uma exigência crescente em todas as áreas do conhecimento. O professor terá nos tablets e no acesso à internet um instrumento fantástico para preparar as aulas. Estamos começando um processo de inclusão digital pelo professor. E estamos começando esse processo pelo ensino médio, onde está um dos maiores níveis de evasão escolar e as maiores dificuldade do sistema educacional brasileiro. Estamos nos preparando para que uma parte importante dos professores possa aprimorar suas aulas, seu processo pedagógico e sua formação.

Por que o UCA não deu certo? Ninguém teve acesso a essas pesquisa. Estamos reunindo esse material. A pesquisa que foi divulgada, da professora Lena Lavinas, não diz isso. Posso ler a conclusão dela: “Um dos resultados notáveis dessa análise de painel é descobrir que dar um laptop às crianças de seis anos, logo no início de seu processo de alfabetização, tem impactos muito positivos, pois aumenta a propensão a aprender, a ler e a escrever”. Na seção “Breves conclusões da análise de impacto”, diz: “A pesquisa mostrou que a autoestima dos alunos aumentou com a aquisição do computador e que muitos professores tiveram sua autoestima abalada. Alguns se sentiram humilhados frente a essa novidade da qual ainda não conseguem se apropriar.” A experiência internacional e a análise pedagógica preliminar demonstram que, se você começar pelo professor, você tem muito mais segurança no processo: se ele lidera a iniciativa, se ele é preparado com antecedência, ele vai acompanhar a aceleração da inclusão digital por parte do aluno, porque a maioria das escolas brasileiras já possui uma unidade de informática. Por isso, estamos fortalecendo a estratégia começando pelo professor, e não pelo o aluno. A conclusão da pesquisa é muito favorável ao programa. Ela sugere uma série de aprimoramentos, especialmente em relação à banda larga.

Não só à banda larga. O estudo aponta a necessidade de aprimoramentos em relação à infraestrutura. Seguramente, isso é um problema. A estrutura que nós temos no Brasil precisa ser aperfeiçoada. Temos ainda escolas sem energia e sem água. Então, estamos agora lançando um programa para superar essa deficiência. Em algumas áreas do Brasil, como Norte e região amazônica, não se consegue levar banda larga por fibra ótica. O governo vai lançar o satélite, até meados de 2014, para poder atender a população ribeirinha e o conjunto da Amazônia. Não se consegue transpor a selva e atingir os 24 milhões de habitantes, especialmente as pequenas cidades, por fibra ótica.

Especialistas afirmam que dispositivos eletrônicos só são úteis em sala de aula se forem acompanhados de projeto pedagógico consistente e de professores bem treinados. Qual o projeto pedagógico do MEC para os tablets? Estamos disponibilizando nos tablets o Portal do Professor, onde há uma série de elementos para preparar as aulas – já temos disponibilizadas 15.000 aulas. Além disso, vamos oferecer a partir de abril, através de um convênio com a fundação Lemann, todas as aulas de matemática, física, biologia e química do professor Khan. Esse material será traduzido para o português: tanto os exercícios quanto as aulas, que são reconhecidas como conteúdos de excelência, vão subsidiar o processo de preparação pedagógica. Também vamos disponibilizar o portal Domínio Público, onde há uma série de publicações especializadas, revistas de circulação nacional na área de educação, jornais e também toda a coleção de educadores como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Anísio Teixeira e todas as grandes figuras da história da educação brasileira. Além disso, estamos distribuindo para as escolas um projetor digital wi-fi, através do qual o professor pode reproduzir o conteúdo do tablet em sala de aula, o que vai aprimorar a didática com alunos. Se ele vai dar uma aula de biologia e quer fazer uma apresentação de células, terá à disposição imagens para isso.

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Esse projeto pedagógico funcionará através de aplicativos instalados nos tablets? Isso mesmo. Esses tablets vão rodar Android (sistema para dispositivos móveis do Google) e todos os nossos portais estarão adaptados para tablets. Então, eles acessarão esse material através de aplicativos e versões para internet.

Como vai funcionar o treinamento dos quase 600.000 professores que receberão os tablets? Tanto o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, autarquia do MEC) quanto a Secretaria de Educação Básica têm equipes especializadas nessa área de tecnologia da informação e educação. Já temos uma rede em funcionamento (ProInfo), que foi acionada para incluir digitalmente 320.000 professores. Estamos agora ampliando esse programa. Uma parte dos cursos será presencial e a outra será feita através de ensino à distância. Doamos para a Universidade Federal de Pernambuco um grande equipamento para a computação em nuvem. É um data center de grande capacidade. A partir dele, atenderemos a demanda vinda do Portal do Aluno, praticamente concluído.

Pesquisa do CGI (Comitê Gestor de Internet) divulgada em agosto revelou um quadro desolador entre professores de escolas públicas: só 44% sabem fazer pesquisas na internet, 64% afirmam que alunos sabem mais do que eles sobre computador e internet e 75% não recebem qualquer formação na área. Como esperar bons resultados nessas circunstâncias? Sabemos disso e por isso estamos começando pelos professores. O tablet é um instrumento indireto que permite levar o melhor da internet para a sala de aula. Temos 2 milhões de professores no Brasil e 600.000 não têm graduação. Metade desses 600.000 está se graduando agora. Esse é o histórico do Brasil. Em 1648, quando a Universidade Harvard foi criada, já existiam 13 universidades na América Espanhola. A primeira universidade do Brasil é de 1922. Temos um atraso histórico. Ao mesmo tempo, temos crescido mais rapidamente do que outros países e podemos aprender com eles e com seus erros. Atualmente, o Brasil ocupa a 13ª posição entre as nações com maior produção científica, é o terceiro país em termos de venda de computadores. O país está se modernizando e a escola precisa participar desse processo. E vamos começar pelo professor, porque é muito mais seguro pedagogicamente. A escola precisa estar aberta ao século XXI. Hoje, os professores são do século XX e os alunos, do século XXI.

Tablets são muito bons para consumir informação, mas nem tanto para produzir conteúdo, a começar pela escrita de textos. Os dispositivos são mesmo adequados para professores, que precisam consumir conhecimento e também reelaborá-lo? Os tablets não substituem o laptop, mas são amigáveis e adequados a pesquisas pedagógicas e apresentações em sala de aula. Para escrever e produzir, o computador é indispensável, mas para essa função básica, que é a que queremos analisar nesse momento, ele é um instrumento eficiente, principalmente associado ao projetor digital.

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A Coreia do Sul anunciou recentemente que pretende usar os tablets como suporte para todos os seus livros didáticos até 2015. O senhor quer seguir nesse caminho? Os livros didáticos hoje são indispensáveis no Brasil, no processo de aprendizado e na experiência pedagógica. O conteúdo digital é um conteúdo adicional no processo de aprendizado. Não temos no horizonte nenhuma possibilidade de fazer essa opção. O caminho do Brasil é outro, o ritmo do Brasil é outro, as condições são outras. Não vamos abrir mão dos livros didáticos.

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