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Recrutado na porta, repórter vira fiscal do Enem 2011

Sem preparo prévio, jornalista participa da fiscalização da prova em São Paulo

Por Da Redação
23 out 2011, 08h51

Apesar de o Ministério da Educação (MEC) afirmar que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem uma equipe de fiscais cadastrados e previamente treinados, a realização do primeiro dia do exame contou com “voluntários” escolhidos sem critério, na porta do local do exame.

Pelo menos foi assim na manhã de ontem no campus da Universidade Paulista (Unip) da Água Funda, Zona Oeste de São Paulo, onde cerca de 30 pessoas foram selecionadas em uma repescagem em que o único critério foi apresentar o documento original de identificação. O repórter Paulo Saldaña, do jornal O Estado de S. Paulo, foi um dos que, com RG na mão, entrou na fila e garantiu uma vaga para a fiscalização. No local, havia 8.000 candidatos inscritos.

Por volta de 8 horas as portas da universidade já estavam cheias. Muitos estavam lá a pedido de amigos, primos, tias e conhecidos que trabalhariam ou trabalharam na organização da prova. Elas receberam e-mail com recomendações sobre horários e tipo de vestuário: camisa branca e, caso estivesse frio, agasalho branco ou preto – o que pouca gente respeitou.

Primeiro entrou quem já tinha nome para a fiscalização. Quase meia hora depois, os organizadores da unidade voltaram para a portaria e recrutaram os não cadastrados e desconhecidos.

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Um segurança anotou nomes e documentos. Alguns diziam que haviam tentado se cadastrar sem obter sucesso. Para o repórter, só perguntaram se tinha o nome na lista. Ele disse que não e foi prontamente contratado. Por cada dia de trabalho, os fiscais recebem R$ 65, além de alimentação com suco, mini goiabada e um salgado de presunto e queijo – muito criticado ontem na Unip.

Os recrutados foram levados às pressas para o anfiteatro, onde o treinamento já havia começado. Faltavam menos de duas horas para a abertura dos portões e centenas de fiscais deveriam dominar como aplicar a prova.

No palco, uma coordenadora detalhou como se portar em caso de cola, o que é ou não é permitido na sala, na mesa, embaixo da cadeira, a cor da caneta. Depois da palestra, respondeu a dúvidas e mostrou um filme com orientações sobre os procedimentos de entrega das provas, com informações como onde assinar os cadernos, o que orientar ao inscrito, como distribuir as provas. Apesar da qualidade do vídeo, havia rostos de dúvidas tão agudas quanto as do repórter. Era de fato muita informação.

Antes de indicar quem seriam os responsáveis por cada sala, a palestrante fez uma advertência importante. “Pessoal, já chegaram cinco fiscais embriagados. Se tiver alguém que foi para balada, que não está bem, por favor avise.”

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Muitos dos chamados não apareceram e assim que todos os pré-selecionados presentes tomaram seus postos, a coordenadora apontou uma pessoa da primeira fileira. Perguntou se ela tinha experiência em aplicação de concursos ou vestibulares. A mulher disse que não e, questionado, o repórter também confirmou sua inexperiência. A coordenadora fez mais duas tentativas, voltou a apontar o repórter e disse “vai você. Sala 563, bloco B”.

A 563B tinha 76 inscritos, por isso eram três fiscais – apenas 49 fizeram o exame. Ali, apenas um dos três havia atuado em edições anteriores. Pouco antes do meio dia, horário da abertura dos portões, havia salas com carteiras amontoadas – em uma delas, duas mulheres estavam desesperadas para organizar tudo. Alguns fiscais, também debutantes, ainda não entendiam bem se os candidatos deveriam assinar a lista de presença ao chegar ou ao sair. E se a lista ficava na porta ou na mesa no centro da sala.

Depois começou a busca pelo giz para as orientações na lousa. Os fiscais conseguiram um pequeno pedaço azul. A guerra seguinte foi para conseguir uma caneta – ao longo da prova, é necessário preencher uma série de informações sobre o exame. Os fiscais revezaram uma única caneta com duas salas.

Assim que os inscritos começaram a entrar, um candidato surge com um RG xerocado. O repórter recorreu ao coordenador do corredor, que autoriza sua participação caso o papel seja confiável. Coube ao repórter a decisão e ele fez o exame. O manual com as instruções previa um toque de sirene para o início das provas. O sino tocou e os fiscais ainda distribuíam os cadernos. Ninguém consultado pela reportagem naquele corredor assinou o Termo de Compromisso sobre confidencialidade e frequência, o que, em tese, seria obrigatório.

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(Com Agência Estado)

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