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‘Mesas de ping-pong não retêm talentos no Vale do Silício’

Ambientes de trabalho descontraídos fazem a fama de empresas como Google e Facebook. Mas, segundo a especialista de RH americana, o trunfo das companhias inovadoras é ouvir, valorizar e impulsionar os bons profissionais

Por Lecticia Maggi
24 ago 2013, 18h16

Poltronas e pufes coloridos, mesas de sinuca e ping-pong, máquinas de guloseimas e até escorregadores conectando um andar ao outro se tornaram marcas de ambientes de trabalho de empresas como Google, Facebook e demais companhias inovadoras. O retrato é divertido. Mas não é isso que garante a satisfação e o alto desempenho de funcionários – especialmente os jovens. Essa é constatação da americana Rebecca Cantieri, de 39 anos, vice-presidente de RH da companhia de pesquisas on-line SurveyMonkey, que estuda a gestão de profissionais nas empresas do Vale do Silício, coração californiano da inovação. “O Vale é, sem dúvida, um dos lugares mais inovadores do mundo. Sobretudo pelas práticas de recursos humanos mantidas pelas empresas”, diz Rebecca, que trabalhou durante onze anos no departamento de recrutamento do Yahoo. Para reter os melhores, garante ela, as organizações devem “promover a aproximação entre os profissionais, especialmente entre chefes e subordinados, ouvir os funcionários, valorizá-los e, por fim, manter um clima positivo no ambiente de trabalho”. Na semana passada, a americana esteve em São Paulo para apresentar os resultados de uma pesquisa que ouviu 500 brasileiros com idades entre 18 e 65 anos em todos os estados. Chamou a atenção da especialista o grau a determinação dos profissionais locais em deixar a posição que ocupam atualmente. “Um em cada três entrevistados disse estar disposto a pedir demissão em algum momento dos próximos seis meses. Entre aqueles que têm 25 anos, a taxa é ainda maior: metade quer deixar a organização em que trabalha.” Na entrevista a seguir, a americana comenta a pesquisa e, a partir da experiência no Vale, fala das expectaticas dos jovens profissionais e dos desafios das empresas.

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É comum associarmos empresas do Vale do Silício a escritórios ultramodernos, sem divisórias, onde as mesas de trabalho se misturam a redes de balanço e mesas de ping-pong. Qual é de fato a importância de um ambiente como esse na vida das empresas e de seus funcionários? Nós nos lembramos sempre dessas características desses escritórios porque são os que mais chamam nossa atenção. Contudo, as equipes de recursos humanos não devem desperdiçar energia pensando em inovações nesse sentido. Mesas de ping-pong, salas de descompressão e redes de balanço são itens supérfluos que não definem a cultura de uma empresa. Eles podem até ajudar a atrair candidatos, mas no final de um dia de trabalho o que verdadeiramente conta para felicidade e motivação de um profissional é a relação que ele estabelece com a chefia e o apoio que ele recebe de seus superiores hierárquicos no desenvolvimento de sua carreira. Nenhum grande talento escolhe uma empresa porque ela tem um ambiente legal, mas sim porque acredita que ali ele será capaz de fazer a diferença. Para comprovar isso basta visitar empresas do Vale do Silício que mantêm escritórios considerados menos criativos do que o do Google, mas que são tão bem-sucedidas quanto esse gigante. A Apple é um ótimo exemplo.

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De que forma? Comparemos Apple e Facebook. O Facebook é conhecido por ser uma empresa jovem, despojada e que proporciona muita autonomia a seus funcionários. Eles têm horários flexíveis e, desde que atinjam o objetivo acordado, podem decidir onde e como querem trabalhar. A empresa tem uma cultura considerada progressista e um escritório incrível, com áreas abertas, confortáveis e guloseimas distribuídas à vontade. Já a Apple mantém uma cultura muito mais tradicional, hierarquizada, onde as grandes decisões são tomadas em um nível muito alto de gestão. Toda a energia dos profissionais é voltada para o desenvolvimento de produtos criativos, com designs inovadores, o que, contudo, contrasta com o escritório bastante convencional da companhia. A SAP e a Oracle, desenvolvedoras de software de gestão, seguem o mesmo modelo e são, por isso, consideradas conservadoras. Todas, no entanto, adotam estratégias comuns para engajar e motivar os funcionários, fazendo com que os melhores queiram permanecer.

Que estratégias são essas? Acabamos de concluir uma pesquisa em que investigamos isso junto às equipes de RH de companhias do Vale do Silício. Os resultados podem ser sintetizados em quatro fundamentos: promover a aproximação entre os profissionais, especialmente entre chefes e subordinados, ouvir os funcionários, valorizá-los e, por fim, manter um clima positivo no ambiente de trabalho. Os profissionais, especialmente os da geração Y (nascidos entre 1980 e 1990), querem crescer rapidamente na carreira e, por isso, buscam feedback constante de seus superiores para saber como melhorar a própria performance. Além disso, valorizam organizações que demonstram clareza ao traçar objetivos, ou seja, empresas que explicitem o que é esperado, quais os desafios e metas. Em um ambiente altamente competitivo como o do Vale do Silício, atrair, engajar, desenvolver e principalmente reter os melhores talentos são desafios constantes.

Como os jovens enxergam seus chefes? A relação entre chefes e subordinados é a mais importante dentro de uma empresa. Os gerentes, por exemplo, funcionam como uma espécie de condutor da carreira de seus subordinados: é deles a responsabilidade de definir metas claras e ajudar seus funcionários a atingi-las. Diversas pesquisas mostram que os profissionais, especialmente os mais jovens, têm necessidade de se sentir valorizados pelas organizações e, em algum grau, protegidos por ela. Eles também querem ser liderados por pessoas capazes de auxiliá-los no desenvolvimento pleno de habilidades e competências, ou seja, capazes de ajudá-los a progredir. Em geral, quando um profissional decide deixar uma organização é porque está tendo uma experiência ruim com o chefe. Eles querem se livrar dos chefes, não das empresas.

Qual o peso do salário nesse processo? É evidente que é importante. No entanto, é interessante destacar que para jovens de até 25 anos de idade esta não é principal questão. É compreensível, já que a maior parte deles ainda não tem filhos e nem grandes responsabilidades financeiras. Portanto, estão inteiramente focados na carreira, em identificar o que realmente gostam de fazer e se destacar na área escolhida.

Qual sua avaliação da pesquisa realizada no Brasil acerca da satisfação dos profissionais locais no trabalho? O nível de insatisfação está altíssimo: 76% dos entrevistados disseram que não são recompensados financeiramente por seu trabalho e outros 39%, que não se sentem valorizados. Os números não surpreendem, porque são similares aos medidos nos Estados Unidos. Lá, 70% dos 150.000 profissionais ouvidos mostraram uma visão negativa do próprio emprego. O que nos chamou a atenção no Brasil é que um em cada três entrevistados disse estar disposto a pedir demissão em algum momento dos próximos seis meses. Entre aqueles que têm 25 anos, a taxa é ainda maior: metade quer deixar a organização em que trabalha.

O que as empresas podem fazer para reverter esse cenário? É imprescindível estabelecer uma relação mais próxima com os funcionários, medir o nível de engajamento e satisfação deles, além, é claro, de saber o que eles não gostam na organização. Em resumo: é preciso ouvi-los. Na SurveyMonkey, temos mais de 200 colaboradores e anualmente realizamos uma pesquisa de clima organizacional. O resultado deste ano foi surpreendente: parte dos funcionários pediu melhorias na comunicação interna: querem saber mais sobre os planos, projetos e mudanças. Ninguém falou de remuneração. Todas as reivindicações foram bastante razoáveis e agora estamos trabalhando para atendê-las. Isso é um jeito de mostrar que nos importamos e valorizamos a nossa equipe. Quando o assunto é reter talentos, temos uma pequena lista de ações extremamente eficazes: fornecer um aconselhamento de carreiras, manter gerentes capazes de escolher pessoas certas para funções certas e promover os que demonstram capacidade de lidar com a diversidade e com adversidades. O Vale é, sem dúvida, um dos lugares mais inovadores do mundo. Sobretudo pelas práticas de RH desenvolvidas pelas empresas.

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