Inclusão da USP não beneficia aluno negro
Matrícula de alunos vindos de escolas públicas aumentou 10%, mas porcentual de negros se manteve estável
A política de inclusão de alunos de escolas públicas da Universidade de São Paulo (USP) não tem refletido no acesso de negros à instituição. Entre 2011 e 2012, houve aumento de quase 10% da participação de alunos de escolas públicas nas matrículas, mas o porcentual de estudantes negros e pardos não acompanhou o processo e ficou praticamente estável.
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Tradicionalmente a USP descarta a adoção de qualquer tipo de cota, sempre indicando valorizar exclusivamente o mérito. A instituição entende que o sistema de bônus do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp), voltado a alunos de escola pública, independentemente da cor da pele, já atende às demandas por inclusão. Adotado em 2007, ele dá bônus na nota do vestibular a esses alunos, independentemente da cor da pele.
O diretor da ONG Educafro, frei David Raimundo dos Santos, critica o que ele chama de “falsa meritocracia” da USP. “O mundo é feito de oportunidades. A USP tem plena consciência de que aplica uma meritocracia injusta. Uma universidade pública cobra aquilo que o estado, que é público e financia a universidade, não forneceu a suas escolas”, diz.
Levantamento feito em junho, com dados do vestibular de 2011, mostrou que, em cinco anos, apenas 0,9% – o equivalente a 77 alunos – dos matriculados em medicina, direito e na escola politécnica eram negros. Em medicina, por exemplo, nenhum estudante negro havia passado nos vestibulares de 2011 e 2010.
Perfil dos alunos – A USP sempre sofreu críticas em relação ao perfil dos estudantes que ocupam suas vagas. Mesmo o aumento de quase 10% nas matrículas de alunos de escolas públicas, não provocou mudanças na pirâmide social. Pelo contrário, os dados socioeconômicos da Fuvest mostram que o vestibular 2012 aprovou mais alunos de classes mais abastadas que o de 2011. A participação de estudantes com renda familiar menor diminuiu.
Os inscritos que vêm de famílias com renda média superior a sete salários mínimos, o que significa ganhos acima de R$ 6.220 por mês, representaram 41% do total. Mas, na lista de aprovados, eles garantiram 51% das matrículas. No ano passado, esse grupo representava 48,8% de aprovados. A ponta mais alta da pirâmide também ficou maior em 2012. Cerca de 35% dos ingressantes da USP vêm de famílias com renda acima de dez salários mínimos – com ganhos médios acima de R$ 8.708. No ano anterior, o porcentual era de 33%. Na outra ponta da pirâmide, caiu de 35% para 33% os ingressantes com renda salarial de até cinco salários mínimos – renda de até R$ 3.110. Este grupo representou 44% dos inscritos.
Na tentiva de facilitar o acesso dos mais pobres à instituição, a universidade inaugurou um novo modelo de bonificação para alunos de escola pública: o Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp). Neste ano, o primeiro após a mudança nos critérios, o bônus chegou a até 15%, de acordo com o desempenho do estudante na Fuvest.
(Com Agência Estado)
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