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Em plena era digital, estudantes ainda se apegam ao papel

Nos EUA, geração de alunos se mantém firme aos tradicionais livros impressos

Por The New York Times
24 out 2010, 11h53

Eles enviam torpedos para os amigos o dia inteiro. À noite, fazem pesquisas para as provas trimestrais usando o laptop enquanto batem papo com os pais pelo Skype. Porém, enquanto trilham seus caminhos no Hamilton College, uma escola de artes liberais nos Estados Unidos, os alunos continuam carregando os tradicionais livros de papel, com centenas de páginas – e adoram isso. “No livro, a página não vai simplesmente apagar de uma hora para outra. Não existe vírus”, comenta Faton Begolli, estudante de Boston, que está no segundo ano da faculdade.

Embora o mercado dos livros impressos venha recuando diante da onda de livros digitais, blogs e websites, uma geração de alunos de faculdade se mantém aparentemente firme aos tradicionais livros de papel. Mas toda essa lealdade tem um preço. Livros tradicionais são caros – o custo durante o ano letivo pode variar entre 700 e 900 dólares – e a frustração dos alunos com os gastos, aliado ao surgimento de novas tecnologias, tem resultado num amontoado confuso de opções.

Varejistas como o Amazon e o Textbooks.com vendem livros novos e usados. Eles se juntaram a inúmeros serviços on-line que alugam livros por semestre para estudantes. Cerca de 1.500 livrarias nas faculdades oferecem ainda o aluguel de livros no início do semestre. Em Hamilton, este ano os alunos têm mais uma opção: um site sem fins lucrativos, criado pelo Clube do Empreendedor da faculdade, que permite aos alunos venderem seus livros diretamente a outros estudantes.

A explosão de lojas e formatos – incluindo os livros digitais, que estão cada vez mais sofisticados – deixou alguns alunos confusos. Depois de ter de lidar com a grande lista de obras, os alunos precisam analisar a relação entre custo e comodidade, além de seus próprios hábitos de estudo, e decidir quais textos eles vão querer guardar pelos próximos anos e aqueles que não vão lhes fazer muita falta.

“Depende muito de cada curso”, afirma Victoria Adesoba, estudante de medicina na Universidade de Nova York, na frente da livraria da escola, carregando uma bolsa azul desbotada pendurada nos ombros. “No semestre passado, aluguei alguns livros de psicologia e saiu mais barato. Mas preciso ter alguns livros como os de química orgânica, por exemplo. Os digitais são muito bons, mas é difícil entrar na internet e se esforçar para não cair na tentação e se distrair no Facebook.”

Preferências – Mesmo com a fama de esta geração ser a maior adepta da tecnologia em todos os tempos, parece que os livros de papel não vão cair no esquecimento tão cedo. De acordo com a Associação Nacional de Lojistas de Faculdades, os livros digitais representam apenas 3% da vendas, embora a associação espera que este número aumente entre 10% e 15% até 2012, com a chegada de novos títulos para e-books. Em dois estudos recentes – um feito pela associação e outro pelo grupo de pesquisa da Student Public Interest – três quartos dos alunos entrevistados disseram que ainda preferem um livro comum à versão digital.

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Muitos estudantes ainda insistem em deixar a lado a possibilidade de folhear saboreando devagar cada capítulos, fazer anotações nas margens e destacar trechos com um marcador, ainda que os novos aplicativos tragam ferramentas que permitam aos estudantes fazerem o mesmo nos e-books. “Os alunos cresceram aprendendo nos livros de papel,” afirma Nicole Allen, diretora de campanha de livros tradicionais para o grupo de pesquisa. “Então, à medida que eles fazem essa transição para o ensino superior, não é nenhuma surpresa eles preferirem um formato com que já estão acostumados.”

De fato, muitos alunos em Hamilton são apaixonados pelos volumes pesadíssimos que carregam dos dormitórios à biblioteca, até mesmo quando checam a todo instante as mensagens de texto e e-mails nos smartphones. “Eu acho que o codex foi uma das melhores invenções humanas,” afirma Jonathan Piskor, estudante da Carolina do Norte, no segundo ano na faculdade, usando o termo em latim para livro.

Toda essa paixão pelos livros é uma das razões pela qual a Barnes & Nobles, uma das maiores redes de livrarias dos Estados Unidos, tem trabalhado para desenvolver um novo aplicativo, o NOOKstudy, que permite aos alunos navegarem pelos e-books em Macs e PCs. A empresa, que opera em 636 livrarias universitárias no país, incluindo a de Hamilton, apresentou a versão gratuita do aplicativo em junho, na esperança de atrair mais estudantes a comprar os livros digitais. “A grande barreira é fazer com que eles experimentem”, afirma Tracey Weber, executiva da empresa e vice-presidente para educação e livros digitais.

A empresa está distribuindo “Kits para iniciantes nas faculdade” para alunos que baixam o NOOKstudy durante o começo do semestre com dicas simples e uma dúzia de clássicos como Os Cantos de Cantebury e A Letra Escarlate. O CourseSmart, um consórcio de grandes editoras, permite que os alunos experimentem qualquer e-book gratuitamente por até duas semanas.

Opções – Nem todo livro tradicional está disponível na versão digital ou para aluguel. Em Hamilton, por exemplo, apenas um quinto dos títulos vendidos no início deste semestre são no formato e-book. Numa visita às lojas do câmpus é possível notar a diferença de preços. Um livro jurídico sobre a Constituição, por exemplo, custa 189,85 dólares se for novo, 142,40 dólares o usado e 85,45 dólares para aluguel – geralmente, um e-book é mais barato que um tradicional usado, ainda que mais caro do que o aluguel.

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O custo de livros universitários, que estima-se tenha aumentado quatro vezes acima da inflação nos últimos anos, tem se tornado tão preocupante que alguns políticos estão levantando esta bandeira. No mês passado, o senador de Nova York Charles E. Schumer estimulou as faculdades a colocarem seus livros para aluguel, depois que uma pesquisa feita por seu gabinete em 38 livrarias universitárias de Nova York e Long Island descobriu que 16 delas não dispunham da opção.

Na última quinta-feira, alunos de mais de 40 faculdades em todo o país promoveram o Dia para Livros Acessíveis, organizado pelo grupo de pesquisa da Student Public Interest, para incentivar os membros do corpo docente a trabalharem com livros mais baratos ou que pudessem ser obtidos gratuitamente pela internet.

Vendas – Até agora, comprar livros da maneira tradicional – novos ou usados – ainda prevalece. Charles Schmidt, porta-voz da Associação Nacional de Lojistas de Faculdades, disse que se uma das livrarias nas faculdades vendesse um volume novo por 100 dólares, geralmente compraria o livro usado pela metade do preço ao final do semestre e o colocaria à venda novamente por 75 dólares.

O valor desses livros retornados diminui, entretanto, se o professor remover o livro (ou a edição) da ementa do curso, ou caso a livraria compre mais unidades do que a quantidade necessária para suprir a demanda. Quando Louis Boguchwal, que está cursando o primeiro ano da faculdade de Economia e Matemática em Hamilton, tentasse revender um livro usado de álgebra de 100 dólares, o máximo que conseguiria seriam 15 dólares. “É quase um insulto,” diz ele. “Eles pagam quase nada pelo livro.”

O novo site sem fins lucrativos da Hamilton, getmytextbooks.org. não tem tido muitos acessos: apenas 70 livros foram vendidos no início deste semestre. Mas Jason Mariasis, presidente do Clube do Empreendedor, espera que as vendas cresçam tão logo a novidade se espalhe. O site também lista centenas de outras faculdades.

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