Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Cristiane: ‘O aluno tem algo a dizer. Deixei que me ensinassem’

Finalista do Prêmio Educador Nota 10 resgatou brincadeira antiga com bolinhas de gude e reformulou dinâmica entre professor e estudante

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 out 2017, 14h58 - Publicado em 12 out 2017, 22h20

Logo após ter colado grau na licenciatura em educação física, em 2006, Cristiane Pereira de Souza Francisco, 34 anos, já assumiu o cargo de professora na Escola Estadual Antônio de Oliveira Bueno Filho, em Araraquara, interior de São Paulo. O colégio era visado por ela há tempos. “Eu escolhi trabalhar ali, cresci no mesmo bairro da escola”, conta a profissional, que conquistou a vaga através de um concurso público.

Ao longo dos dez anos ensinando alunos da 1º a 5º série do fundamental, Cristiane apostou na diversidade, experimentando atividades diferentes entre jogos e brincadeiras. Até que, no segundo semestre de 2016, uma pequena alteração no método de trabalho ressignificou sua visão sobre a profissão. A intervenção, batizada de “Projeto Bolinhas de Gude: Descobrindo Outras Formas de Ensinar, Aprendendo Outros Jeitos de Aprender”, resgatou uma antiga brincadeira, que trabalharia a coordenação fina das crianças do 1º ano e mudaria a dinâmica entre professor e aluno, invertendo o protagonismo no momento da aprendizagem.

“Nos projetos anteriores, eu pesquisava e trazia brincadeiras diferentes para as crianças, com regras e modelos definidos. Desta vez, deixei que elas construíssem o conhecimento”, conta Cristiane. “Temos preconceito com crianças, achamos que elas não têm experiência. Mas toda criança tem algo a dizer. Então, deixei os alunos me ensinarem.”

Continua após a publicidade
Cristiane Pereira de Souza Francisco
A professora Cristiane Pereira de Souza Francisco e as bolinhas de gude que agitaram a escola (Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

Cristiane trouxe para a quadra bolinhas de gude. Conversou sobre o material, perguntou quem já tinha brincado com o objeto e questionou se aquilo seria uma brincadeira de meninos ou meninas. Os cerca de trinta alunos nunca tinham interagido realmente com as bolinhas, e apenas quatro acreditavam que o brinquedo era exclusividade dos garotos. Ela deu quatro bolinhas a cada aluno e só fez um pedido: que fossem devolvidas no final da aula. “Foi a chance de resgatar uma brincadeira antiga. E eles brincaram das maneiras mais variadas, menos do meio convencional.” As crianças ficaram focadas no material. Com ele, jogaram futebol, atiraram a bolinha para cima com o intuito de ver quem pegava primeiro, fizeram “golzinho” com os dedos tentando pontuar, malabarismo e até utilizaram a bolinha para brincar de passa-anel.

A experiência, que parte do pressuposto de que a criança não é um recipiente vazio, sem nada a ensinar ao docente, foi ampliada quando a professora pediu que eles pesquisassem em casa brincadeiras novas para ensinar aos colegas.

Continua após a publicidade

“Foi uma maneira de envolver os pais, que raramente conseguem ajudar nas tarefas. A partir desse estudo caseiro, eles trouxeram novas maneiras de praticar a atividade. Algumas eu nem conhecia”, conta. Pesquisas na internet e outra tarefa, que pedia aos alunos que convidassem alguém de seu convívio para brincar, continuaram a acrescentar métodos de se divertir com as bolinhas. Como resultado, além de estimular a criatividade e a coordenação motora dos pequenos, Cristiane trabalhou a socialização dos alunos, que tinham o hábito de brincar isolados ou em grupos pequenos, e envolveu familiares.

“O contexto que temos de educação, de um sistema que não valoriza o professor, faz com que ele acabe não valorizando o aluno. Se tivermos a oportunidade de ouvir mais os alunos e menos burocracia nas escolas, a experiência entre os dois pontos pode ser mais enriquecedora”, diz. Cristiane lembra que deixar as crianças inventarem maneiras de brincar não fez o trabalho dela menor, muito pelo contrário. “Foi mais trabalhoso, houve todo o processo de organizar as aulas e registrar o dia a dia. Mas valeu muito a pena. Os alunos responderam bem e ficaram felizes.”

Cristiane Pereira de Souza Francisco

Continua após a publicidade

Cristiane conquistou com o projeto um lugar entre os dez melhores professores do ano pelo Prêmio Educador Nota 10, promovido pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Ela agora tem a chance de ser vencedora do título Educador do Ano na cerimônia que acontece no dia 30 de outubro, em São Paulo.

Conheça os dez indicados


Adriane Gallo Alcântara da Silva
Assis – SP

Continua após a publicidade


Denise Rodrigues de Oliveira
Novo Hamburgo – RS


Di Gianne de Oliveira Nunes
Lagoa da Prata – MG

Continua após a publicidade


Diogo Fernando dos Santos
Pindamonhangaba – SP


Gislaine Carla Waltrik
União da Vitória – PR


Luana Viegas de Pinho Portilio
Embu das Artes – SP


Rosely Marchetti Honório
São Paulo – SP

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.