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Como melhorar o desempenho dos professores

No Brasil, temos docentes que não possuem preparação adequada e não dominam bem os conteúdos que ensinam e professores que dominam o conteúdo, mas não possuem didática ou experiência para lecionar

Por João Batista Araujo e Oliveira
19 jan 2015, 18h23

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Ensino de qualidade

Este artigo faz parte de uma série publicada quinzenalmente em VEJA.com sobre os desafios do ensino fundamental no Brasil – e as estratégias para superá-los.

Os textos são de autoria do Instituto Alfa Beto, que promove o Prêmio Prefeito Nota 10, iniciativa que vai identificar e recompensar o município brasileiro que mantém a melhor rede de ensino. A premiação será realizada no primeiro semestre.

Prêmio Prefeito Nota 10 Instituto Alfa Beto

Este é o sexto de uma série de dez artigos a respeito de medidas eficazes que o prefeito pode implementar a curto prazo, com poucos recursos, como estratégia de inicar um processo de mudança. Nenhuma dessas medidas, isoladamente ou mesmo em conjunto, assegura a formação de uma rede de ensino de alta qualidade. Mas todas elas constituem ações relevantes em si mesmo, e que, se bem implementadas, podem servir de campo de aprendizagem e de capital político para implementar reformas mais profundas.

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Leia os artigos anteriores da série

​O maior problema da educação brasileira é a qualidade do ensino: conseguir ensinar de forma que os alunos consigam aprender. O primeiro passo é o mais simples e foi tema de artigos publicados neste espaço: o município deve definir o programa de ensino, ou seja, o que deve ser ensinado em cada série. O segundo passo é nosso tema de hoje – ter professores capazes de ensinar.

No Brasil, podemos simplificar o problema em duas situações. A mais comum é a dos professores que não possuem preparação adequada e não dominam bem os conteúdos que ensinam. Isso já foi comprovado por diversas pesquisas e não é novidade, mas nem sempre é reconhecido. A outra situação, mais rara, é a de professores que dominam o conteúdo, mas não possuem didática ou experiência.

Existem outros problemas que afetam o ensino, mas sem professores preparados não adianta resolver outras pendências. E também existem problemas de professores relapsos, ausentes, sem motivação. Mas esses são problemas menores face ao problema principal, que é a qualidade do professor. O que o prefeito pode fazer?

O caminho usual no Brasil é promover capacitações de professor. O Brasil é useiro e vezeiro nisso – é o campeão mundial em capacitação. Qualquer que seja o problema, criam-se cursos e mais cursos. O resultado é conhecido: zero. Por quê? A razão é simples: o buraco é mais embaixo.

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A outra estratégia equivocada é delegar a esses professores – que não possuem preparação adequada – decisões sobre currículos, pedagogias e materiais. O ideal de autonomia pedagógica confunde-se com a realidade em que não há condições para o exercício dessa autonomia. E isso causa prejuízos ao aluno. O que o prefeito pode fazer?

Vamos separar os problemas. Comecemos pelo caso mais simples – mas infelizmente, o mais raro: os professores dominam bem o conteúdo. Nesse caso há duas soluções conhecidas. A de longo prazo é instituir bons mecanismos de estágio probatório, um mecanismo de certificação que assegure que o professor efetivado tenha não só o domínio teórico, mas também o domínio prático do ensino. Hoje, o Brasil tem dificuldade nisso porque temos muitos doutores, mas poucos mestres, poucos professores que podem servir de tutores experientes. Resta a solução de curto prazo: treinar os professores em técnicas específicas voltadas para o ensino de suas disciplinas. Existem alguns modelos bem testados e conhecidos – como o da KIPP, o da Khan Academy ou o modelo CLASS – todos eles difundidos no Brasil. Se o professor domina bem os conteúdos, essas estratégias podem funcionar, pois os professores eficazes são aqueles que usam técnicas eficazes de ensino.

O caso mais complicado é o dos professores que não dominam os conteúdos. E isso abrange a maioria deles. Conteúdos levam tempo para serem aprendidos. É por isso que capacitações não funcionam pois faltam as bases. A única solução conhecida, reconhecida e testada nesses casos se chama “sistemas de ensino estruturado”. Nesse tipo de solução, o professor recebe materiais bem elaborados, voltados para os alunos, associados com instruções claras e específicas sobre o que o professor deve fazer antes, durante e depois das aulas. Há evidências de que esses sistemas, quando bem implementados, podem levar ao aumento significativo no desempenho dos alunos e na motivação do professor.

O grande erro das estratégias genéricas de capacitação é superestimar a capacidade do professor e esperar que ele consiga absorver em poucas semanas ou meses conteúdos que levam uma vida escolar para aprender. Ou esperar que, mesmo sem um conhecimento profundo do que deve ensinar, ele saberá tomar decisões pedagógicas. Ou, ainda, que ele será capaz de ensinar o que não sabe e fazer escolhas pedagógicas sem conhecer bem os conteúdos. O grande acerto das estratégias de ensino estruturado é calibrar os desafios de forma que o professor tenha segurança para ensinar o que é possível ensinar, da melhor forma possível, apesar de eventuais limitações.

Fazer o melhor uso das capacidades dos professores é o maior entrave ao desenvolvimento da educação no Brasil. De um lado sabemos que escolas boas precisam de autonomia. Mas de outro sabemos que a escola só pode ter autonomia quando os professores são efetivamente autônomos e preparados para exercitá-la. Para começar a melhorar a educação é preciso entender a necessidade de adotar uma estratégia realista e gradual, dando aos professores que aí estão condições efetivas de trabalho. E criando recursos e espaços para se desenvolver novas carreiras em que todos os professores já entram para a rede de ensino bem preparados, e em condições de exercer sua autonomia.

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João Batista Araujo e Oliveira é presidente do Instituto Alfa Beto

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