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As duas faces da universidade

Elas são revolucionárias para fora e reacionárias para dentro

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 8 nov 2019, 09h59 - Publicado em 8 nov 2019, 06h00

Desde o pós-guerra, as grandes universidades da América Latina tiveram um relevante protagonismo político e ideológico. Diante de sociedades pouco educadas e passivas, as faculdades mostraram sua face pioneira. Movimentaram-se cabeças e corpos em torno de temas candentes. Defenderam-se ideias nobres. Seu ativismo extramuros age como o superego da sociedade, denunciando equívocos e problemas no seu funcionamento. Isso é mais que bem-­vindo. Contudo, elas apoiaram também ideias tolas e, às vezes, atrasadas.

Com Fidel Castro, a partir de 1959, os movimentos saíram para as ruas. Afinal, se a Revolução fora possível em Cuba… Com a emergência de regimes militares, as confrontações adquiriram mais foco. Eram os estudantes, idealistas e de esquerda, lutando contra os militares opressores. Paralelamente à indiferença da sociedade, houve uma progressão do conflito, de palavras para pancadarias nas ruas. Nesse ambiente, a direita se manteve inexplicavelmente silenciosa. Era gauche ser de direita.

Vale lembrar uma ironia desses movimentos. Karl Marx pregava a luta armada do proletariado contra a burguesia. Foi exatamente isso que aconteceu, mas com sinal trocado. O proletariado eram os soldados e policiais, agindo em nome da lei. Protestavam os universitários de classe alta, alunos das universidades mais elitizadas. Era a burguesia atacando o proletariado.

Há algo de paradoxal na agressividade dos movimentos. A esquerda brasileira bradava contra um governo militar que havia drasticamente modernizado o país, trazia grande prosperidade e promovia o crescimento das universidades a um ritmo desconhecido até então. Passadas quatro décadas, sobrevive o marxismo como o “ópio dos intelectuais”. A esquerda tornou-se velha e ranheta. Evaporou-se a agenda positiva de outrora. É interessante observar uma mudança de centro de gravidade. Os alunos é que protestavam. Mas, progressivamente, os professores assumiram o protagonismo desses movimentos. E mostravam a outra face do ativismo, voltada para dentro. No entanto, há uma série de problemas.

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Na avaliação das escolas, eficiência e produtividade são palavras satânicas

Como não tachar de idiota a oposição maciça a todas as iniciativas de modernização das universidades públicas? Há uma rejeição automática a regras comuns e correntes nas universidades que se destacam pela sua excelência na pesquisa e no ensino. Os quadros administrativos, os sindicatos e as associações docentes são contra avaliar alunos, avaliar professores, o princípio da meritocracia, a flexibilidade e autonomia orçamentária e as aproximações com o setor produtivo. Eficiência e produtividade são palavras satânicas. O fervor revolucionário e modernizante, pregado para a sociedade, não se materializa portas adentro. As universidades têm substanciais realizações, incluindo um copioso fluxo de pesquisas. Aqui apenas examinamos o ativismo de uma minoria (que pouco se destaca na área acadêmica). Ora ela esposou temas nobres, ora teses atrasadas. Em contraste, na sua face interna, jamais deixou de vociferar contra as mudanças requeridas para acompanhar as boas práticas das melhores universidades do mundo. Revolucionária para fora e reacionária intramuros.

Publicado em VEJA de 13 de novembro de 2019, edição nº 2660

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