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A nova cor do ensino médio

O governo anunciou uma reviravolta no falido modelo que vigora no Brasil. Bem aproveitada, pode ser uma chance de tornar a escola mais flexível e atraente

Por Cecília Ritto e Monica Weinberg
Atualizado em 25 set 2016, 13h03 - Publicado em 23 set 2016, 22h34

A casa da família Neves, na Zona Oeste carioca, é como todas as outras em que um dos filhos convive com os percalços do ensino médio. Aos 17 anos e às vésperas de rea­li­zar a prova do Enem, o principal passaporte para o ingresso na universidade, Letícia se equilibra na angústia. Quer fazer medicina, uma dureza para entrar mesmo estando matriculada em um dos melhores colégios particulares do Rio de Janeiro, o A a Z. Seus pais, advogados e testemunhas diárias da maratona, contam que receberam na semana passada um sopro de esperança. Não por Letícia, mas pelo filho mais novo, Gabriel, de 14 anos. Se tudo correr como o esperado, o garoto, que sonha virar engenheiro, terá pela frente uma vida escolar bem diferente e, quem sabe, mais adequada aos novos tempos.

Na quinta-feira 22, o governo lançou uma medida provisória em Brasília com uma notícia que teve o efeito de um tsunami sobre pais, estudantes, professores e círculos especializados: o velho ensino médio será posto do avesso (entenda as principais mudanças no quadro da página ao lado). Instantaneamente, o assunto suplantou qualquer outro nas redes sociais e gerou dúvidas e mais dúvidas. A mais básica é se a proposta do governo deve ou não ser celebrada. Se as promessas que a MP embute se concretizarem, sim, haverá extraordinários avanços a partir de 2018. Mas prestemos bastante atenção no “se”. Independentemente do matiz ideológico, direita ou esquerda, não importa de que lado se esteja, há uma constatação unânime: o ensino médio brasileiro, público e particular, é engessado, ineficiente e desconectado do século XXI. É profundamente ineficaz. “É um dos piores do planeta”, diz o economista Claudio de Moura Castro, articulista de VEJA.

Uma soma de erros explica o fiasco que enrubesce o Brasil a cada ranking. Um dos mais gritantes é a inflexibilidade do modelo em vigor, um ponto central que o governo ataca. Quem abriga um adolescente em casa com gosto pelas artes acompanha o martírio de vê-lo desbravar a fundo os labirintos da química orgânica. Outro, com vocação para as ciências, como Letícia Neves, que sonha em ser médica, pena com as minúcias da geografia. Não é que não possam expandir seu leque de interesses. Isso é inclusive desejável. O problema é o extremo que o atual modelo impõe: a obrigatoriedade de aprender quase tudo sobre quase tudo, à revelia de interesses, aptidões e projetos pessoais. Um afiado olhar de fora já percebia a distorção nos anos 1950. Em viagem ao Brasil, o americano Richard Feynman, prêmio Nobel de Física, desconstruiu o que na superfície parecia interessante. Observou que nunca vira “um currículo tão extenso e jovens que sabiam tão pouco”.

É esse abacaxi que o novo pacote pretende descascar ao pôr de pé um sistema que deu certo em países como Austrália e Inglaterra. O aluno con­ti­nua­rá a percorrer uma grade fixa de disciplinas, igual para todo mundo, mas ela agora ocupará a metade do tempo na escola. A outra metade será preenchida pelo estudante segundo suas predileções. A esta altura, muita gente pode estar se indagando se o novo desenho não levará à repetição da antiga divisão entre científico e clássico, do tempo de nossos pais e avós. Não. A nova fórmula rompe com a ideia de separações estanques e permite traçar roteiros tão diversos na escola que dá até para cursar matérias por semestre, como acontece na universidade.

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Como uma única escola abrirá a um mundaréu de alunos caminhos tão distintos? No caso das redes públicas, caberá às secretarias estaduais definir quais opções cada colégio oferecerá, a depender dos pendores locais. A escolha, evidentemente, será limitada. Por exemplo: uma escola pode oferecer, além da grade fixa, aulas de mecânica e programação de sistemas, enquanto outra pode disponibilizar história da arte e teatro — mas nenhuma oferecerá tudo. “Precisaremos de um rearranjo do sistema”, diz Maria Helena Guimarães, secretária executiva do Ministério da Educação. Não será simples nem automático.

 

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