Yunus vai à justiça contra banco central bengalês
Pioneiro do microcrédito reiterou sua percepção de que o banco central não tinha autoridade suficiente para afastá-lo do Grameen Bank
O embate entre o Nobel da Paz de 2006 e banqueiro indiano, Muhammad Yunus, e o governo de Bangladesh chegou à Justiça nesta quinta-feira. De acordo com o jornal britânico Financial Times, Yunus recorreu à corte bangalesa para contestar a legalidade das ações do banco central do país, que, nesta quarta-feira, o privou de exercer a função de diretor-geral do banco de microcrédito que ele próprio fundou, o Grameen Bank. Nenhum veredito será dado pela justiça local até esta segunda-feira.
Em carta enviada ao tribunal, Yunus reiterou sua percepção de que o banco central de Bangladesh – regulador do setor financeiro do país – não tem autoridade suficiente para lhe arrancar o cargo. “Ele foi retirado do posto sem que houvesse qualquer aviso prévio, o que viola os princípios básicos da justiça”, disse ao Financial Times, Asif Nazrul, professor de direito da Universidade de Dhaka.
Segundo o jornal britânico, nove membros do conselho do Grameen Bank mostraram-se, por meio de carta escrita à suprema corte, empenhados em apoiar Yunus nesta batalha judicial.
O apelo feito à corte por Yunus e pelo conselho do Grameen Bank pode ser apenas o começo de uma longa e árdua disputa pelo controle do banco. “É possível que, sem Yunus por perto, as operações do banco estejam ameaçadas. A razão pela qual ele nunca planejou uma sucessão deve-se ao fato de sempre ter monopolizado o controle da empresa. Este é o seu maior fracasso”, declarou ao Financial Times um homem de negócios que preferiu não ser identificado.
Acusações – Demitido nesta quarta-feira da diretoria-geral do Grameen Bank, Muhammad Yunus foi acusado de ter chegado à direção do banco sem o devido consentimento da instituição. Alguns bengaleses, no entanto, não descartam a possibilidade de Yunus ter sido alvo de uma campanha política promovida pela primeira-ministra Sheikh Hasina Wajed, que entre outras coisas, acredita que o microcrédito tem “sugado o sangue dos pobres”.